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Quem é o cardeal George Pell, assessor do papa e tesoureiro do Vaticano condenado por abuso sexual de menores - 26 fevereiro 2019

George Pell, cardeal condenado por abusos sexuais na Austrália, fotografado após deixar o tribunal de Melbourne Direito de imagemEPA
Image caption George Pell é o clérigo católico mais antigo e também de mais alto escalão a ser condenado por abusos
A primeira cúpula sobre abuso sexual infantil na Igreja Católica, realizada no último fim de semana no Vaticano, foi encerrada com um sermão do arcebispo de Brisbane, o australiano Mark Coleridge.
"No abuso sexual", disse o arcebispo, "os poderosos põem as mãos nos mais fracos e mais vulneráveis do Senhor".
Ele poderia estar descrevendo as ações de um de seus conterrâneos, o cardeal George Pell, que se tornou o membro de mais alto escalão da Igreja condenado por abusos sexuais contra menores.
O cardeal foi considerado culpado por abusos sexuais, por ter, segundo entendimento do júri, molestado dois integrantes do coral religioso nas dependências de uma catedral de Melbourne, na Austrália, em 1996.
A decisão, de uma corte em Melbourne, foi proferida em dezembro, mas por motivos legais só foi divulgada nesta semana. Pell se declarou inocente e que apelaria contra a decisão. A sentença ainda não foi decidida.
George Pell tem 77 anos e havia sido nomeado pelo papa Francisco como prefeito da Secretaria de Economia - que administra as volumosas finanças do Vaticano.
Ele tinha sido arcebispo de Sydney desde 2001, antes de se mudar para Roma, em 2014, para o novo cargo. Na função de tesoureiro, se tornou um dos funcionários mais poderosos da Igreja.
Em seu mandato, de cinco anos, ele ocupou escritórios no primeiro andar do Palácio Apostólico, a residência oficial do papa, e rapidamente começou a introduzir novos padrões de contabilidade: criou a agência financeira da Santa Sé para lidar com transações suspeitas, e garantiu que as contas do Banco do Vaticano fossem auditadas de forma independente.
Uma figura obstinada e que enfrentou muitos obstáculos, era conhecido entre funcionários como "Cardeal Rambo" - um apelido respeitoso por seu impacto positivo nas finanças da igreja.
George Pell, cardeal condenado por abusos sexuais na Austrália. Na foto, ele aparece com o papa Francisco Direito de imagemGetty Images
Image caption A condenação do Cardel é tida como um duro golpe também para o Papa Francisco, de quem era um dos assessores mais próximos

Seu papel na Igreja

Além de comandar uma reforma crucial nas caóticas finanças da Igreja, também tinha sido indicado pelo Papa Francisco como um dos nove membros do seu Conselho de cardeais conselheiros, conhecido como C9.
Foi esse Conselho que incentivou o Papa a organizar a primeira cúpula sobre abuso sexual infantil.
A notícia de condenação do cardeal é tida como um duro golpe não só para a Igreja, mas também para o Papa Francisco, pois Pell tinha se tornado um dos assessores mais próximos.
Ele também desempenhou outros papeis importantes na Igreja. Foi membro da Congregação dos Bispos, da Congregação para a Evangelização dos Povos, da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica e do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.
Do que ele é acusado?
George Pell era arcebispo de Melbourne em 1996 quando teria encontrado dois garotos de 13 anos em salas da catedral após uma missa, segundo o Tribunal do Condado de Victoria.
Após dizer a eles que estavam em apuros por terem bebido vinho da missa, o então arcebispo teria forçado cada um deles a praticar atos libidinosos, disseram os promotores. Ele teria abusado novamente de um dos meninos em 1997.
O tribunal ouviu o depoimento de uma das vítimas. A outra morreu de overdose de drogas em 2014.
O sobrevivente, que não pode ter a identidade revelada, disse que o caso é desgastante e "ainda não acabou". Ele afirmou ainda que enfrentou "vergonha, solidão, depressão e dificuldades" por causa do abuso.
"Como muitos sobreviventes, demorei anos para entender o impacto daquilo na minha vida", disse.
O júri rejeitou um argumento do advogado de Pell, Robert Richter QC, de que as alegações eram fantasias planejadas pelas vítimas.
A Conferência dos Bispos Católicos da Austrália disse que a condenação "chocou muita gente na Austrália e em todo o mundo", reiterando sua promessa de tornar a Igreja "um lugar seguro para todos".
Grupos de sobreviventes de abusos comemoraram a condenação.
George Pell, cardeal condenado por abusos sexuais na Austrália. Direito de imagemGetty Images
Image caption Pell foi nomeado para supervisionar as finanças do Vaticano em 2014 e era muito respeitado dentro da Igreja

O que vai acontecer com o Cardeal agora?

Pell ainda terá audiências pela frente nesta semana para que a justiça decida sua pena.
Ele apelou contra a condenação.
Seu julgamento foi realizado duas vezes no ano passado porque um primeiro júri não conseguira chegar a um veredicto.
O segundo júri, por sua vez, o condenou por unanimidade por ter penetrado sexualmente uma criança de menos de 16 anos e por quatro acusações de ter praticado atos libidinosos com uma criança também menor de 16.

Investigação

A Igreja Católica vinha, há anos, enfrentando acusações em todo o mundo relacionadas a casos de abusos sexuais cometidos por padres e bispos.
A condenação confirma que os abusos chegaram aos mais altos escalões da Santa Sé.
Antes de ser condenado, Pell chegou a ser acusado de encobrir abusos sexuais de crianças cometidos por padres.
As acusações na Austrália surgiram após a criação de uma comissão, pelo governo em 2012, para investigar todas as instituições do país em que havia acesso a crianças e analisar as respostas dessas instituições ao abuso infantil.
O cardeal de 77 anos poderá ter de trocar o Palácio Apostólico por uma cela de prisão.
Seu mandato de cinco anos como Prefeito da Secretaria da Economia expirou em 24 de fevereiro.

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