A Petrobras, agora sob presidência de Pedro Parente, que substiutiu Ademir Bendine na última quinta-feira, 2, pretende mudar sua participação obrigatória de 30% da empresa nas parcerias que detém com outras operadoras na exploração da camada do pré-sal no litoral brasileiro.
A intenção foi manifestada por Parente logo no dia da posse, alegando que,"como a lei está, não atende aos interesses da empresa nem do país". O novo dirigente defende uma ampla revisão do pré-sal e alega que, se a exigência não for revista, vai se retardar sem previsão a exploração dos campos. Parente afirmou ainda que a companhia vai seguir com o plano de desinvestimentos, ou seja, a venda de ativos e subsidiárias que não forem consideradas mais necessárias.
A camada do pré-sal foi descoberta pela Petrobras em 2006 em um trecho de 800 quilômetros do litoral brasileiro do norte do Espírito Santo até Santa Catarina em reservas entre 1 mil e 2 mil metros da lâmina d´água com jazidas situadas entre 4 mil e 6 mil metros de profundidade no subsolo. Estudos preliminares projetam que elas guarde 80 milhões de barris de petróleo, o que seria a sexta maior reserva mundial do combustível, deixando o Brasil na sexta posição atrás apenas da Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait e Emirados Árabes Unidos.
Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, considerado um dos maiores especialistas em petróleo e energia no Brasil, contudo, a visão do novo presidente da Petrobras está equivocada. Pinguelli Rosa, que é professor de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), rebate as declarações de Parente e defende justamente o oposto do que é pretendido pelo novo presidente da estatal.
PEDRO BOLLE / USP IMAGENS
Sibá Machado: ‘edução de peso da Petrobras no pré-sal é ato de lesa-pátria’
"Discordo plenamente do que foi falado pelo novo presidente da Petrobras. Acho correto que a Petrobras seja operadora única das plataformas no pré-sal, que foi descoberto por ela que tem a tecnologia. É totalmente equivocada a informação do presidente de que é preciso acelerar a produção do pré-sal. A Petrobras já atingiu um milhão de barris/dia no pré-sal, que é um recorde, maior de longe do que a média mundial."
Segundo o professor da Coppe, a Petrobras deve manter também a política de conteúdo local, porque um de seus papeis é incentivar a tecnologia nacional e a geração de emprego no país. Pinguelli Rosa diz ainda que o novo presidente da Petrobras está totalmente equivocado ao tratar a Petrobras como uma empresa destinada apenas a ter lucro.
"Claro que ela deve ter lucro, mas ela deve cumprir o papel de uma política energética nacional. Não foi para isso que o presidente Vargas se suicidou depois de ter criado a Petrobras e sofrer a maior pressão dos então chamados entreguistas, que queriam entregar o mercado brasileiro ao invés de criar uma empresa estatal."
Com relação às afirmações de Parente que, doravante, caberá à Petrobras e não mais o governo determinar a política de reajuste de preços dos combustíveis, Pinguelli Rosa faz duras críticas à postura.
"Essa é uma posição completamente antipatriótica e antinacional. Nenhuma empresa vive de prestar contas aos acionistas, ela tem que ter estratégias próprias. As grandes empresas multinacionais definem estratégias, servem a objetivos, às vezes de seu controlador, às vezes do seu país."
O especialista reconhece que a estatal tem um alto nível de endividamento, mas aponta a capitalização como melhor caminho para resover os problemas de caixa. Quanto à possibilidade de que mudanças na Lei de Partilha, como defendidas pelo governo, venham trazer mais empresas para investir no setor no Brasil, o professor da Coppe se mostra cético.
"Não vejo como visível, possível ou provável que venham investimentos no médio prazo para o Brasil, porque as empresas de petróleo no mundo estão também com problemas, existe uma superprodução no momento. Várias empresas americanas que exploram o petróleo e gás de folhelho (xisto) estão em dificuldade econômica. Mesmo as grandes multinacionais de petróleo não estão em condições de trazer investimentos para o país no médio prazo."
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