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OBSERVANDO A PAUTA - A REVOLUÇÃO RUSSA - FONTE: SPUTNIK BRASIL


Reprodução do quadro Revolução de Fevereiro de Vladimir Kuztensov, ano de 1926

'Revolução de Fevereiro foi profundamente progressista, não teve igual'

© Sputnik/ Arquivo da Sputnik
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A Revolução de Fevereiro nunca foi repercutida de mesma forma que a de Outubro, mesmo na Rússia – sem falar de países tão distantes como os da Península Ibérica. A historiadora portuguesa Raquel Varela comenta os acontecimentos históricos daqueles dias e revela o que eles representaram para a humanidade.

Em uma entrevista à Sputnik Brasil, a conhecida historiadora e blogueira de Portugal, Raquel Varela, do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, revelou que o movimento de fevereiro de 1917 na Rússia ecoou fortemente em outros países e até em Portugal.
É importante se dar de conta que naquela época em Portugal já tinha sucedido sua própria "Revolução de Fevereiro" (entre 2 e 5 de 1910) que resultou em proclamação da República Portuguesa. Deste modo, na sequência da revolução impulsionada pelo Partido Republicano português, foi derrubado o regime de monarquia e implantado o republicano.
"Então, é assim: a nossa revolução republicana é uma revolução burguesa, com participação operária contra as facções da nobreza. A Revolução de Fevereiro, é, digamos, uma revolução democrática, ou burguesa, contra também o regime tzarista, mas ela rapidamente se transforma numa revolução social, vitoriosa, em outubro", explicou a especialista, assinalando que, deste modo, a revolução na Rússia se efetuou "em dois atos".
"A República [ou seja, a Revolução de Fevereiro na Rússia] nunca se transformou em uma revolução vitoriosa. O movimento operário começa a ser logo combatido pelos republicanos. Ou seja, até 25 de outubro [Revolução de Outubro] há uma aliança, mas a partir daí — não", prosseguiu a historiadora, indicando para a chamada "dualidade de poderes" que se formou na época entre as duas grandes revoluções — por um lado, o Soviete de Petrogrado como órgão do povo e, por outro, o Governo Provisório como a força da burguesia.
Raquel Varela adiantou que, na opinião dela, a revolução na Rússia (se assumirmos que ela se realizou em "dois atos") e a Segunda Guerra Mundial são dois acontecimentos grandes que, no final, determinaram a pauta da história da humanidade no século XX.
A historiadora acrescentou que a influência destes acontecimentos sobre a sociedade portuguesa não foi tão forte como, por exemplo, na Espanha:
"Em Portugal há pouco impacto [da revolução russa] como foi, por exemplo, na Espanha. (…) Em Portugal, a única notícia que há é a comuna do Vale de Santiago [anarquistas locais formaram um grupo encabeçado por António Gonçalves Correia e proclamaram o chamado fim do mundo, o que levou a motins de camponeses nos tempos da crise de 1918], embora se fale das outras semelhantes."
Ao analisar os paralelos históricos e as conclusões que nós podemos tirar passados 100 anos desde a Revolução de Fevereiro, que eclodiu em 23 de fevereiro de 1917, Raquel Varela observa:
"O balanço da revolução russa mostrou que o capitalismo gera tantas desigualdades que vai sempre originar revoltas e revoluções, mas os primeiros anos da revolução russa [de Fevereiro] foram profundamente inspiradores, sofrendo grande retrocesso com a ascensão de Estaline [Stalin] ao poder."
"Penso que as duas principais [conclusões] da revolução russa é, um, que vale a pena lutar contra os regimes déspotas e contra, digamos, a exploração do trabalho, a penúria e a miséria. Mas [segundo] que esse movimento tem que ser um movimento sobretudo internacional porque noutro caso pode degenerar, como degenerou (…) na União Soviética", afirmou a acadêmica, adiantando que tais revoluções são bem-sucedidas só quando se realizam em escala global e não no contexto de um só país.
Sabe-se que na sequência do movimento de fevereiro foi proclamado um conjunto extremamente ambicioso de direitos civis que, com efeito, não tinha precedentes em outros países naquela época. Raquel Varela explicou por que esta iniciativa, na prática, nunca chegou a ser realizada:
"A revolução burguesa fracassou, mas a revolução social foi vitoriosa. A revolução burguesa fracassou porque manteve a continuidade da guerra e não houve nenhuma alteração na estrutura da propriedade da terra. Isso foi determinante para o falhanço da revolução burguesa e a vitória [dos bolcheviques]."
A blogueira portuguesa, que tem mais de 20 mil seguidores no Facebook, onde partilha suas ideias sobre todo o tipo de acontecimentos atuais e históricos, frisou que a Revolução de Fevereiro também fez sua contribuição para os movimentos sufragista e feminista:
"Nenhum regime democrático ou liberal, nenhum, chegou ao nível da amplitude de direitos de mulheres que foram instituídos pela revolução russa. Mas, como digo, sofreram forte revés a partir de 1927-1928", analisa a historiadora. "Mas a instituição de lavandarias públicas, creches públicas, o acesso das mulheres ao voto, à carreira diplomática, o código da família — tudo isso foi determinante e muito mais avançado que em qualquer outro país", realçou.
"Ela [a Revolução de Fevereiro] foi uma revolução profundamente progressista, democrática, e, portanto, um avanço substancial na história de humanidade, sem dúvida alguma", concluiu Raquel, assinalando a importância preservada de um feriado como o Dia Internacional das Mulheres instituído por iniciativa de Clara Zetkin.

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