O velho Brizola, numa reunião de campanha eleitoral, em 1989, na casa de Chico Buarque, quando lhe perguntaram o que faria ao chegar ao poder, disse naquele estilo desconcertante que o marcava: - Vou consultar os poetas! Creio que ali, como em tantas outras vezes, ele fazia uma síntese do que era dar a um desejo, um sentimento, um amor, a uma crença, a forma trabalhosa e burilada de um trabalho, de algo que exige ferramentas, habilidades e suor, sem prescindir jamais do sonho. A política, para os que crêem nela como forma de materializar o desejo humano, é igualmente assim. Requer trabalho, esforço, arrependimento, exige riscos e rabiscos para que vá tomando sua forma. Frequentemente está aquém dos sentimentos imensos que se busca expressar. Mas está sempre muito, muito além da simples e bruta enunciação de intenções. Porque – viva o poeta! – há distância entre intenção e gesto. O gesto político está para a vontade de mudar como o verso está para o sentimento. É o que con