Pular para o conteúdo principal

Após investigação da BBC, chinês é preso acusado de espalhar vídeos racistas com crianças africanas - Peter Jegwa Lilongwe, Maláui 21 junho 2022

Lu Ke

Legenda da foto,

Cinegrafista Lu Ke afirma ter produzido os vídeos para disseminar a cultura da China

A polícia prendeu um cinegrafista chinês sob acusação de racismo e exploração de crianças do Maláui, no sudeste da África. Lu Ke morava no país quando o programa Africa Eye da BBC revelou que ele usava crianças locais para vídeos de felicitações personalizados, muitos com conteúdo racista em um idioma que elas não entendem.

Esses vídeos eram vendidos por até R$ 350 em plataformas de rede social da China.

O acusado nega que tenha produzido vídeos com conteúdo degradante, e afirma que os produzia a fim de espalhar a cultura chinesa na comunidade local.

Mas em um deles, por exemplo, um grupo de crianças é orientado pelo cinegrafista a repetir em mandarim insultos racistas como "Sou um monstro negro! Tenho um QI baixo".

Enquanto era filmado com uma câmera escondida por um jornalista (não identificado como tal), Lu Ke admitiu a produção dos vídeos, mas imediatamente depois ele nega.

Cena do vídeo em que as crianças gritam: 'Sou um monstro negro'
Legenda da foto,

'Sou um monstro negro', repetem as crianças no vídeo

Durante a conversa, ele afirma: "Nunca tenha pena deles, você tem que se lembrar disso. Nunca tenha pena deles. Não importa sua situação familiar, nunca tenha pena deles. É assim que você deve tratar os negros".

Em uma das conversas gravadas com a câmera escondida, ele aparece se gabando de gravar mais de 380 vídeos em um único dia, algo que representaria um rendimento de pelo menos US$ 11 mil em menos de 24 horas.

O caso começou a ser investigado pela polícia do Maláui na semana passada, depois que a BBC publicou o material, mas o cinegrafista chinês esteve foragido por dias, até ser localizado em um país vizinho, a Zâmbia, na cidade de Chipata.

Pule YouTube post, 1
Legenda do vídeo,Alerta: Conteúdo de terceiros pode conter publicidade

Final de YouTube post, 1

Segundo o porta-voz do Departamento de Imigração e Cidadania Pasqually Zulu, os dois países estão negociando a deportação de Lu Ke para o Maláui, a fim de dar prosseguimento à investigação.

Quando o caso veio à tona, um diplomata chinês de alto escalão, Wu Peng, disse ter discutido o assunto com colegas do Maláui, reforçando que a China era contrária a qualquer tipo de discriminação e informando que o país estava tomando providências para derrubar esse tipo de conteúdo das redes sociais.

"A China tem combatido esses atos online ilegais nos últimos anos", tuitou ele. "E nós vamos continuar combatendo esses vídeos racistas no futuro também."

As pistas que levaram ao responsável pelos vídeos

Esses vídeos degradantes, ligados a uma categoria popular de conteúdo na China, começaram a surgir nas redes sociais em fevereiro de 2020.

Após meses de investigações meticulosas e análises forenses do vídeo, os repórteres Runako Celina e Henry Mhango, da equipe do programa de TV Africa Eye, da BBC, conseguiram encontrar algumas respostas para tentar revelar a história por trás da gravação.

Por meio de elementos geográficos, topográficos e de sinalização, os especialistas (com apoio do repórter investigativo Henry Mhango) conseguiram identificar que o vídeo do QI havia sido gravado em uma pequena cidade rural do Maláui, no sudeste da África.

Um homem oferece batata frita para crianças na África
Legenda da foto,

Muitos dos vídeos de Susu continham conteúdo degradante, zombando da pobreza das pessoas na África.

Pule Podcast e continue lendo
Mhango descobriu que Lu Ke chegara para viver na região havia alguns anos e que tinha gravado centenas de vídeos com a população local.

Segundo contaram moradores da cidade, eles o receberam acreditando que tinha vindo ensinar os pequenos a falar mandarim.

Além disso, dizem os repórteres, não é incomum ver hoje cidadãos chineses no Maláui.

Devido ao crescente esforço de Pequim para expandir sua influência na África — por meio de investimentos em infraestrutura e a presença de empresas e tecnologias chinesas —, os moradores locais começaram a se acostumar com a presença de estrangeiros no país.

Isso também levou alguns residentes a acreditar que, por meio dos vídeos, Lu Ke conseguiria trazer ajuda econômica da China para melhorar as condições da população empobrecida. Mas acabaram frustrados ao saberem pela BBC da real intenção do produtor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carta das Centrais Sindicais ao Presidente Bolsonaro

“EXMO. SR. JAIR MESSIAS BOLSONARO MD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL BRASÍLIA – DF Senhor Presidente, As Centrais Sindicais que firmam a presente vem, respeitosamente, apresentar-se à Vossa Excelência com a disposição de construir um diálogo em benefício dos trabalhadores e do povo brasileiro. Neste diálogo representamos os trabalhadores, penalizados pelo desemprego que atinge cerca de 12,4 milhões de pessoas, 11,7% da população economicamente ativa (IBGE/PNAD, novembro de 2018) e pelo aumento da informalidade e consequente precarização do trabalho. Temos assistido ao desmonte de direitos historicamente conquistados, sendo as maiores expressões desse desmonte a reforma trabalhista de 2017, os intentos de reduzir direitos à aposentadoria decente e outros benefícios previdenciários, o congelamento da política de valorização do salário mínimo e os ataques à organização sindical, as maiores expressões deste desmonte. Preocupa-nos sobremaneira o destino da pol

19 Exemplos de publicidade social que nos fazem pensar em problemas urgentes - POR: INCRÍVEL.CLUB

Criadores de propagandas de cunho social têm um grande desafio: as pessoas precisam não apenas notar a mensagem, mas também lembrar dela. Você deve admitir que, mesmo passados vários anos, não consegue tirar da cabeça algumas peças publicitárias desse tipo, que fizeram com que passasse a enxergar determinadas situações sob uma outra ótica. Se antes as propagandas sociais abordavam tmas como a poluição do meio ambiente com plástico e o aquecimento global, hoje existem campanhas sobre os perigos do sedentarismo, os riscos que o tabagismo representa aos animais em decorrência do aumento de incêndios florestais e até sobre a importância das férias para a saúde humana. São, portanto, peças que abordam problemas atuais e familiares para muita gente. Neste post, o  Incrível.club  mostra a você o que de melhor foi criado recentemente no campo das propagandas de cunho social. Fumar não é prejudicial apenas à sua saúde, mas também aos animais que vivem em áreas que sofrem com incênd

Empresas impõem regras para jornalistas

REDE SOCIAIS Por Natalia Mazotte em 24/5/2011 Reproduzido do Jornalismo nas Américas http://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ , 19/5/2011, título original: "Site de notícias brasileiro adota regras para o uso das redes sociais por jornalistas"; intertítulo do OI Seguindo a tendência de veículos internacionais , o site de notícias UOL divulgou aos seus jornalistas normas para o uso de redes sociais , de acordo com o blog Liberdade Digital. As recomendações se assemelham às já adotadas por empresas de notícias como Bloomberg , Washington Post e Reuters : os jornalistas devem evitar manifestações partidárias e políticas, antecipar reportagens ainda não publicadas ou divulgar bastidores da redação e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do site. Segundo um repórter do UOL, os jornalistas estão tuitando menos desde que as diretrizes foram divulgadas . "As pessoas estão tuitando bem menos. Alguns cogitam deletar seus p