OBSERVATÓRIO - Por que alguns políticos passaram a chamar o Estado Islâmico de 'Daesh' - BRUNO CALIXTO - 02/12/2015 - FONTE: REVISTA ÉPOCA
Reino Unido diz que Estado Islâmico não é "nem um Estado, nem Islâmico", e que passará a chamar o grupo de Daesh. Mas o que é Daesh?
O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, discursou no Parlamento britânico nesta quarta-feira (2) para tentar convencer os parlamentares a aprovar uma ação militar na Síria – e passar a bombardear o Estado Islâmico (EI), assim como já fazem EUA,Rússia e França. Seu discurso, porém, chamou a atenção por uma escolha de palavras. Cameron disse que não mais chamará o grupo terrorista de "Estado Islâmico".
"No futuro, o governo do Reino Unido passará a se referir ao EI comoDaesh, sempre que possível, porque esse culto da morte não é nem um representante legítimo do Islã, nem um Estado", disse o primeiro-ministro, segundo a BBC. Mas o que significa Daesh, e por que o nome do grupo terrorista levanta tantas questões?
O grupo que chamamos de 'Estado Islâmico' foi criado em 1999, batizado inicialmente de Organização do Monoteísmo e da Jihad. Durante a invasão americana no Iraque, o grupo se filiou à rede terrorista internacional al-Qaeda e passou a se chamar Estado Islâmico do Iraque. Em 2013, com a escalada da guerra civil na Síria, os extremistas cortaram laços com a al-Qaeda e absorveram vários grupos terroristas, mudando o nome para al-Dawla al-Islamiya fil Iraq wa’al Sham. Esse nome trouxe confusão para a mídia ocidental. Alguns veículos o traduziram como Estado Islâmico do Iraque e da Síria, o que gerou a sigla ISIS, em inglês, outros como Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que gerou a sigla ISIL. As duas siglas ainda são usadas na imprensa internacional.
Em 2014, o grupo terrorista deu seu passo mais ousado. Após uma série de ataques e conquistas espetaculares na região, incluindo a conquista de Raqqa, na Síria, e de Mossul, no Iraque, o grupo anunciou a criação de um Califado e mudou de novo seu nome, agora para apenas Estado Islâmico.
O EI transformou Raqqa na capital de seu califado, e foi nessa cidade que surgiu o termo Daesh. A história do termo foi contada pelo ativista árabe Iyad el-Baghdadi, em sua conta no Twitter (confira também a entrevista que o ativista concedeu para a reportagem de ÉPOCA sobre o EI). Segundo ele, cidadãos de Raqqa contrários aos terroristas cunharam o termo Daesh, que nada mais é do que as iniciais em árabe do nome al-Dawla al-Islamiya fil Iraq wa’al Sham. Porém, Daesh é também um trocadilho. Ele soa parecido com a palavra "Dahes", que significa "aquele que semeia a discórdia". Ou seja, é uma forma dos ativistas negarem a qualidade de "Estado" ao grupo e, ao mesmo tempo, insultar os terroristas.
Não por acaso, os terroristas odeiam o uso de Daesh. Segundo a NBC, eles até ameaçaram cortar a língua de quem for pego se referindo ao Estado Islâmico com a palavra Daesh. Para políticos como o primeiro-ministro David Cameron, o termo não vai resolver o problema. Mas é uma questão de propaganda. É uma forma de tentar convencer os eleitores de que um ataque na Síria não é uma guerra contra a religião islâmica ou contra um país, mas sim contra um grupo terrorista classificado por Cameron como um "culto da morte".
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