Igreja do país escandinavo esclarece que não se trata de uma proibição, mas de uma atualização da linguagem clerical para se referir a uma figura que transcende o humano
A Igreja Luterana da Suécia deixou de se referir a Deus no masculino, para estimular o gênero neutro. O argumento é que se trata de uma figura que transcende o humano e que não há motivo, portanto, para continuar a chamá-la de “Senhor”. A medida foi aprovada pela grande maioria dos 251 membros da Assembleia da igreja do país escandinavo e visa a impulsionar o uso de uma linguagem “mais inclusiva”.
A instituição deixa claro, porém, que não se trata de uma proibição, mas sim de uma atualização dos termos utilizados, a fim de adaptá-los à época atual, segundo a imprensa local. “Os manuais [desta corrente religiosa] são de 1986 e a nova edição se alinha mais com a tradução sueca da Bíblia do ano 2000”, afirmou Sofija Pedersen Videke, diretora do comitê de serviço de adoração da Igreja, que se envolveu fortemente nos trabalhos em torno do novo manual antes de ele ter sido apresentado à Assembleia da Igreja e à imprensa. A decisão foi tomada quinta-feira passada, após oito dias de reuniões entre os membros da Igreja Evangélica Luterana da Suécia e, de acordo com o diário britânico The Guardian, entrará em vigor no próximo dia 20 de maio, dia de Pentecostes.
Uma parte da linguagem que se pretende atualizar nas canções, liturgias, homilias e sermões inclui três modalidades para as palavras usadas no início dos serviços religiosos, sendo uma delas expressa no gênero neutro: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, “Em nome de Deus, do Pai, do Filho e do Espírito Santo” e “Em nome de Deus trino”. Além disso, a Assembleia da Igreja também decidiu ser possível expressar o Espírito Santo no feminino, de acordo com a interpretação da Bíblia sueca de 17 anos atrás.
Mais especificamente, o prenome “ele” foi excluído de uma oração da Glória: "Ära åt Gud i höjden och frid på jorden bland människor som han älskar" (“Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens que [ele] ama”), segundo a imprensa local.
“Sabemos teologicamente que Deus está mais além das nossas definições de gênero. Deus não é humano”, afirmou à agência AP a bispa sueca Antje Jackelén. A polêmica, no entanto, não deixou de acontecer. Segundo Christer Pahlmblad, professor associado de teologia na Universidade Lund da Suécia, a medida acabará “minando a doutrina da Trindade e a união com as outras igrejas cristãs”, registra o Guardian citando o jornal dinamarquês Kristeligt Dagblad. “Não é algo inteligente que a Igreja da Suécia seja conhecida como uma igreja que não respeita o legado da teologia comum”, declarou.
A mudança ocorreu a partir de uma iniciativa de Kenneth Nordgren, membro dos Liberais Livres, dentro da Assembleia da Igreja. Trata-se de “dar um passo a mais em relação à linguagem inclusiva e indicar (...) que é preferível um pronome oculto para se referir a Deus”, disse ele, segundo o The Local.
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