OBSERVATÓRIO - Mentiroso, devasso e anárquico, Carlos Imperial incomodou o regime militar - Guilherme Bryan Colaboração para o UOL, em São Paulo
O ápice foi em 1968, quando enviou, inclusive para alguns desafetos, um cartão de Natal com a imagem dele sentado numa privada e com os dizeres: "Espero que Papai Noel não faça no seu sapato o que eu estou fazendo neste cartão". A brincadeira foi parar nas mãos de um militar, que considerou aquilo um atentado à moral e aos bons costumes, e Imperial foi preso e enviado para Ilha Grande.
A fim de se vangloriar, ele declarou que havia sido torturado e levado um tiro no joelho. Mentira. A marca era de uma cirurgia para retirar varizes e ele havia passado um mês no local tocando violão e passeando no barco do bicheiro Castor de Andrade, com quem até compôs uma música --o episódio é um dos destaques do documentário.
Criador do rock brasileiro
Carlos Imperial teve papel-chave na inserção do rock brasileiro jovem no Brasil, através de pelo menos dois programas que comandou na televisão: "Clube do Rock", na Tupi, e "Os Brotos Comandam", na Continental. "Era um momento muito incipiente do rock nacional e não tinha muito para onde extravasar. Tinha um cara chamado Jair de Taumaturgo com um programa de rádio e TV, mas foi o Imperial quem abriu espaço e ajudou a inventar um pouco uma série de artistas desse momento. Por isso, pode ser chamado de pioneiro do rock brasileiro e da juventude transviada no país, e um dos responsáveis pela explosão da Jovem Guarda anos depois", garante Calil, que frisa o fato de que não sobraram quaisquer imagens desses programas.
Carlos Imperial teve papel-chave na inserção do rock brasileiro jovem no Brasil, através de pelo menos dois programas que comandou na televisão: "Clube do Rock", na Tupi, e "Os Brotos Comandam", na Continental. "Era um momento muito incipiente do rock nacional e não tinha muito para onde extravasar. Tinha um cara chamado Jair de Taumaturgo com um programa de rádio e TV, mas foi o Imperial quem abriu espaço e ajudou a inventar um pouco uma série de artistas desse momento. Por isso, pode ser chamado de pioneiro do rock brasileiro e da juventude transviada no país, e um dos responsáveis pela explosão da Jovem Guarda anos depois", garante Calil, que frisa o fato de que não sobraram quaisquer imagens desses programas.
Utilizando o mesmo nome de um espaço de música e dança comandado por Imperial em Copacabana, no Rio de Janeiro, o "Clube do Rock" começou como um quadro de 15 minutos do programa de variedades "Meio-dia", de Jaci Campos. Logo ganhou autonomia, tornando-se o espaço para a aparição de jovens talentos que, em pouco tempo, estariam fazendo sucesso pelo país, caso de Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Wilson Simonal e Eduardo Araújo. "O formato era ele começando sempre com: 'Alô, amigos! Eu sou Carlos Imperial. Estou aqui para apresentar o meu, o seu, o nosso programa, porque nós gostamos de música jovem. Nós gostamos de rock and roll'. E ele tinha a frase: 'Te torno um ídolo em uma semana'", descreve Denílson Monteiro.
Rei da Pilantragem
Quando a Jovem Guarda começou a entrar em declínio de popularidade, Imperial passou a se aproximar de artistas que faziam o que ele chamou de samba-jovem, inspirado no rock e no soul norte-americanos. O principal representante era Wilson Simonal e reunia músicos como Cesar Camargo Mariano e Nonato Buzar, que criou o grupo Turma da Pilantragem.
Rei da Pilantragem
Quando a Jovem Guarda começou a entrar em declínio de popularidade, Imperial passou a se aproximar de artistas que faziam o que ele chamou de samba-jovem, inspirado no rock e no soul norte-americanos. O principal representante era Wilson Simonal e reunia músicos como Cesar Camargo Mariano e Nonato Buzar, que criou o grupo Turma da Pilantragem.
"O Imperial fez a primeira canção, 'O Carango', com Nonato Buzar, e apresentou-a para o Wilson Simonal, que a levou para o Cesar Camargo Mariano, que, com uma genialidade fora do comum com os arranjos dele, começou a fazer uma tapeçaria em cima daquela música simples. Isso foi crescendo. O Simonal se tornou o grande nome desse gênero. O Imperial gostou e fez o disco 'A Turma da Pesada', que tem vocais do pessoal do Trio Esperança e piano do Wagner Tiso. Ele juntou o que tinha de melhor na Odeon e botou para gravar naquele ritmo", conta Monteiro.
"A pilantragem era a ideia de fazer uma espécie de samba rock ou um pop brasileiro mais suingado, que estourou com o Simonal, o qual foi, de certa forma, lançado por Imperial. Só que, assim como na Jovem Guarda, ele lançou artistas que explodiram e começaram uma carreira mais autônoma. Mas a pilantragem durou entre 1967 e 1969. Quando ela começou a decair, ele passou para a história seguinte, pois queria estar sempre na crista onda", reflete Calil.
Para o diretor, a figura de Imperial, já no final da vida, nos anos 1990, é menos aceita do que na década de 1970. Quando morreu, em 4 de novembro de 1992 por complicações pós-cirúrgicas, a importância dele já estava obscurecida. "Ele pagou por ser o cara que estava sempre comprando as brigas. Mas agora estamos num momento em que ele está voltando em vários produtos, mesmo sendo difícil de engolir nos tempos do politicamente correto", avalia Calil.
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