A maior empresa de cigarros do Reino Unido afirmou que enxerga a maconha como parte de seu futuro, à medida que tenta deixar de vender o tabaco tradicional.
A British American Tobacco (BAT) disse que deseja "acelerar" sua transformação reduzindo o impacto de seus produtos na saúde.
Em março, a BAT adquiriu uma participação na fabricante canadense de cannabis medicinal Organigram.
A companhia também assinou um acordo para pesquisar uma nova gama de produtos de cannabis para adultos, inicialmente focada em canabidiol (CBD), usado em uma série de tratamentos de saúde.
"Enquanto pensamos em nosso portfólio para o futuro, certamente além da nicotina, os produtos (de cannabis) são interessantes para nós como outra onda de crescimento futuro", disse o executivo da BAT, Kingsley Wheaton, à BBC Rádio 4.
Wheaton, diretor de marketing da BAT, afirmou que via os produtos relacionados à maconha como parte de seu crescimento futuro. A empresa está testando um produto com vapor de CBD em Manchester.
"Eu acho que [vaporizar o CBD] é parte do futuro, mas o desafio atual é reduzir os danos nas alternativas de tabaco e nicotina, encorajando as pessoas a mudar."
No primeiro semestre, a gigante do tabaco teve um aumento de receita de 8,1%, chegando a £ 12,18 bilhões (cerca de R$ 92 bilhões).
Ela disse que mais de um terço de sua receita no Reino Unido agora vem de marcas como Vuse, Velo e glo.
A gigante tabagista também ganhou muitos novos clientes, principalmente com usuários de produtos sem combustão — como vapes — saltando de 2,6 milhões para 16,1 milhões de fumantes.
Mudança no modelo
As grandes empresas tabagistas tentaram melhorar sua imagem com os investidores na última década. Eles tentam chamar a atenção para esforços com o objetivo de se livrar de cigarros prejudiciais à saúde, ao mesmo tempo em que os grandes pagamentos de dividendos aos acionistas ainda dependem das vendas de cigarros tradicionais.
Esse equilíbrio agora mudou decisivamente — pelo menos na publicidade das empresas.
Primeiro, a Philip Morris International e agora a BAT tentaram publicizar uma mudança para novos tipos de produtos menos nocivos à saúde, como tabaco vaporizado, aquecido em vez de queimado e, no caso da BAT, a cannabis.
Há avanço nesse sentido. O resultado semestral da BAT mostra que as vendas de produtos da "nova categoria" cresceram 50%, para £ 942 milhões (cerca de R$ 7 bilhões). Isso ainda é uma fração de sua receita total de £ 12 bilhões (R$ 91 bilhões).
O volume de cigarros — a BAT vendeu 316 bilhões de cigarros no primeiro semestre — na verdade cresceu ligeiramente graças a uma recuperação na demanda nos mercados emergentes.
Embora o cigarro tradicional continue sendo de longe o seu maior negócio, a empresa diz estar comprometida com a mudança de modelo, garantindo que "questões ESG (questões ambientais, sociais e de governança) estão no centro de nossa estratégia".
Não é surpreendente que a BAT queira se armar com a bandeira do ESG. Uma pesquisa recente da firma de contabilidade PWC observou o rápido influxo de dinheiro dos acionistas para fundos ESG, que só investem em empresas com credenciais éticas corretas. Ela acredita que seu valor combinado será maior do que todos os outros tipos de fundos em três anos.
O preço das ações da BAT caiu quase pela metade nos últimos quatro anos, de £ 55 para £ 27 (R$ 418 e R$ 205, em valores atuais). Ter investimentos de alguns desses fundos ESG a pode ajudar a BAT a restaurar o preço declinante de suas ações.
Vendas de tabaco se recuperam
Apesar de seu compromisso com escolhas mais saudáveis, a BAT disse que a venda de cigarros se recuperou em alguns países em desenvolvimento após o fim de períodos de lockdown por causa da pandemia, quando as vendas foram proibidas em alguns países.
Marcas como Dunhill, Kent, Lucky Strike e Rothmans cresceram no primeiro semestre em países como Brasil, Turquia e Paquistão.
A empresa disse que a receita geral de sua divisão de produtos com combustão — cigarros e produtos de tabaco aquecidos — caiu 3%, chegando £ 10,5 bilhões (cerca de R$ 79 bilhões).
William Ryder, analista de ações da Hargreaves Lansdown, disse que ainda há um caminho a percorrer caso a gigante do cigarro queira cumprir sua meta de ter pelo menos £ 5 bilhões (R$ 38 bilhões) em receitas com alternativas à nicotina até 2025.
"Por enquanto, a BAT ainda depende dos cigarros. Os produtos de tabaco tradicionais ainda pagam o dividendo a acionista e continuará assim por algum tempo", diz.
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