Hip hop: como nasceu o gênero musical que transformou a música - POR: EL PAÍS - MADRI - ALBERTO LÓPEZ
Doodle interativo celebra os 44 anos do gênero que nasceu em Nova York e se espalhou pelo mundo
Em 11 de agosto de 1973, uma festa no número 1520 da Sedgwick Avenue, no Bronx (Nova York), deu início a uma nova corrente musical e cultural: o hip hop. Seus participantes não imaginavam o que estava para acontecer ali. Para eles, era só mais uma festa num dos inúmeros edifícios de tijolo aparente daquela área, com 18 andares, conhecidos como moradias sociais. Para a celebração dos 44 anos do início do gênero musical, nesta sexta-feira, o Google criou um doodleque faz um percurso interativo pela história dele e por seu impacto em todos os sentidos.
No dia da famosa festa, a jovem Cindy Campbell decidiu convidar muitos jovens do bairro para uma festa que marcava o início do ano letivo. A entrada custava 25 centavos de dólar para as meninas e 50 centavos para os rapazes (respectivamente 4,30 e 8,60 reais, em valores atualizados), e ainda se conservam cópias dos cartões manuscritos que serviram de convite. A festa aconteceu na área comum do edifício, e a grande atração era o irmão mais velho da jovem, Clive, de 18 anos e origem jamaicana, que por sua grande coleção de discos já era conhecido como DJ Kool Herc.
Na festa, Kool Herc criou o som break (quebra), porque é o trecho da música que rompe a seleção rítmica ao girar dois discos idênticos na mesa de mixagem. O que ele conseguia era prolongar a parte instrumental das canções, ao mesmo tempo em que introduzia sonoridades arranhadas, dando ritmos novos e desconhecidos à música disco da época, embora essa mistura de rock, pop, disco, jazz e blues ainda fosse demorar vários anos para ser conhecida com o nome de hip hop.
Como se fosse pouco, a revolução musical ficou completa quando um amigo do Herc, Coke La Rock, pegou um microfone e começou a improvisar rimas. Definitivamente, é possível dizer que assim nascia o hip hop.
A partir daí, o break se popularizou e começou a ser usado como base para as canções de hip hop, sobre as quais os rappers podiam deixar fluir suas rimas, e foi o principal aliado para que os breakdancers mostrassem suas habilidades de dança. Com o passar dos anos, começaram a ser usados sintetizadores, caixas de ritmos e samplers para criar os sons que o jovem Herc popularizou a partir daquela festa do Bronx nos anos setenta.
O hip hop é conhecido mundialmente como uma corrente musical baseada em rimas declamadas em grande velocidade sobre uma base rítmica, mas na realidade é o movimento cultural que engloba quatro manifestações artísticas: DJ, MC (mestre de cerimônias), breakdance e grafite.
O DJ, ou disc-jockey, é a pessoa que cria e reproduz pistas musicais numa mesa de mixagem. A produção do DJ é parte fundamental dentro do rap, já que serve como base para a rima do MC. Entre as técnicas empregadas pelos DJs se destaca o scratching, que consiste em mover o disco de vinil para frente e para trás sobre o aparelho de reprodução, repetidas vezes, para gerar um som de transição entre ritmos.
O mestre de cerimônias, ou MC, é a pessoa que interpreta o gênero musical conhecido como rap. Nascido com influências do soul, do funk e inclusive dos ritmos latinos, os rappers ou MCs transmitiam, sobretudo no começo, seu descontentamento social, seu inconformismo e sua denúncia social com uma poesia lírica muito fluida.
O break é a forma como os conhecidos B-boys dançam rap. Apesar de ter evoluído, os jovens que o praticam costumam desafiar-se individualmente ou em grupo para superar os passos que vão sendo feitos. Os mais característicos vão desde manter-se em equilíbrio durante vários segundos sobre as mãos e a cabeça e girar freneticamente sobre as costas no chão.
O grafite é o quarto elemento do movimento cultural do hip hop, apesar de ter se desenvolvido antes da irrupção. Consiste em pintar com tinta spray um texto ou desenho chamativo sobre um muro. Normalmente o texto corresponde à assinatura do autor, apesar de também ser às vezes um texto mais criativo e abstrato realizado com a finalidade de impactar visualmente e agir, assim como o rap, para chamar a atenção.
Quando o hip hop se tornou um fenômeno mundial, surgiram clubes com esse tipo de música, e foram gravados discos que eram número um em todas as listas. Mas o DJ Kool Herc, o verdadeiro artífice do hip hop, não pôde colher os frutos do sucesso. Poucos anos depois da festa de 1973, o jovem foi gravemente ferido em uma briga e depois acabou caindo nas drogas.
O Bronx procura há anos rentabilizar a herança do movimento hip hop, e a administração pública recuperou locais emblemáticos de seu início.
No doodle comemorativo do Google, quando acaba a explicação da efeméride, é possível usar os comandos de uma mesa de mixagem com dois pratos nos quais se troca os discos, os quais também podem ser escolhidos a partir de uma ampla seleção oferecida pelo Google. Além disso, o doodle oferece a possibilidade de brincar de scratch e de praticar com o controle do crossfader, com a velocidade e a sincronia de cada vinil. Os desafios propostos pelo doodle vão aumentando em relação à complexidade e à variedade dos temas escolhidos.
Nestes 44 anos, esse gênero musical deu ao mundo inúmeros sucessos e artistas e bandas do naipe de Wu-Tang Clan, Tupac Shakur, Notorious B.I.G., Wyclef Jean, Jay-Z, Kanye West, Eminem, P. Diddy, Grandmaster Flash, Public Enemy, Kurtis Blow e Sugarhill Gang.
Tudo parece estar, portanto, justificado neste dia, já que não à toa o hip hop tem mais influência do que pensamos em nossas vidas; não só na música e na dança, como também na arte e na moda.
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