Pular para o conteúdo principal

Sputnik V: como Rússia desenvolveu a vacina contra COVID-19 tão rápido e quem poderá tomá-la? - POR: SPUTNIK BRASIL

 


A Sputnik explica por que a Rússia saiu na frente na corrida pela vacina contra a COVID-19, como a desenvolveu tão rápido e quem poderá tomar as primeiras doses.

Nesta terça-feira (11), o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou o registro da primeira vacina contra a COVID-19 do mundo, batizada de Sputnik V.

O anúncio causou alarde na comunidade internacional, com governos de todo o mundo solicitando dados e fazendo encomendas de lotes da substância.

Mas o anúncio também gerou espanto. Afinal, como a vacina foi desenvolvida tão rápido? E qual a experiência da Rússia no desenvolvimento de vacinas?

A Sputnik Brasil conversou com o virologista Feliks Ershov, do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, que desenvolveu a Sputnik V, para conhecer melhor a substância e tirar as dúvidas mais frequentes sobre ela.

Nosso entrevistado é diretor do Departamento de Desenvolvimento de Interferons e do Laboratório de Interferonogênese e pesquisador do Centro Gamaleya.

Por que a Rússia saiu na frente na corrida pela vacina?

Para ele, a Rússia é a primeira a registrar vacina contra a COVID-19, pois já tinha experiência no desenvolvimento de profiláticos contra o ebola e outros coronavírus.

"O Centro Gamaleya tem experiência em desenvolvimento de vacinas para infecções [...] letais muito perigosas, como o ebola", disse Ershov à Sputnik Brasil.

"Tivemos um trabalho extenso para desenvolver a vacina contra o coronavírus causador da MERS, que se propagou a partir da Arábia Saudita em 2012."

Linha de produção da vacina russa Sputnik V contra COVID-19, em fábrica na região de Moscou, 7 de agosto de 2020
Linha de produção da vacina russa Sputnik V contra COVID-19, em fábrica na região de Moscou, 7 de agosto de 2020

A pesquisa conduzida pelo Gamaleya no caso da MERS foi fundamental para que o centro saísse na frente, acredita o presidente do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), Kirill Dmitriev.

"Os laboratórios russos não perderam seu tempo nas últimas décadas, enquanto a indústria farmacêutica internacional frequentemente subestimou a importância da pesquisa de novas vacinas", escreveu Dmitriev em editorial publicado pela Sputnik nesta terça-feira (11).

Como a vacina funciona?

Nos últimos anos, o Gamaleya desenvolveu uma tecnologia de vacinas "mais moderna do que as anteriores, que usavam o vírus inoculado", notou Ershov.

A vacina Sputnik V utiliza o método de dois vetores, desenvolvido pelo Gamaleya desde 2015.

Esse método consiste em utilizar adenovírus, presentes em adenoides humanos, e usá-los como vetores, que levam material genético de outro vírus para as células.

Sputnik V: como funciona a vacina russa contra COVID-19?
© SPUTNIK /
Sputnik V: como funciona a vacina russa contra COVID-19?

Portanto, os cientistas russos inseriram um fragmento do gene com o código da proteína do novo coronavírus dentro de um vírus de resfriado comum.

"[Os cientistas do Centro Gamaleya] decidiram usar esta tecnologia já comprovada e disponível em vez de entrar por um território desconhecido", escreveu Dmitriev.

A vacina será aplicada em duas doses que usam versões diferentes do adenovírus, com um intervalo de 21 dias.

Como foi desenvolvida tão rápido?

Como a Rússia já tinha experiência no desenvolvimento de vacinas vetoriais, o centro "pôde produzir a vacina contra o coronavírus rapidamente", explicou Ershov.

"Nós já tínhamos a base. Por isso, não foi necessário começar do zero", disse o virologista.

"O essencial foi comprovar que a vacina não tem efeitos colaterais, é tolerante e eficaz, isto é, estimula o sistema imunológico e gera a produção de anticorpos, criando imunidade", detalhou Ershov.

Pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, em Moscou, Rússia, 6 de agosto de 2020
© SPUTNIK / CENTRO GAMALEYA
Pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, em Moscou, Rússia, 6 de agosto de 2020

Normalmente, vacinas são desenvolvidas de forma bastante vagarosa, mas "o desenvolvimento rápido da vacina [contra a COVID-9] se deu por ser uma demanda social da humanidade", acredita o virologista.

A vacina garante quanto tempo de imunidade?

De acordo com o ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, todos os voluntários que receberam doses da vacina desenvolveram imunidade.

Vacinas vetoriais similares à Sputnik V desenvolveram imunidade por dois anos. Portanto, é esperado que a vacina contra a COVID-19 tenha o mesmo resultado.

"Essa estimativa é feita em comparação com outras vacinas dessa natureza, que garantem esse período de imunidade. Em relação ao novo coronavírus, claro que será necessário verificar se esse período vai ser confirmado", esclareceu.

Voluntário que recebeu doses da vacina russa Sputnik V concede entrevista no hospital Burdenko, Moscou, 7 de julho de 2020
© SPUTNIK / MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA
Voluntário que recebeu doses da vacina russa Sputnik V concede entrevista no hospital Burdenko, Moscou, 7 de julho de 2020

No entanto, o virologista lembra que a vacina é incapaz de auxiliar pessoas com COVID-19.

"A vacina é um remédio profilático, cuja intenção é defender pessoas saudáveis. Ela não trata os doentes", sublinhou.

