Fake news ganha espaço no Facebook e jornalismo profissional perde - Raphael Hernandes - FOLHA DE SÃO PAULO
Em janeiro, páginas de notícias falsas engajaram cinco vezes mais do que as de jornalismo 8.fev.2018 - Natália Portinari
SÃO PAULO
Do último trimestre do ano passado até o momento, as páginas brasileiras de notícias falsas e sensacionalistas ganharam engajamento no Facebook, e o jornalismo profissional apresentou queda.
É o que mostra análise feita pela Folha com base em 21 páginas que postam "fake news" e 51 de jornalismo profissional. A taxa média de interações no primeiro grupo aumentou 61,6% entre outubro do ano passado e janeiro deste ano. Já o segundo grupo viu queda de 17% no mesmo período.
As interações dos usuários com as páginas, incluindo curtidas, reações, comentários e compartilhamentos, foram analisadas de outubro de 2017 até 3 de fevereiro.
As páginas consideradas disseminadoras de "fake news" foram identificadas após buscas na plataforma. Variam de pequeno porte, de 14 mil seguidores, a grande porte, com mais de 2 milhões. Elas postam também notícias verdadeiras, próprias ou replicadas de outros veículos.
Já entre os veículos noticiosos estão páginas da imprensa de diferentes regiões do país, variando de 150 mil a 10 milhões de seguidores.
Em outubro, as páginas sensacionalistas engajavam, em média, duas vezes e meia a taxa da Folha e outros veículos. A diferença aumentou para cinco vezes em janeiro.
NOVO ALGORITMO
Após ser anunciada uma alteração no algoritmo do Facebook, em janeiro, as "fake news" sofreram leve queda nas interações, padrão que se repete em toda a rede social.
Páginas não ligadas a jornalismo analisadas pela reportagem, incluindo jogadores de futebol, órgãos públicos e marcas, sofreram queda de 30% nas interações.
"Ainda é um espaço curto de tempo para analisar a mudança. O engajamento varia muito com o humor político, no dia do julgamento do Lula ou um feriado sem notícias", diz Pablo Ortellado, pesquisador de política e mídia na USP (Universidade de São Paulo) e colunista da Folha.
Procurado para comentar o aumento das interações em posts de "fake news", o Facebook afirma que "o engajamento de páginas não oferece uma leitura correta sobre o alcance a distribuição no feed de notícias, já que usamos uma ampla combinação de sinais para medir interações significativas".
A plataforma chama de "interações significativas" as que vão prevalecer depois da mudança do algoritmo. A rede social diz, ainda, que o ajuste anunciado em janeiro beneficiará "notícias de qualidade" em todo o mundo.
A análise usou os dados do CrowdTangle, ferramenta do próprio Facebook, que mapeia publicações feitas por páginas. Ou seja, não leva em consideração links para sites de fake news ou de jornalismo profissional compartilhados diretamente por usuários em seus perfis pessoais.
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