Brasil não tem como conter vazamento de óleo nem estimar impacto da contaminação - By Grasielle Castro - POR: HUFFPOST
"Tudo indica que é um problema que vai continuar", diz Greenpeace sobre vazamento que atinge mais de 200 praias no Nordeste.
A tendência é que o óleo que invade as praias do Nordeste brasileiro há mais de 50 dias continue a causar danos ao meio ambiente. Por mais que voluntários, integrantes do Exército, pesquisadores e organizações não-governamentais empenhem esforços, não há previsão para o fim do trabalho de remoção do material poluente da costa brasileira. Em alguns locais, como praias do Maranhão, “você limpa e ele [óleo] volta”, relata o coordenador da campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo.
A análise da entidade, que acompanha a crise e tem cobrado uma resposta enérgica do governo brasileiro, é de que este é o maior desastre ambiental do País por extensão. Dos mais de 8,5 mil quilômetros de costa, mais de 2 mil foram atingidos. São mais de 200 praias nos nove estados da região Nordeste e inúmeros entraves para conter e controlar o óleo.
De acordo com Baitelo, um dos problemas é a dificuldade em localizar a origem do vazamento. “O óleo é pulverizado. Está dividido em vários pontos e não é possível vê-lo da superfície. Só dá para ver quando as menores manchas começam a chegar às praias. Elas estão chegando e continuam chegando. No Maranhão, você limpa e ele [óleo] volta. É um enorme desafio.” Segundo ele, há informações de monitoramento, mas elas não são conclusiva. Também há relatos de pescadores de que as manchas continuam se aproximando.
Apenas em Pernambuco, nos últimos sete dias foram retirados do mar 958 toneladas de óleo, segundo o governo local. Sem ter ideia da dimensão do vazamento, o governo federal só decidiu integrar as Forças Armadas aos trabalhos nesta semana, quase dois meses após os primeiros focos do vazamento terem sido registrados em praias de Pernambuco e da Paraíba.
“Quando as manchas saíram de Salvador, recrudesceu; chegaram em Pernambuco nesses dias, aí sim [decidimos designar o Exécito]”, disse o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva na terça-feira (22). O Plano Nacional de Contingência, que prioriza áreas mais sensíveis, também só foi acionado este mês.
Desesperados com a situação do mar, pescadores e demais moradores das áreas atingidas têm feito enormes esforços para remover o óleo. “Existe, porém, a questão do uso do equipamento correto. O óleo é tóxico e já há notícia de pessoas com mal-estar, enjoo. Quem depende do mar está desesperado e tem gente fazendo trabalho voluntário de qualquer forma. A gente não pode depender só do governo. É um problema que pode se arrastar por muito tempo”, admite o especialista do Greenpeace.
A diferença deste desastre com óleo para outros já registrados é essencialmente a descoberta da causa. “[No passado] Sabíamos o que tinha acontecido e que havia um ponto de vazamento. Fosse grande o volume ou a velocidade, como a explosão da plataforma no Golfo do México (EUA) ou da Chevron [em 2011 no Rio de Janeiro], existiam técnicas tradicionais de contenção do óleo, havia uma empresa responsável que tinha que lidar com o problema”, explica Baitelo.
Neste caso, o que se sabe é que o material encontrado nas praias é petróleo cru, o que significa que ele é sem origem em qualquer derivado de óleo e é oriundo da Venezuela, segundo informações da Petrobras. A petrolífera tem ajudado o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em estudos sobre o desastre.
Há algumas hipóteses em análise para identificar o que ocorreu. Navios e embarcações estrangeiras e fantasmas que passaram pela costa brasileira estão sob investigação. Os navios piratas navegam com sistema de localização desligados, o que impede a identificação. A Venezuela é acusada de usar este tipo de artifício para burlar o embargo dos Estados Unidos ao petróleo.
Segundo o presidente do Ibama, Eduardo Bim, existe ainda a possibilidade de que o material tenha vazado em uma transferência de um navio para outro. “Mas temos que investigar e não descartamos nenhuma causa possível”, disse Bim, em audiência no Senado.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ressalta que o fato de não saber a origem dificulta as ações de controle. “Medidas de contenção que podem ser pertinentes nos casos de acidentes em que são conhecidas as origens não são necessariamente pertinentes nesse caso de poluição difusa como agora, que não tem precedentes.”
Mesmo que a origem e os responsáveis sejam descobertos, há uma enorme dificuldade de punição porque muitas frotas usam bandeiras de conveniência e não estão sujeitas a leis tão rígidas, segundo Béatrice Padovani, coordenadora do Programa Ecológico de Longa Duração da Universidade Federal de Pernambuco. “Nossa esperança não é tão grande.”
Impacto ambiental
As manchas de óleo chegaram a praias que são cartões postais do País, como a dos Carneiros, em Pernambuco, a do Francês, em Alagoas, e Morro de São Paulo, em Salvador. Na semana passada, o oceanógrafo e professor Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Claudio Sampaio afirmou ao HuffPost que “muita gente estava agendando as férias nessa região e mudou de destino turístico”.
O que a gente está vivendo no litoral do Nordeste é algo assustador. Uma tragédia. A gente nunca viu nada parecido na vida, então é muito difícil estimar qualquer impacto.
“Qualquer informação agora vai estar sendo brutalmente subestimada porque há um volume muito grande de óleo que está chegando ainda às praias”, afirmou.
Além de atingir principais pontos turísticos do País, o óleo afeta toda fauna e flora regional. “O Brasil tem os únicos recifes de coral do Atlântico Sul com várias espécies endêmicas, nossa responsabilidade com a diversidade do Atlântico e do mundo é tremenda”, diz Béatrice Padonvani. Manguezais e algumas espécies, como tartarugas e peixes-boi, já foram atingidos. Segundo o Ibama, 13 tartarugas e uma ave morreram vítimas do óleo.
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