NBA DIZ ´BASTA!`
22-09-2016 07:30
Estrelas da NBA contra a violência entre polícia e negros nos EUA. Este ano a polícia já matou 782 pessoas. Desses, 193 eram negros.
Por SAPO Desporto sapodesporto@sapo.pt
A frase é de Rajon Rondo, estrela da NBA, e mostra bem o desagrado da comunidade negra dos EUA para com a violência policial. A morte de mais um afro-americano, aparentemente desarmado, pela polícia, fez reacender a questão da discriminação racial nos EUA e a violência policial para com as minorias, principalmente os negros. Este ano a polícia dos EUA já matou 782 pessoas. Desses, 193 eram negros.
O país voltou a estar em alerta com a possibilidade de novas revoltas, devido a tensão social que se vive um pouco por toda a América. A morte do afro-americano Terence Crutcher às mãos da polícia em Tulsa, Oklahoma, trouxe à baila a questão do racismo e da violência policial contra os afro-americanos. A sociedade norte-americana já se manifestou, pedindo o fim da violência.
Black Power do séc. XXI: Carmelo Anthony lidera a ´revolução`
As estrelas do desporto do país não estão alheias a esta tensão racial e muitos não tardaram em reprovar o último incidente em que a polícia disparou sobre Terence Crutcher, um afro-americano que, aparentemente, estava desarmado. Aproveitando a sua condição, as altas figuras do desportivo converteram-se em porta-vozes da luta pelos direitos civis e aproveitaram a redes sociais para deixar a sua posição sobre o tema.
Esta ´revolução` política do desporto está a ser liderada por Carmelo Anthony, jogador dos New York Knicks, da NBA. "Faço um apelo aos meus colegas atletas. Temos de assumir as nossas responsabilidades e atuar. Não podemos ficar de braços cruzados, não devemos ter medo de nos meter em assuntos políticos. Não te preocupes se vais perder um acordo de patrocínio ou se as pessoas nos vejam como estúpidos. Precisamos ouvir a tua voz", pediu a estrela dos Knicks.
Dwyane Wade, Rajon Rondo o Russell Westbrook foram os primeiros a unirem-se a Carmelo e manifestar a sua repulsa pela morte de Crutcher.
"Temos de estar mais juntos. Devemos mostrar a nossa força como comunidade negra, agora mais do que nunca. Caso contrário, continuaremos a acordar com histórias de como estamos a ser abatidos [pela polícia] como se não valêssemos nada", escreveu o jogador na sua conta no Instagram, numa mensagem ilustrada com uma imagem em negro com a hastag #TerenceCrutcher.
Rajon Rondo, novo companheiro de Wade nos Chicago Bulls foi mais duro nas palavras.
"Diz-me uma coisa: ´como é que um negro desarmado cujo carro avariou-se e precisava de ajuda é baleado e assassinado pela polícia e o suspeito de colocar uma bomba em Nova Iorque é detido e está vivo? Penso que ser negro é mais perigoso que ser terrorista. Mesmo desarmado, com as mãos levantadas e pedindo ajuda, é um crime ser negro", escreveu o jogador nas redes sociais. Rondo referia-se ao caso de Ahmad Khan Rahami, um americano de origem afegã, que foi detido pela polícia em Linden, Nova Jersey, no dia 19 de setembro. Rahami é o principal suspeito de ter feito explodir uma bomba artesanal no dia 17 de setembro no bairro de Chelsea em Manhatan, Nova Iorque, na noite de sábado para domingo, e que fez 29 feridos.
Também Russell Westbrook, estrela do Oklahoma City Thunder, reagiu na mesma linha.
"Um terrorista colocou uma bomba em Nova Iorque, há um tiroteio com a polícia, apenas leva um tiro de raspão, é detido e colocado a salvo. Um homem com uma avaria no carro em Tulsa é mandado parar e depois baleado. [...] Não estava armado nem estava a cometer qualquer crime. [...] e depois temos de ouvir as pessoas a dizer que ele devia ter obedecido. Como se isso tivesse algo a ver com matar um homem desarmado. Parem com as desculpas. Foi a sua cor de pele que o matou", escreveu o jogador, numa longa mensagem publicada nas redes sociais.
Durante o ESPY Award (gala da ESPN que premeia, desde 1993, todos os campos de excelência do desporto nos EUA, num total de 38 categorias, individuais e coletivas), LeBron James, Dwyane Wade, Carmelo Anthony e Chris Paul subiram ao palco e pediram a outros atletas para intervirem e ajudar a travar a violência nos EUA, entre a polícia e a comunidade afro-americana.
Os líderes: Carmelo Anthony na NBA, Colin Kaepernick na NFL
Esta revolução das estrelas da NBA começou com Carmelo Anthony mas rapidamente outros jogadores negros e com muita influência na NBA uniram a sua voz para condenar a violência policial contra os afro-americanos nos EUA.
Carmelo converteu-se no líder dos direitos civis na NBA, da mesma forma que Colin Kaepernick se converteu no símbolo desta luta na NFL (futebol americano). O quarterback dos San Francisco 49ers recusou-se a levantar para cantar o hino dos EUA antes dos jogos da NFL como sinal de protesto contra o sistema que considera opressora contra os negros.
"Não vou levantar-me e mostrar orgulho para com uma bandeira de um país que oprime os negros e pessoas de cor. Para mim, isto é mais importante que o futebol [americano] e seria egoísta da minha parte estar do outro lado", disse o jogador, quando questionado sobre a sua atitude.
O seu gesto foi muito criticado nos EUA, principalmente pela maioria branca mas os afro-americanos e as outras minorias colocaram-se ao lado do jogador dos 49ers. Kaepernick chegou mesmo a ser ameaçado de morte.
Rapinoe apoia a luta de Kaepernick
Esta luta por direitos civis não se cinge apenas a raça. O gesto de Kaepernick estendeu-se até ao futebol feminino e foi imitado por Megan Rapinoe, de 31 anos.
A jogadora de futebol da seleção dos EUA, que já ganhou mundiais de futebol e foi ouro nos Jogos Olímpicos imitiu o gesto de Kaepernick aquando do jogo entre os Seattle Reign e os Chicago Red Stars: ajoelhou-se na altura em que tocava o hino dos EUA.
“Sendo gay nos EUA, sei o que é olhar para a bandeira e sentir que as nossas liberdades não são protegidas. É um pequeno gesto que posso fazer e algo que planeio continuar a fazer no futuro, para que, quem sabe, se possa iniciar uma conversa significativa sobre o tema. É importante que as pessoas de raça branca se afirmem no apoio aos negros. Não temos de ser nós a liderar, claro, mas mostrar o nosso apoio já é muito poderoso", considera Rapinoe, ela que é lésbica.
De acordo com os números recolhidos pelo projeto ´A contagem: número de pessoas mortas pela polícia nos EUA` do jornal ´The Guardian`, Crutcher foi uma das 782 pessoas mortas pela polícia este ano nos EUA. Desses, 193 eram negros, o que faz com esta seja a comunidade mais afetada, em proporção, logo a seguir à dos nativos norte-americanos (4,83 e 4,59 por milhão de habitantes da mesma etnia).
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