Pular para o conteúdo principal

Varíola dos macacos: qual o perfil dos infectados e como isso pode mudar com avanço da doença André Biernath - @andre_biernath Da BBC News Brasil em Londres - 28 julho 2022

 

O monkeypox visto em microscópio eletrônico

CRÉDITO,CDC/REUTERS

Legenda da foto,

O monkeypox visto em microscópio eletrônico

Homens que fazem sexo com outros homens, gays e bissexuais com menos de 40 anos são os mais afetados pelo vírus monkeypox nos primeiros meses desde que os casos começaram a se espalhar pelo mundo.

Especialistas alertam que, no entanto, isso não significa que outros indivíduos estão livres da ameaça: conforme o vírus da varíola dos macacos se espalha mundo afora, a tendência é que ele infecte cada vez mais pessoas que não se encaixam nesse perfil inicial.

    Nos Estados Unidos, por exemplo, já foram detectados os dois primeiros casos dessa infecção em bebês.

    "É questão de semanas para começarmos a ver mais casos em outros grupos, como heterossexuais ou crianças", antevê o médico sanitarista Nésio Fernandes, presidente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

    "Essa é a evolução natural esperada para a doença", complementa 

    O perfil atual dos mais afetados pelo monkeypox

    Uma das principais pesquisas a avaliar essa questão foi publicada recentemente no periódico The New England Journal of Medicine.

    Nela, especialistas da Universidade Queen Mary de Londres, em parceria com diversas outras instituições britânicas, avaliaram 528 casos de monkeypox que ocorreram entre abril e junho em 16 países diferentes.

    Pule Podcast e continue lendo
    Os números mostram que 98% dos pacientes se declararam gays, bissexuais ou homens que fazem sexo com outros homens. Três quartos deles se diziam brancos e 41% eram HIV positivo.

    A idade média dos indivíduos avaliados era de 38 anos e 95% tinham a relação sexual como a principal suspeita de contato com o monkeypox.

    A respeito dos sintomas, o estudo descobriu que 95% apresentaram irritação na pele (dois terços tinham menos de dez lesões).

    Em 73% dos participantes, o local de aparecimento das feridas foi a região do ânus e dos genitais, enquanto 41% possuíam irritações na mucosa da boca.

    Entre os sintomas gerais, 62% dos pacientes tiveram febre. Outros sinais comuns foram inchaços dos linfonodos ou "ínguas" (apareceu em 56% dos participantes), letargia (41%), dor muscular (31%) e dor de cabeça (27%).

    A média de incubação, ou o tempo entre o contato com o vírus e o aparecimento dos sintomas, foi de sete dias. Mas alguns indivíduos demoraram de três a até 20 dias para ter as primeiras manifestações do monkeypox.

    Informar sem estigmatizar

    Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil esclarecem que não faz sentido encarar apenas gays, bissexuais e homens que fazem sexo com outros homens como grupo de risco para essa condição.

    "A concentração de casos nesses indivíduos é uma coisa do momento e toda doença tem uma dinâmica própria", aponta o médico Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

    "Já temos pelo menos de 70 a 80 crianças no mundo com diagnóstico de monkeypox, sendo que metade delas tem menos de quatro anos", calcula o especialista, que também é professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

    Vale lembrar aqui que a principal forma de transmissão do monkeypox é o contato direto com as feridas de alguém infectado. Por isso que a relação sexual, onde há fricção pele a pele, tem se mostrado como uma das fontes de contágio mais frequentes.

    Mas esse vírus também pode ser passado por meio de gotículas de saliva ou através de objetos contaminados, como louças, toalhas e lençóis.

    Profissional de saúde vacinando homem contra o monkeypox

    CRÉDITO,REUTERS

    Legenda da foto,

    Vacinação contra o monkeypox já está acontecendo em alguns países do Hemisfério Norte

    Uma quarta maneira de pegar o monkeypox se dá pela proximidade com animais que carregam o patógeno — essa, aliás, é uma das principais formas de transmissão nas regiões da África onde o vírus é endêmico há décadas, especialmente em áreas silvestres.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve que esse modo de infecção pode ocorrer pelo contato direto com sangue, fluidos corporais e lesões cutâneas de animais infectados, como roedores e primatas.

    Na avaliação da infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, todas essas formas de transmissão (especialmente o sexo, a saliva e os objetos contaminados, que espalharam a doença por vários países) significam que "mais cedo ou mais tarde, o monkeypox vai criar cadeias de transmissão em outros subgrupos".

    "Não se trata de uma doença restrita apenas a um perfil ou outro", diz.

    "E parece que estamos com tanto medo de estigmatizar alguns grupos que deixamos de oferecer a orientação adequada para aqueles que estão sob maior risco no momento", opina a médica.

    Como proteger a si e aos outros

    O primeiro passo é ficar atento aos sintomas e buscar a avaliação médica se eles aparecerem.

    "Qualquer lesão que comece com um edema ou uma pequena vermelhidão e evolua para uma placa, tenha líquido, forme ferida e crostas, pode ser monkeypox", descreve Barbosa.

    Essas manifestações pode aparecer no ânus, nos genitais, no rosto e nas mãos.

