Ao contrário do que muita gente pensa, não é o dia em que os varejistas tiram o vermelho do balanço.
Talvez você já tenha ouvido a história por trás do nome BlackFriday. É mais ou menos assim: durante muito tempo, os consumidores lotavam as lojas e shopping centers depois do Thanksgiving (o Dia de Ação de Graças, que sempre cai na última quinta de novembro), e os gastos deste dia eram suficientes para apagar o vermelho dos balanços dos lojistas. Daí viria o nome Black Friday, abertura não-oficial da temporada de compras do fim do ano.
Mas o termo nem sempre foi usado assim. Antes de o setor varejista criar essa versão higienizada do termo, ele tinha uma conotação muito mais bizarra. Eis o porquê do nome “Black Friday”.
A origem da Black Friday
Quando um dia de semana é precedido pela palavra “negra”, para o senso comum, isso quer dizer que foi um dia ruim. E com a Black Friday aconteceu a mesma coisa
O primeiro uso da expressão Black Friday data de 1869 – e não tem nada a ver com compras de Natal. Foi o dia em que o preço do ouro despencou por causa de um crash da Bolsa que afetou a economia americana durante anos.
As primeiras menções com o sentido que conhecemos hoje teriam aparecido nas décadas de 1950 ou 1960, na Filadélfia, cunhadas por policiais de trânsito irritados com os congestionamentos típicos do dia.
“O Departamento de Polícia da Filadélfia usou o termo para descrever os engarrafamentos e a lotação das lojas do centro”, diz David Zyla, estilista ganhador do Emmy e autor de “How to Win at Shopping”, (Como vencer nas compras, em tradução livre).
Ele observa que os primeiros usos do termo na imprensa foram num anúncio e em uma edição de 1966 da revista The American Philatelist, para colecionadores de selos.
Um trecho do anúncio aparece num fórum de linguistas organizado pelo departamento de linguística da Universidade de Indiana:
“Black Friday” é o nome que a polícia da Filadélfia deu à sexta-feira após o Thanksgiving. Não é um termo carinhosos. A “Black Friday” abre oficialmente a temporada de compras na cidade e em geral causa enormes congestionamentos e calçadas lotadas, pois as lojas estão lotadas da hora que abrem até a hora do fechamento.
Há mais evidências que sugerem que este termo nada lisonjeiro tenha sido criado pela polícia da Filadélfia. Joseph P. Barrett, que durante muito tempo cobriu notícias policiais para o Philadelphia Bulletin, lembrou de uma matéria que escreveu sobre a Black Friday para o Philadelphia Inquirer:
Em 1959, o antigo Evening Bulletin me colocou na cobertura de polícia, trabalhando na prefeitura. Nathan Kleger era o repórter policial que cobria a prefeitura para o Bulletin.No começo dos anos 1960, Kleger e eu escrevemos uma reportagem de capa sobre o Thanksgiving e nos apropriamos do termo policial “Black Friday” para descrever o trânsito terrível.
Mas os policiais não eram os únicos a odiar este dia. “A proporção entre vendedores e clientes aumentava a confusão, pois vários vendedores tinham o costume de faltar ao trabalho alegando doença para estender o feriado de Thanksgiving”.
De fato, em outro trecho de uma reportagem intitulada “Dicas para Boas Relações Humanas para Executivos de Fábricas”, publicada em uma edição de 1951 da revista Factory Management and Maintenance, o autor descreve altos índices de faltas na sexta-feira pós-Thanksgiving:
“A Sexta-depois-do-Thanksgiving” é uma doença que só perde para a peste bubônica em seus efeitos. Pelo menos esta é a sensação daqueles que têm de produzir quando chega a “Black Friday”. A fábrica pode estar metade vazia, mas todos os que faltaram estava doentes – e podem provar com atestado.”
Não está claro se Black Friday era uma expressão comum já em 1951 ou se o autor da reportagem estava apenas criando uma expressão, mas uma coisa é certa: muita gente não era fã do dia.
Dourando a pílula
Não é surpresa que os varejistas não gostassem da expressão para descrever um dos dias de maiores vendas no ano inteiro. Então eles criaram uma versão positiva da história.
“Black Friday é parte de uma longa lista de dias que ganharam novo significado ao longo do tempo”, diz Zyla. Já em 1961, profissionais de relações públicas tentavam mudar a percepção pública da Black Friday. Em uma edição da Public Relations News, uma newsletter do setor, o autor descreve os esforços de um executivo conhecido de RP para tentar trocar o “Black” por “Big”, com o objetivo de dar à sexta-feira a reputação de um dia de compras e diversão para a família.
O problema foi discutido pelos comerciantes com um representante da cidade, Abe S. Rose, um dos executivos de RP de maior experiência do país. Ele recomendou uma abordagem positiva, que transformaria a Black Friday e o Black Saturday em Big Friday e Big Saturday. A mídia cooperou, espalhando as notícias da beleza do centro da Filadélfia com decoração de Natal, a popularidade dos “programas de família” nas lojas de departamento, o aumento nas vagas de estacionamento e o reforço no policiamento para garantir um bom fluxo do trânsito.
O nome “Big Friday” não pegou, mas os esforços para melhorar a conotação do nome deram certo, no fim das contas. Hoje em dia, a maioria dos consumidores associam a Black Friday ao fim do vermelho dos balanços do varejo.
“Os varejistas não estão preocupados com a origem do nome, mas tomam vantagem do reconhecimento global deste dia (junto com a Cyber Monday) para fazer uma porção significativa de suas vendas, com promoções válidas por apenas um dia”, diz Zyla.
Somente as vendas online na Black Friday do ano passado atingiram 6,22 bilhões de dólares, um aumento de 23,6% em relação ao ano anterior.
Pode ser um dia ótimo para o varejo, mas algumas incertezas ainda pairam sobre a Black Friday. Se os consumidores tiverem sorte, congestionamentos e lojas lotadas são o menor dos problemas: multidões competindo por itens com desconto geraram episódios de violência e resultaram em 12 mortes em anos anteriores.
O significado de Black Friday pode não ser mais o mesmo, mas os desafios não mudaram em todas estas décadas. Se você decidir participar de um dos maiores dias de compras do ano, tente demonstrar um pouco de empatia pelo próximo.
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.
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