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Ramaphosa, um ex-sindicalista convertido em bilionário no comando da África do Sul - AGÊNCIAS EL PAÍS Twitter Google Plus Joanesburgo 15 FEV 2018

Presidente da CNA substitui Jacob Zuma, que, sob pressão, decidiu renunciar ao cargo

Cyril Ramaphosa toma posse.
Cyril Ramaphosa toma posse.  AP
Cyril Ramaphosa foi eleito nesta quinta-feira como o novo presidente da África do Sul, em substituição a Jacob Zuma. Presidente do Congresso Nacional Africano (CNA, o hegemônico partido governante que chegou ao poder em 1994, com Nelson Mandela) e único postulante ao cargo, ele tomou posse numa sessão do Parlamento que começou às 14h (10h em Brasília) na Cidade do Cabo.
Ramaphosa, que assumiu em dezembro a liderança do CNA, buscava agora a saída do seu ex-aliado Zuma, salpicado por vários casos de corrupção, a fim de evitar uma catástrofe eleitoral nas eleições gerais de 2019. O novo mandatário, um ex-sindicalista que virou milionário, prometeu reativar a economia do país, há bastante tempo estancada, e erradicar a corrupção que assola o seu partido e a cúpula do Estado.
Após semanas de tensões, o CNA, que governa a África do Sul desde o final do apartheid, em 1994, acolheu a renúncia de Zuma com alívio. “Não vamos comemorar”, declarou o dirigente partidário Jessie Duarte na quarta-feira. “Tivemos que ‘retirar’ um líder que serviu ao nosso movimento durante mais de 60 anos, não é algo fácil.”A mudança na presidência do país ocorre depois de Zuma ceder às pressões do CNA e anunciar sua renúncia, fragilizado por um escândalo de desvio de recursos públicos. Apesar de discordar da decisão do seu partido – que na terça-feira o convidou a entregar a presidência do país –, Zuma renunciou definitivamente nesta quarta-feira por volta de meia-noite. “Cheguei à decisão de renunciar à presidência da República com efeito imediato”, disse ele um em um discurso transmitido ao vivo pela televisão.

De sindicalista a empreendedor milionário

Ramaphosa, nascido há 65 anos em Soweto, foi militante estudantil nos anos setenta e, após se formar em direito, se dedicou totalmente ao sindicalismo, fundando em 1982 o Sindicato Nacional de Mineiros (NUM). À frente dessa organização, lutou contra o regime racista do apartheid. Sua trajetória foi abalada pelo massacre policial que matou 34 mineiros, em 2012, na mina de Marikana. Na época, Ramaphosa ocupava o cargo de diretor não executivo na Lonmin, multinacional dona da mina. Pouco antes do episódio – o pior envolvendo a polícia desde o fim do regime racista – Ramaphosa havia pediu repressão aos grevistas.
Já na década de 1990, Nelson Mandela fez do jovem sindicalista uma das figuras convocadas a negociar a transição política com o poder branco, por considerá-lo “um dos mais talentosos da nova geração”. Candidatou-se a liderar o CNA após a aposentadoria de Mandela, mas os caciques do partido o preteriram e optaram finalmente por Thabo Mbeki.
Quase um quarto de século depois, Ramaphosa chega ao poder depois de se tornar, nesse meio tempo, um bem-sucedido empresário que conseguiu acumular uma fortuna equivalente a 1,5 bilhão de reais, segundo o ranking de 2015 da revista Forbes  e não faltam insinuações de que seu império, que inclui negócios da mídia e até a franquia sul-africana do McDonalds, foram alcançadas graças a sua influência política. Neste longo trajeto até a presidência, a imagem moderada e seu passado de herói na luta contra o apartheid ajudaram esse hábil negociador a concretizar a maior ambição da sua vida: governar a África do Sul.

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