Pular para o conteúdo principal

Por que Israel fracassa no combate à pandemia do novo coronavírus? - 7/09/2020 - Por Sandra Cohen Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'

 


O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, visita escola em crimônia oficial de início do novo ano letivo, nesta terça (1º). — Foto: Reuters/Marc Israel Sellem

O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, visita escola em crimônia oficial de início do novo ano letivo, nesta terça (1º). — Foto: Reuters/Marc Israel Sellem

Por pressão dos ultraortodoxos, que sustentam parte de seu governo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu voltou atrás no plano de lockdown em 40 cidades israelenses classificadas com a cor vermelha, com alta taxa de infecção pelo novo coronavírus. De exemplo na condução da pandemia, Israel passou rapidamente para o extremo opostoa derrota pôs o governo de joelhos diante do ressurgimento do vírus.

Na semana passada, os israelenses testemunharam a disparada de casos a uma cifra constrangedora de 3 mil por dia, o que fez de Israel o país líder em infecções per capita (199 doentes para cada milhão de pessoas), no ranking da Universidade Johns Hopkins.

“É incrível pensar como Israel deixou de ser o país que todos no mundo olhavam como modelo para um país que todos agora olham como um exemplo do que não se deve fazer”, constatou, em editorial, o jornal “Jerusalem Post”.

O que deu errado? Os críticos responsabilizam, sobretudo, a politização da doença. A rígida quarentena deu lugar à rápida reabertura da economia depois que o premiê declarou antecipadamente a vitória sobre o vírus.

As restrições foram suspensas com avidez em comércio, bares, restaurantes, escolas e transportes públicos. A onda de calor aboliu o uso de máscaras. Casamentos, grandes reuniões e cultos em templos religiosos voltaram a acontecer como se, de um dia para o outro, não representassem mais ameaça.

Era a senha para a segunda onda da pandemia, que o governo claramente não soube como conter e afunda diante da realidade de um milhão de desempregados. Para aplacar os ânimos e o agravamento da doença, Netanyahu nomeou um czar do coronavírus: o ex-diretor-geral do Ministério da Saúde Ronni Gamzu. Mas, sem clara autoridade para cortar a cadeia de infecção, ele permaneceu no limbo, como constatou Maayan Jaffe-Hoffman, editora do “Jerusalem Post”.

O aumento de testes revela também o grau do descontrole: dos 18.414 processados neste domingo, 12,3% deram positivo -- o dobro da taxa registrada na última semana de agosto.

Ainda assim, Netanyahu capitulou diante de uma carta enviada por prefeitos de quatro cidades habitadas por ultraortodoxos, que entrariam em lockdown a partir de domingo. O bloqueio total foi substituído pelo toque de recolher entre 19h e 5h, que também acabou não sendo implementado. O czar age como consultor, mas seus planos para conter a doença esbarram nos interesses políticos.

Os prefeitos ultraortodoxos acusaram o premiê de pisar em suas comunidades, transformando-as em “vetores de doenças e inimigos do povo”. E ameaçam deixar de cooperar com o governo. Traduza-se por isso a dependência de Netanyahu, réu em três processos por corrupção e abuso de poder, dos partidos religiosos. O toma-lá-dá-cá ficou evidente para o amplo leque político entre a extrema-esquerda e a direita nacionalista.

“O negócio é simples. Bibi (apelido do premiê) está dando aos ultraortodoxos tudo que eles querem e, em resposta, eles o tiram da prisão. As necessidades legais do réu criminal superam qualquer coisa”, denunciou o deputado Yair Golan, do Meretz. “Estamos todos reféns. Netanyahu não tem medo de Deus, mas dos representantes de Deus no Parlamento”, completou Avigdor Lieberman, do nacionalista Yisrael Beitenu.

O premiê deixa claro que a pandemia não é prioridade do governo, que balança numa frágil coalizão formada com o partido adversário em três eleições -- o Azul e Branco, liderado por Benny Gantz. E, sem uma clara diretriz, o público israelense acaba automaticamente refletindo o não comprometimento das autoridades com o combate à doença.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carta das Centrais Sindicais ao Presidente Bolsonaro

“EXMO. SR. JAIR MESSIAS BOLSONARO MD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL BRASÍLIA – DF Senhor Presidente, As Centrais Sindicais que firmam a presente vem, respeitosamente, apresentar-se à Vossa Excelência com a disposição de construir um diálogo em benefício dos trabalhadores e do povo brasileiro. Neste diálogo representamos os trabalhadores, penalizados pelo desemprego que atinge cerca de 12,4 milhões de pessoas, 11,7% da população economicamente ativa (IBGE/PNAD, novembro de 2018) e pelo aumento da informalidade e consequente precarização do trabalho. Temos assistido ao desmonte de direitos historicamente conquistados, sendo as maiores expressões desse desmonte a reforma trabalhista de 2017, os intentos de reduzir direitos à aposentadoria decente e outros benefícios previdenciários, o congelamento da política de valorização do salário mínimo e os ataques à organização sindical, as maiores expressões deste desmonte. Preocupa-nos sobremaneira o destino da pol

19 Exemplos de publicidade social que nos fazem pensar em problemas urgentes - POR: INCRÍVEL.CLUB

Criadores de propagandas de cunho social têm um grande desafio: as pessoas precisam não apenas notar a mensagem, mas também lembrar dela. Você deve admitir que, mesmo passados vários anos, não consegue tirar da cabeça algumas peças publicitárias desse tipo, que fizeram com que passasse a enxergar determinadas situações sob uma outra ótica. Se antes as propagandas sociais abordavam tmas como a poluição do meio ambiente com plástico e o aquecimento global, hoje existem campanhas sobre os perigos do sedentarismo, os riscos que o tabagismo representa aos animais em decorrência do aumento de incêndios florestais e até sobre a importância das férias para a saúde humana. São, portanto, peças que abordam problemas atuais e familiares para muita gente. Neste post, o  Incrível.club  mostra a você o que de melhor foi criado recentemente no campo das propagandas de cunho social. Fumar não é prejudicial apenas à sua saúde, mas também aos animais que vivem em áreas que sofrem com incênd

Empresas impõem regras para jornalistas

REDE SOCIAIS Por Natalia Mazotte em 24/5/2011 Reproduzido do Jornalismo nas Américas http://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ , 19/5/2011, título original: "Site de notícias brasileiro adota regras para o uso das redes sociais por jornalistas"; intertítulo do OI Seguindo a tendência de veículos internacionais , o site de notícias UOL divulgou aos seus jornalistas normas para o uso de redes sociais , de acordo com o blog Liberdade Digital. As recomendações se assemelham às já adotadas por empresas de notícias como Bloomberg , Washington Post e Reuters : os jornalistas devem evitar manifestações partidárias e políticas, antecipar reportagens ainda não publicadas ou divulgar bastidores da redação e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do site. Segundo um repórter do UOL, os jornalistas estão tuitando menos desde que as diretrizes foram divulgadas . "As pessoas estão tuitando bem menos. Alguns cogitam deletar seus p