O Deic tinha como cooperadora Ana Maria Olivatto, advogada e mulher do Marcola.
Ana levava informações para o secretário da Administração Penitenciária, informações que Marcola mandava. Tudo que ela fazia, fazia por amor e para ele não ir para a RDD [Regime Disciplinar Diferenciado, o mais rígido do sistema carcerário].
No começo dos anos 2000, o PCC viveu uma grande guerra pela liderança da quadrilha. De um lado estavam Cesinha e Geleião, favoráveis a ações radicais, como colocar bombas em prédios públicos. De outro, Marcola queria transformar o PCC em um grupo criminoso voltado, sobretudo, para o lucro com o tráfico de drogas.
O secretário passava as informações ao delegado do Deic, Doutor Ruy. Houve uma outra megaoperação fomos levados ao Deic, quando a gente foi acusado de formação de quadrilha e fomos levados a Presidente Bernardes. Apenas um não foi: Marcola!
Quando estávamos no Deic, fazendo a negociação com o promotor, sobre como seria nosso banho de sol, como seria o tratamento lá, entre outras coisas, Marcola estava presente. Mal sabíamos que tudo era uma trama, contada depois pelo promotor Márcio Christino. Ele lançou um livro chamado Laço de Sangue,
no qual conta que Marcola passava informações.
O doutor Ruy, delegado de Roubo a Bancos, não quis ouvir apenas a doutora Ana Olivatto. Ele colocou no papel que ela era informante do Deic e lá estava tudo: todas as ordens que eu mandava, planos de ataque e de resgate...
O Deic era informado assim, o delegado vinha tomando conhecimento da organização e ia prendendo os integrantes.
Porém o Deic queria mais: tirar Geleião e Cesinha do poder, porque nós dois éramos os "loucos", os líderes máximos.
O documento do depoimento de Ana Olivatto foi vendido a nós pelo valor de R$ 30 mil por um investigador da equipe do doutor Ruy, um homem da lei!
Ruy Ferraz é atualmente delegado geral da Polícia Civil de São Paulo. Procurado ele não quis comentar as afirmações de Geleião. "Ele está esperneando", limitou-se a dizer.
O investigador marcou um encontro com a mulher de Cesinha para vender a delação de Ana Olivatto. A esposa de Cesinha comprou por R$ 30 mil, porém foi vista pela doutora Ana, que imaginou que ela estava traindo Cesinha.
O que Ana fez? Foi para Bernardes e falou que a mulher do Cesinha tava traindo ele. Cesinha ficou louco e disse: "Vou matar essa vagabunda!"
Dias depois, em um horário de visita, chegaram a esposa de Cesinha e a minha. As duas iam juntas.
Ela mal chegou e Cesinha já a xingava. Ela não entendia nada, até falei:
"Cesinha, deixa ela explicar". Ela foi no banheiro e lá tirou o papel e mostrou o que era.
Quando Cesinha acabou de ler, a única palavra que saiu da sua boca foi: "Ana tem compromisso com a polícia, ela tem que morrer."
"Por quê?", perguntei.
"Leia o papel", Cesinha disse.
E lá estava a confissão dela.
Ana foi decretada e o salve foi passado para o cunhado de Cesinha, o falecido "Ceará".
Porém, naquela mesma época, Ana tinha brigado com Marcola e disse que contaria tudo que ele mandava ela fazer.
Nós estávamos trancados no RDD. Não sabíamos desta briga. Ela tinha até pedido autorização para a Secretaria para falar com nós em Bernardes.
Porém, o salve já tinha ido. Sua morte estava decretada e ela seria morta.
Pois antes de ela morrer, Ceará tinha ligado para o Marcola:
"Chegou um salve para matar a Ana, você está sabendo?"
Ele respondeu: "Liga depois para mim".
O Ceará ficou esperando já que ela era mulher do Marcola; Marcola ligou para Ana e disse "Você vai lá falar com os caras?"
Ela respondeu: "Vou sim, você é traidor."
Logo em seguida o Ceará ligou para saber o que ele tinha decidido.
A resposta foi "eu não quero saber daquela traidora".
O Ceará esperou e matou Ana no dia que ela ia para Bernardes para revelar toda as safadezas do Marcola e dela.
Em depoimento à Justiça, Marcola afirma que era perseguido por Cesinha e Geleião porque não se submetia aos dois. Ele afirma não saber que sua mulher seria morta e nega a pecha de delator.
Então, Marcola ligou para todos dizendo que Cesinha e Geleião tinham traído sua pessoa e teriam matado a mulher dele.
Se fosse realmente fato, seria grave, acontece que não era. Marcola e Ana nos traíram.
O que a Polícia fez? Prendeu minha esposa, decretou a preventiva da mulher do Cesinha, enquanto estávamos isolados, deu o Comando sob controle de Marcola. Os amigos correram para o outro lado.
Assim Marcola passou como certo e nós, eu e Cesinha, como errados. Depois aqueles que ajudaram contra nós, eles foram mortos e outros excluídos. Só foram laranjas para nossa saída.
Esta é a verdade. Assim saímos do PCC. Não tenho arrependimentos, fui pego em uma armadilha já que a polícia precisava eliminar eu e Cesinha, já que éramos os líderes máximos e não admitíamos opressão.
Quanto mais o PCC crescia, mais policiais e promotores ganhavam nome, "investigando" Márcio Felício, vulgo: Geleião.
Para a Polícia era uma honra tirar eu e Cesinha, assim teriam controle da organização PCC.
A liderança do PCC foi a Polícia que permitiu a Marcola. Se ele cresceu foi porque os promotores também permitiram.
Hoje, eu, Geleião, vivo no presídio de Iaras, isolado de tudo e de todos. Trancado em uma cela imprópria por dez anos, sem estudo, sem trabalho, sem direito a nada, aqui estou sequestrado. Estou condenado a uma pena de 142 anos e já cumpri 40 anos de prisão, o que a Constituição não permite.
Ninguém no Brasil está preso como Geleião. O que eu peço é S.O.S Justiça."
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