    "Essa lesão também pode ser acne, herpes, herpes-zóster ou uma série de outras coisas. Mas, na dúvida, é importante procurar atendimento médico e fazer um teste", complementa.

    Alguns exemplos de lesões sugestivas de monkeypox

    CRÉDITO,REUTERS

    Legenda da foto,

    Alguns exemplos de lesões sugestivas de monkeypox

    Caso o exame confirme a presença desse agente infeccioso mesmo, os profissionais de saúde recomendam fazer um isolamento e evitar o contato próximo com outras pessoas até que as feridas estejam completamente cicatrizadas (mesmo a casquinha delas ainda carrega vírus).

    Ao limitar a interação, o paciente diminui o risco de transmitir o vírus adiante e evita a criação de novas cadeias de contágio na comunidade.

    Na maioria das vezes, o quadro evolui bem e a pessoa se recupera depois de algumas semanas. O estudo britânico revelou que 13% dos pacientes acompanhados precisaram ficar no hospital, sendo que as principais razões de internação foram dor severa no ânus e no reto, infecções oportunistas e, mais raramente, faringite, lesões oculares, crise aguda renal e miocardite (um tipo de inflamação no coração).

    Alguns países, como Reino Unido, Espanha e Estados Unidos, já iniciaram uma campanha de vacinação contra o monkeypox, mas ainda não há previsão de quando as primeiras doses devem chegar ao Brasil.

    Por ora, ainda não está claro se a camisinha ajuda a proteger contra esse vírus — embora o uso de preservativos continue a ser primordial para impedir a transmissão de várias infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como HIV, sífilis, gonorreia e algumas hepatites.

    Numa entrevista coletiva recente, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também orientou que os grupos onde a doença é mais frequente no momento limitem temporariamente o número de parceiros sexuais.

    "Para homens que fazem sexo com homens, isso significa fazer escolhas mais seguras para você e para os outros", declarou.

    Andy Seale, conselheiro da OMS em HIV, hepatites e ISTs, disse esperar que essa orientação seja válida por um prazo curto. "Nossa esperança é que esse surto não dure muito."

    Comentários

    Postagens mais visitadas deste blog

    Carta das Centrais Sindicais ao Presidente Bolsonaro

    “EXMO. SR. JAIR MESSIAS BOLSONARO MD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL BRASÍLIA – DF Senhor Presidente, As Centrais Sindicais que firmam a presente vem, respeitosamente, apresentar-se à Vossa Excelência com a disposição de construir um diálogo em benefício dos trabalhadores e do povo brasileiro. Neste diálogo representamos os trabalhadores, penalizados pelo desemprego que atinge cerca de 12,4 milhões de pessoas, 11,7% da população economicamente ativa (IBGE/PNAD, novembro de 2018) e pelo aumento da informalidade e consequente precarização do trabalho. Temos assistido ao desmonte de direitos historicamente conquistados, sendo as maiores expressões desse desmonte a reforma trabalhista de 2017, os intentos de reduzir direitos à aposentadoria decente e outros benefícios previdenciários, o congelamento da política de valorização do salário mínimo e os ataques à organização sindical, as maiores expressões deste desmonte. Preocupa-nos sobremaneira o destino da pol

    19 Exemplos de publicidade social que nos fazem pensar em problemas urgentes - POR: INCRÍVEL.CLUB

    Criadores de propagandas de cunho social têm um grande desafio: as pessoas precisam não apenas notar a mensagem, mas também lembrar dela. Você deve admitir que, mesmo passados vários anos, não consegue tirar da cabeça algumas peças publicitárias desse tipo, que fizeram com que passasse a enxergar determinadas situações sob uma outra ótica. Se antes as propagandas sociais abordavam tmas como a poluição do meio ambiente com plástico e o aquecimento global, hoje existem campanhas sobre os perigos do sedentarismo, os riscos que o tabagismo representa aos animais em decorrência do aumento de incêndios florestais e até sobre a importância das férias para a saúde humana. São, portanto, peças que abordam problemas atuais e familiares para muita gente. Neste post, o  Incrível.club  mostra a você o que de melhor foi criado recentemente no campo das propagandas de cunho social. Fumar não é prejudicial apenas à sua saúde, mas também aos animais que vivem em áreas que sofrem com incênd

    Empresas impõem regras para jornalistas

    REDE SOCIAIS Por Natalia Mazotte em 24/5/2011 Reproduzido do Jornalismo nas Américas http://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ , 19/5/2011, título original: "Site de notícias brasileiro adota regras para o uso das redes sociais por jornalistas"; intertítulo do OI Seguindo a tendência de veículos internacionais , o site de notícias UOL divulgou aos seus jornalistas normas para o uso de redes sociais , de acordo com o blog Liberdade Digital. As recomendações se assemelham às já adotadas por empresas de notícias como Bloomberg , Washington Post e Reuters : os jornalistas devem evitar manifestações partidárias e políticas, antecipar reportagens ainda não publicadas ou divulgar bastidores da redação e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do site. Segundo um repórter do UOL, os jornalistas estão tuitando menos desde que as diretrizes foram divulgadas . "As pessoas estão tuitando bem menos. Alguns cogitam deletar seus p