Mesmo assim, "toda a história da virologia aponta que a vacinação é o método mais efetivo de combate a vírus de qualquer natureza".

Quem já pode tomar a vacina?

Após demonstrar a eficácia e a ausência de efeitos colaterais, a vacina passa para a chamada "terceira fase" de testes, conduzidos com grupos maiores de voluntários.

"Para podermos iniciar os testes com grupos superiores a mil pessoas, precisávamos registrar a vacina, com base nos testes preliminares", disse Ershov.

O ministro da Saúde da Rússia informou que determinados grupos terão prioridade para receber a Sputnik V.

"Em primeiro lugar, acreditamos ser fundamental vacinar [...] os agentes de saúde e aqueles dos quais depende a saúde das nossas crianças, isto é, os professores", disse o ministro.

Além disso, por enquanto os "estudos clínicos foram conduzidos com voluntários da faixa etária de 18 a 60 anos. Por isso, a vacina é indicada para uso entre pessoas de 18 e 60 anos", esclareceu o diretor do Centro Científico para Avaliação Especializada de Produtos Medicinais do Ministério da Saúde da Rússia, Vladimir Bondarev, nesta quarta-feira (12).

"Na minha opinião, o grupo que deve ser priorizado na aplicação da vacina deve ser o de pessoas saudáveis. Para os mais velhos, realmente será melhor esperar a conclusão da terceira fase", opinou o virologista.

Voluntária tem pressão monitorada no hospital Burdenko, após receber doses da vacina Sputnik V contra COVID-19, em Moscou, 20 de julho de 2020
© SPUTNIK / MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA
Voluntária tem pressão monitorada no hospital Burdenko, após receber doses da vacina Sputnik V contra COVID-19, em Moscou, 20 de julho de 2020

Além disso, as pessoas que foram infectadas pela COVID-19 no passado "muito provavelmente precisarão realizar testes de anticorpos, para provar que não têm imunidade à COVID-19" antes de tomar a vacina.

No entanto, o virologista acredita que é momento de reconhecer essa conquista da comunidade científica e ter esperança de que a pandemia de COVID-19 possa ser controlada.

"Essa vacina é realmente um feito. Um acontecimento raro na ciência, que deve ser comemorado", assegurou Ershov.

A pandemia de COVID-19 já infectou mais de 20 milhões de pessoas mundialmente e vitimou quase 750 mil, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins (EUA). Os países mais atingidos pelo novo coronavírus são EUA, Brasil e Índia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carta das Centrais Sindicais ao Presidente Bolsonaro

“EXMO. SR. JAIR MESSIAS BOLSONARO MD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL BRASÍLIA – DF Senhor Presidente, As Centrais Sindicais que firmam a presente vem, respeitosamente, apresentar-se à Vossa Excelência com a disposição de construir um diálogo em benefício dos trabalhadores e do povo brasileiro. Neste diálogo representamos os trabalhadores, penalizados pelo desemprego que atinge cerca de 12,4 milhões de pessoas, 11,7% da população economicamente ativa (IBGE/PNAD, novembro de 2018) e pelo aumento da informalidade e consequente precarização do trabalho. Temos assistido ao desmonte de direitos historicamente conquistados, sendo as maiores expressões desse desmonte a reforma trabalhista de 2017, os intentos de reduzir direitos à aposentadoria decente e outros benefícios previdenciários, o congelamento da política de valorização do salário mínimo e os ataques à organização sindical, as maiores expressões deste desmonte. Preocupa-nos sobremaneira o destino da pol

19 Exemplos de publicidade social que nos fazem pensar em problemas urgentes - POR: INCRÍVEL.CLUB

Criadores de propagandas de cunho social têm um grande desafio: as pessoas precisam não apenas notar a mensagem, mas também lembrar dela. Você deve admitir que, mesmo passados vários anos, não consegue tirar da cabeça algumas peças publicitárias desse tipo, que fizeram com que passasse a enxergar determinadas situações sob uma outra ótica. Se antes as propagandas sociais abordavam tmas como a poluição do meio ambiente com plástico e o aquecimento global, hoje existem campanhas sobre os perigos do sedentarismo, os riscos que o tabagismo representa aos animais em decorrência do aumento de incêndios florestais e até sobre a importância das férias para a saúde humana. São, portanto, peças que abordam problemas atuais e familiares para muita gente. Neste post, o  Incrível.club  mostra a você o que de melhor foi criado recentemente no campo das propagandas de cunho social. Fumar não é prejudicial apenas à sua saúde, mas também aos animais que vivem em áreas que sofrem com incênd

Empresas impõem regras para jornalistas

REDE SOCIAIS Por Natalia Mazotte em 24/5/2011 Reproduzido do Jornalismo nas Américas http://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ , 19/5/2011, título original: "Site de notícias brasileiro adota regras para o uso das redes sociais por jornalistas"; intertítulo do OI Seguindo a tendência de veículos internacionais , o site de notícias UOL divulgou aos seus jornalistas normas para o uso de redes sociais , de acordo com o blog Liberdade Digital. As recomendações se assemelham às já adotadas por empresas de notícias como Bloomberg , Washington Post e Reuters : os jornalistas devem evitar manifestações partidárias e políticas, antecipar reportagens ainda não publicadas ou divulgar bastidores da redação e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do site. Segundo um repórter do UOL, os jornalistas estão tuitando menos desde que as diretrizes foram divulgadas . "As pessoas estão tuitando bem menos. Alguns cogitam deletar seus p