20 fotos incríveis dos dias de glória do grafite de Nova York - publicado 16 de Outubro de 2019, 3:14 p.m. Gabriel H. Sanchez Gabriel H. Sanchez BuzzFeed News Photo Essay Editor
"Esses artistas enfrentavam desde a possibilidade de prisão pela polícia até os perigos de correr pelos túneis dos trens. Mas adolescentes gostam de se desafiar — e eles realmente estavam se desafiando."
No fim dos anos 1970, o bairro do Bronx, na cidade de Nova York (EUA), estava em um estado de decadência e abandono. Anos de planejamento urbano deficiente e uma onda de estagnação econômica transformaram a área em uma mera sombra do que já havia sido. Como muitos moradores começaram a trocar o bairro por lugares regiões mais seguras, o crime e as gangues começaram a tomar conta. Para as crianças do Bronx, sempre houve poucas iniciativas para impedi-las de se envolver em atividades ilícitas.
Neste ambiente, entre os escombros de prédios de incendiados e riscados pelas laterais dos vagões do metrô, uma nova linguagem estava sendo formada por meio do grafite e do hip-hop. Respingos vibrantes de cor começaram a surgir em todo o Bronx enquanto bandos de artistas começaram a unir forças e competir por exposição e influência.
O fotógrafo Henry Chalfant foi testemunha desta explosão de criatividade artística. Ele começou a registrar os rostos deste movimento, e logo desenvolveu seu estilo único de fotografar o grafite nas laterais dos vagões do metrô. Este enorme conjunto de trabalhos está agora em exposição no Bronx Museum of the Arts em Henry Chalfant: Art vs. Transit, 1977–1987, narrando os anos de fundação do hip-hop e da arte de rua como conhecemos hoje.
Aqui, Chalfant fala com o BuzzFeed News sobre seu trabalho e compartilha uma seleção de suas fotos daquele incrível momento da história.
Aqui, Chalfant fala com o BuzzFeed News sobre seu trabalho e compartilha uma seleção de suas fotos daquele incrível momento da história.
Como era a cidade de Nova York naquela época?
Henry Chalfant: Era muito diferente. Havia menos dinheiro e a cidade estava praticamente sem manutenção. O dinheiro estava escasso, e a infraestrutura, caindo aos pedaços. Houve bairros que também foram gravemente afetados pela renovação urbana. A cidade estava sistematicamente destruindo moradias perfeitamente adequadas e colocando suas torres Le Corbusier como projetos de habitação. Nesses lugares as pessoas viviam a 25 andares acima do solo, e seus filhos estavam brincando na rua e as pessoas não podiam ficar lá com eles para supervisionar. Foi uma péssima ideia.
Foi uma terrível negligência em relação aos cidadãos que estavam morando lá na época. Mas as pessoas em minhas fotos, os jovens dessas famílias, conseguiram inventar suas próprias coisas para fazer em meio a esse abandono — suas próprias formas de arte, música e dança. No final, é uma história tremendamente otimista, considerando a criatividade dos jovens.
E você viu essas novas formas de arte se formando e escolheu documentá-las pela fotografia?
HC: Com certeza. A fotografia era uma ferramenta para mim. O que é engraçado, pois eu não era um fotógrafo na época. Fui para a Universidade de Stanford e me formei em literatura grega clássica — foi um enorme prazer na época, mas não era algo ao qual queria dedicar a minha vida. Em vez disso, eu queria ser um escultor, então vim para Nova York em 1973 e montei um estúdio na Lower Manhattan. Tive uma vida como escultor em Nova York por cerca de 10 anos.
Em algum lugar no meio disso, eu fiquei interessado em grafite e estava ansioso para descobrir como fotografar isso. Eu não estava tão familiarizado com os bairros distantes na época, mas eu logo percebi que aquelas linhas elevadas permitiam um ótimo acesso para fotografar os trens em boa luz do dia
Em 1977, desenvolvi um estilo de isolar a arte no vagão do trem, em vez de tirar fotos do grafite no contexto da cidade. Eu ficava de um lado da estação, e esperava que os trens do sentido contrário viessem. Tirei as fotos em segmentos e colei-as juntas, o que fez cada foto parecer como se estivesse no mesmo enquadramento.
Quais eram alguns dos riscos que estes grafiteiros estavam assumindo pela sua arte?
HC: Parte do processo de criar esta arte era o jogo de gato e rato com a polícia. Isso foi uma das medalhas de honra — que quem quer que fosse esse moleque, tinha criado esta obra de arte apesar de todos os obstáculos. Entre as dificuldades estavam desde a prisão e a perseguição pela polícia até os perigos reais de correr pelos túneis dos trens. Mas os adolescentes gostam de se desafiar — e eles realmente estavam se desafiando.
E você pode reconhecer o talento. No meio da comunidade do grafite, houve muito reconhecimento para os que eram realmente talentosos. A cultura do Writer's Benches era uma espécie de fórum crítico. As pessoas poderiam se reunir nos bancos e assistir os trens passarem e declarar quem era o vencedor, quem era o melhor e quem era apenas simplesmente ridículo. Este foi um fórum de críticas muito intenso que estava acontecendo, o que estimulou o aperfeiçoamento e motivou pessoas a se esforçarem mais.
Qual é o legado daquela geração de artistas?
HC: Há certos momentos na história que podem ser chamados de extraordinários, em que uma combinação de eventos convergem resultando em uma tremenda manifestação de criatividade. Você poderia comparar esta época à Renascença italiana ou talvez à Paris no início do século 20, quando uma enorme quantidade de energia criativa estava irrompendo. E para esses artistas criarem isso do nada — um ambiente de abandono e decadência. Esta geração realmente foi capaz de ativar e eletrizar o potencial humano em si mesma.
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