Pular para o conteúdo principal

OBSERVANDO A PAUTA - Vem autobiografia aí e João Gordo já avisa: "Sou exemplo do que não fazer" - Pedro Carvalho Do UOL, em São Paulo - G1

  • Lucas Lima/UOL
    João Gordo no estúdio do UOL durante entrevista sobre sua autobiografia
    João Gordo no estúdio do UOL durante entrevista sobre sua autobiografia
Autodefinido como "um senhor de 52 anos", João Gordo sentiu que havia chegado a hora de contar sua história. Com ajuda do jornalista André Barcinski, o vocalista e apresentador de TV lança este mês o livro "Viva La Vida Tosca" (Ed. DarkSide), em que reúne suas memórias, desde a infância na Zona Norte de São Paulo à fama televisiva no século 21.
O livro, que estará nas lojas a partir do dia 23 de novembro, faz rir com histórias saborosas de brigas, drogas e tudo o que se espera de um ícone punk. Mas, mais do que isso, mostra outras dimensões de João Gordo do que a do personagem trash que o grande público conheceu pela televisão a partir dos anos 1990.
"Sempre tive uma imagem caricata. Por causa dessa imagem que eu passei pela televisão de escroto, o gordão drogadão, o doidão, as pessoas deviam me ver e pensar: 'Ele é um burro, um tapado'. Mal sabem como eu sou realmente", diz.
Nas 320 páginas, Barcinski mostra como João Francisco Benedan, o menino que decorava enciclopédias na década de 1970, viu no punk o antídoto para o autoritarismo do pai policial e viveu todo tipo de excessos até se tornar ele mesmo um pai de família responsável e amoroso.
O livro foi escrito após quase um ano e meio de entrevistas, não só com João Gordo, mas também com parceiros e parentes. Mas os preparativos demoraram mais de 20 anos. "Sempre contei minhas histórias para o Barcinski e ele sempre rachou o bico. Desde o começo dos anos 1990 ele dizia que eu tinha que fazer um livro".
Narrado em primeira pessoa, o livro é fiel à linguagem desbocada e informal do protagonista, mas mostra que por trás dos palavrões que existe uma personalidade sensível e cerebral, sem a qual o João Gordo que conhecemos hoje não existiria. "Quando você é criança e gordo você é nerd. Ou você é magro, joga bola bem e anda de bicicleta ou vai ficar em casa. Eu ficava brincando de Forte Apache, vendo 'Os Três Patetas' e estudando enciclopédia. 'Os Bichos', 'Conhecer', 'Barsa', eu adorava tudo isso", conta.

De gordinho nerd a ícone punk

"Viva La Vida Tosca" sai quase simultaneamente a outro livro de memórias de um ícone do punk nacional, "Garotos em Fúria", parceria do vocalista e guitarrista dos Inocentes, Clemente Nascimento, com o escritor Marcelo Rubens Paiva. "Um livro complementa o outro", diz Gordo.
Outra comparação óbvia é com a biografia de Tim Maia "Vale Tudo", de Nelson Motta. Os dois biografados compartilham não só o porte físico, mas também o escracho e a tendência aos excessos. A diferença é que João Gordo conseguiu domá-los. "Nunca fui toxicômano, de ter crise de abstinência. Sou é cara de pau e sem vergonha, mas se não fosse minha família eu estaria na Cracolândia. Já levei meus filhos lá com 5 e 6 anos de idade e disse: 'Olha o "Walking Dead" aqui'". 
Os filhos, aliás, agora podem ler sobre as peripécias do pai num livro que relata, em detalhes gráficos, episódios que envolvem não apenas drogas, mas sexo, violência e outros assuntos que a maioria dos progenitores preferiria esconder. "Sou um exemplo do que eles não devem fazer", define Gordo.
Entre os maus exemplos há ainda pequenos trambiques, como quando pegava dinheiro escondido do caixa na lendária casa noturna Napalm e quando tentou fugir de ônibus com o equipamento do Capital Inicial. Sem falar na mentalidade primitiva de muitos dos punks paulistanos no início da década de 1980. "A gente só não era racista, o resto a gente era tudo: machista, homofóbico, tudo que não presta. Fora um ou outro ali, nossa noção de ideologia era rudimentar".
Ainda assim, acredite se quiser, nem tudo entrou no livro. "Tenho meus esqueletos no armário. Também não vou abrir meu cu assim e falar: 'Olha aí, pessoal'". Mas se João Francisco era um gordinho nerd da Zona Norte, João Gordo é um ídolo para milhares de jovens no Brasil. Será que o livro não é um mau exemplo para eles? Qual um Nelson Rodrigues punk de 52 anos, ele proclama, rindo: "Fodam-se os jovens!"
Reprodução
Capa do livro "Viva La Vida Tosca", de João Gordo e André Barcinski

