Estas fotos perturbadoras mostram o que aconteceu com Chernobyl depois da catástrofe - publicado 6 de Maio de 2019, Gabriel H. Sanchez Gabriel H. Sanchez BuzzFeed News Photo
Desde 1994, o fotógrafo David McMillan já viajou 21 vezes a Chernobyl para testemunhar as mudanças na paisagem nesse deserto nuclear.Be one of the first to comment
Na noite de 25 de abril de 1986, um teste de rotina na usina nuclear de Chernobyl perto de Pripyat, Ucrânia, deu muito errado e o pior pesadelo da nossa era moderna se concretizou.
Uma falha catastrófica no reator nuclear Número 4 ocasionou uma explosão gigantesca que liberou quantidades enormes de resíduos de fissão radioativa no ar. Nos primeiros quatro meses após o acidente, 28 pessoas morreram e a vida selvagem vizinha foi assolada pelos efeitos da exposição à radiação. A cidade vizinha de Pripyat foi evacuada, permanecendo como uma cidade praticamente fantasma nos últimos 33 anos.
Desde 1994, o fotógrafo David McMillan já viajou 21 vezes à Zona de Exclusão de Chernobyl – documentando, com a devida orientação e extremo cuidado, as mudanças na paisagem: a natureza lentamente recuperando seu espaço do que sobrou da civilização nesse deserto nuclear.
Seu novo livro, Growth and Decay (Crescimento e Ruína, em tradução livre), é o resultado dessas excursões e apresenta cerca de 200 dessas perturbadoras e belas imagens. Neste post, McMillan compartilha com o BuzzFeed Newsuma galeria de imagens do livro e o que pensa sobre tirar fotos em uma zona de cinza nuclear.
O que há em Chernobyl que faz com que você continue voltando para lá?
David McMillan: Eu estudei pintura, mas me interessei muito mais por fotografia. O tema das minhas fotografias tem muito a ver com a tensão entre natureza e cultura, e isso fez com que eu começasse a fotografar em Chernobyl em 1994.
Fiquei muito contente com as fotografias após aquela visita inicial – e, com a sensação de ter visto apenas uma parte do que havia lá, voltei seis meses depois.
Após vários anos fotografando em Chernobyl, ficou claro que havia uma certa dicotomia lá: a natureza proliferava enquanto o ambiente construído deteriorava, e isso se tornou o escopo do livro.
Você já temeu pela sua saúde ou segurança enquanto tirava essas fotos?
Nos anos 90, eu geralmente era transportado em veículos contaminados demais para saírem da zona de exclusão e tinha de passar a noite em dormitórios fora da zona. Hoje em dia, fico na cidade de Chernobyl, e meu guia tem o seu próprio carro.
Com relação à segurança, eu aceitei que há um certo risco. Mas fui avisado sobre onde ficam as áreas mais contaminadas e passo menos tempo lá. Com a diminuição do perigo da radiação, a proliferação de javalis selvagens está se tornando preocupante, mas o risco atual são os prédios que estão desabando.
Analisando todos os seus anos de trabalho, houve alguma nova narrativa ou detalhe interessante que foi ignorado ou você não percebeu a princípio?
Minha visita original, em 1994, foi especulativa, no sentido de que eu não sabia o que encontraria ou quão livremente poderia me locomover. Quando compreendi o escopo do que era possível, percebi que havia diversos temas que me atraiam, como a abundância de artefatos da era da URSS e o já mencionado crescimento e ruína.
Fotografar novamente locais que eu havia visto em visitas anteriores se tornou importante, e as fotografias de pisos e vegetações se tornaram um novo tema para mim. A zona estava mudando, e eu queria ser parte dessa obra. Devo admitir que em todas as visitas surgiram situações que eu não havia considerado como interessantes para uma fotografia antes, mas que subitamente ofereciam novas oportunidades.
Há alguma imagem ou história específica que tenha um grande significado para você?
Com tantas fotografias tiradas ao longo do tempo, há várias que parecem cruciais, no sentido de que abriram minha cabeça para perceber uma situação como possuindo um potencial fotográfico riquíssimo. Fotografar o reator de uma posição estratégica fixa ao longo dos anos, bem como as bandeiras soviéticas em uma escadaria, são exemplos que acho intelectualmente gratificantes.
Adoro algumas fotos por causa da sua beleza inesperada. Um exemplo é a de chinelos e brinquedos no chão de um jardim de infância, que possui um colorido incrível. Algumas das fotos possuem uma certa ressonância emocional por causa das consequências do acidente na saúde de tantas pessoas, e isso é mais acentuado para mim nas fotos de jardins de infância e parquinhos.
Você se considera um otimista no que diz respeito aos problemas ambientais?
Meu otimismo foi diminuído recentemente pela enxurrada de matérias sobre o derretimento do gelo no Ártico e pela relutância dos governos em tomar as medidas necessárias para desacelerar as mudanças climáticas. Sequer a ameaça de um desastre nuclear diminuiu, seja por causa das armas ou de acidentes. Eu não sou um cientista, obviamente, por isso não posso responder com embasamento se já é tarde demais, mas espero do fundo do meu coração que não seja.
Você planeja retornar para Chernobyl?
Todos esse anos eu me perguntava se deveria retornar, mas sempre concluía que valia a pena investir o tempo para descobrir. Se eu tirasse novas fotografias, teria valido a pena. Caso contrário, pelo menos tinha tentado. Esse livro parece ser uma espécie de conclusão, mas eu odiaria não ter a chance de tirar aquela próxima foto que poderá ser fantástica. É bem provável que eu volte para lá.
Gabriel H. Sanchez is the photo essay editor for BuzzFeed News and is based in New York City.
Contact Gabriel H. Sanchez at gabriel.sanchez@buzzfeed.com.
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