Seis fatos insólitos sobre João Gordo em "Viva La Vida Tosca"

- Foi campeão de xadrez na escola, estudava e lia livros sobre o assunto. Um de seus ídolos de infância era o enxadrista Mequinho, que anos depois ficou perplexo ao ser reconhecido no aeroporto pelo ícone punk.
- Herdou a inteligência do pai, o policial militar Milton Benedan. "Seu Milton" como era conhecido aprendeu a falar espanhol, turco, árabe e armênio na juventude quando trabalhava em lojas da Rua 25 de Março. Na meia idade, descobriu uma ascendência judaica, decidiu aprender hebraico e chegou a viajar para Israel.
- Curte Carnaval e chegou a ser mestre de bateria em um bloco na adolescência quando foi obrigado pelo pai a morar em Angatuba, interior de São Paulo, após repetir de ano e se envolver com o punk.
- Em 1983 fez figuração junto com outros punks paulistanos célebres na novela "Eu Prometo" da Rede Globo, a última da autora Janete Clair.
- Trabalhou como recepcionista de um flat na região da Rua Augusta onde morava o repórter Roberto Cabrini.
- Certa vez, nos anos 1990, deixou de ver o show de uma de suas bandas favoritas, o AC/DC, para ver a cantora islandesa Björk.
Ampliar

Ratos de Porão: 30 anos de carreira22 fotos

2 / 22
A banda reproduz a capa do álbum "Descanse em Paz" (1986) no final da década de 80Imagem: Arquivo pessoal

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carta das Centrais Sindicais ao Presidente Bolsonaro

“EXMO. SR. JAIR MESSIAS BOLSONARO MD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL BRASÍLIA – DF Senhor Presidente, As Centrais Sindicais que firmam a presente vem, respeitosamente, apresentar-se à Vossa Excelência com a disposição de construir um diálogo em benefício dos trabalhadores e do povo brasileiro. Neste diálogo representamos os trabalhadores, penalizados pelo desemprego que atinge cerca de 12,4 milhões de pessoas, 11,7% da população economicamente ativa (IBGE/PNAD, novembro de 2018) e pelo aumento da informalidade e consequente precarização do trabalho. Temos assistido ao desmonte de direitos historicamente conquistados, sendo as maiores expressões desse desmonte a reforma trabalhista de 2017, os intentos de reduzir direitos à aposentadoria decente e outros benefícios previdenciários, o congelamento da política de valorização do salário mínimo e os ataques à organização sindical, as maiores expressões deste desmonte. Preocupa-nos sobremaneira o destino da pol

19 Exemplos de publicidade social que nos fazem pensar em problemas urgentes - POR: INCRÍVEL.CLUB

Criadores de propagandas de cunho social têm um grande desafio: as pessoas precisam não apenas notar a mensagem, mas também lembrar dela. Você deve admitir que, mesmo passados vários anos, não consegue tirar da cabeça algumas peças publicitárias desse tipo, que fizeram com que passasse a enxergar determinadas situações sob uma outra ótica. Se antes as propagandas sociais abordavam tmas como a poluição do meio ambiente com plástico e o aquecimento global, hoje existem campanhas sobre os perigos do sedentarismo, os riscos que o tabagismo representa aos animais em decorrência do aumento de incêndios florestais e até sobre a importância das férias para a saúde humana. São, portanto, peças que abordam problemas atuais e familiares para muita gente. Neste post, o  Incrível.club  mostra a você o que de melhor foi criado recentemente no campo das propagandas de cunho social. Fumar não é prejudicial apenas à sua saúde, mas também aos animais que vivem em áreas que sofrem com incênd

Empresas impõem regras para jornalistas

REDE SOCIAIS Por Natalia Mazotte em 24/5/2011 Reproduzido do Jornalismo nas Américas http://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ , 19/5/2011, título original: "Site de notícias brasileiro adota regras para o uso das redes sociais por jornalistas"; intertítulo do OI Seguindo a tendência de veículos internacionais , o site de notícias UOL divulgou aos seus jornalistas normas para o uso de redes sociais , de acordo com o blog Liberdade Digital. As recomendações se assemelham às já adotadas por empresas de notícias como Bloomberg , Washington Post e Reuters : os jornalistas devem evitar manifestações partidárias e políticas, antecipar reportagens ainda não publicadas ou divulgar bastidores da redação e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do site. Segundo um repórter do UOL, os jornalistas estão tuitando menos desde que as diretrizes foram divulgadas . "As pessoas estão tuitando bem menos. Alguns cogitam deletar seus p