O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA DE ARAÇATUBA PUBLICA PARTE DO DOCUMENTO DE REFLEXÃO POLÍTICA E HISTÓRICA DA COORDENAÇÃO NACIONAL DAS ENTIDADES NEGRAS (CONEN)
A Jornada Nacional Zumbi + 20
Na década de 1970, retomando uma longa e rica trajetória de lutas, o movimento negro sai às ruas para denunciar o desemprego e o subemprego do negro, vítima do racismo, da discriminação racial e da violência policial, e lutar por melhores condições de vida para a população negra brasileira.
Um dos marcos dessa retomada de luta é a criação do Dia Nacional da Consciência Negra, no 20 de Novembro. Nesse dia, no ano de 1695, foi assassinado Zumbi, a principal liderança do Quilombo de Palmares, um território livre, símbolo da resistência ao regime escravista e da consciência negra de homens e mulheres como Dandara e Luíza Mahin, em busca da liberdade e da construção de uma nação.
20 de Novembro de 1995: I Marcha Zumbi dos Palmares – contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida
Em novembro de 1995, no ano das comemorações dos 300 anos da imortalidade de Zumbi dos Palmares, o movimento negro brasileiro realizou a Marcha Zumbi dos Palmares – Contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida.
Uma manifestação que conseguiu reunir cerca de trinta mil pessoas, militantes do movimento negro e de outros movimentos sociais, no dia 20 de novembro daquele ano, em Brasília.
A marcha influenciou os rumos da luta contra o racismo em nosso país. Nos anos seguintes, o movimento negro é fortalecido e a questão racial negra passa a ser vista como um dos impasses nacionais a serem solucionados para a construção de um Brasil sem racismo, justo e igualitário.
22 de novembro de 2005: II Marcha Zumbi dos Palmares – contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida
No ano de 2005, para comemorar os dez anos de realização da marcha de 1995, o Zumbi +10, duas marchas foram realizadas em Brasília, uma no dia 16, e outra no dia 22 de novembro.
A CONEN participou, com várias entidades nacionais do movimento negro brasileiro, organizadas no Comitê Impulsor Zumbi +10, do ato realizado no dia 22 de novembro, a II Marcha Zumbi dos Palmares - contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida, data em que celebramos os 95 anos da Revolta da Chibata, comandada por João Cândido, o marinheiro negro.
Uma marcha que, além de fazer um balanço das conquistas e avanços obtidos ao longo desses dez anos (1995-2005), teve como objetivo exigir do Estado brasileiro o reconhecimento do conceito de reparação como eixo principal para a implementação de políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, acompanhando as orientações da Declaração e do Programa de Ação da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlatas.
Uma marcha que exigiu do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Congresso Nacional a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do Projeto de Cotas nas universidades; a agilização da titulação e regularização das terras quilombolas; uma política de combate ao genocídio da população negra, vitimando especialmente as mulheres e a juventude negra; e a discussão sobre a necessidade da ampliação do combate à intolerância religiosa com relação às religiões de matrizes africanas.
Ano de 2015: a Jornada Nacional Zumbi + 20
Para comemorar os vinte anos de realização da I Marcha Zumbi dos Palmares – contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida (1995 – 2015) – e enfrentar os desafios da luta de combate ao racismo que indicamos nesse documento, a CONEN está realizando, durante o ano de 2015, a Jornada Nacional Zumbi + 20, com os seguintes objetivos:
– Afirmar que, ao longo desses 20 anos, a luta do Movimento Negro tem garantido mudanças na vida da população negra brasileira. É através dessa luta que os governos de caráter democrático e popular dos municípios, dos estados e no âmbito federal, têm respondido a algumas de nossas reivindicações históricas e, diante do grave quadro de desigualdades socioeconômicas, em razão das diferenças raciais, implementam políticas para a superação do racismo e para a erradicação da pobreza em nosso país.
– Realizar uma reflexão e buscar novas formas para enfrentarmos o racismo no Brasil, onde, mesmo valorizando nossos avanços e conquistas, as desigualdades sociorraciais continuam imensas. Um país em que a representação da população negra nos espaços de poder e decisão é mínima, a discriminação racial e o preconceito ampliam as desigualdades sociais, regionais, de classe, geracionais e de gênero, porque são reforçadas, pelo racismo, pelo machismo e a homofobia.
– Destacar a participação do movimento negro, em particular da CONEN, na construção da democracia e de um projeto de desenvolvimento econômico e social com sustentabilidade, justiça e igualdade racial, de gênero e combate o racismo para o Brasil.
– Desenvolver ações para ampliar a organização da JCONEN, a Juventude Negra da CONEN. Salvar vidas e garantir direitos da juventude negra brasileira é a principal prioridade da CONEN.
– Estruturar a CONEN Mulher, a organização de Mulheres da CONEN. A luta das mulheres negras tem garantido melhoria nas suas situações de vida, mas persistem a violência, a desigualdade e a diferença, em prejuízo das mulheres negras. É a partir dessa realidade que a CONEN reforça a mobilização para a participação na Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, prevista para ser realizada em Brasília, no dia 18 de novembro de 2015.
– Diante da ofensiva das forças conservadoras e de direita em curso no Brasil, a jornada terá como eixo a luta para consolidar as mudanças, ampliar as conquistas e impedir qualquer retrocesso. A CONEN participa e investe nas articulações dos partidos, movimentos populares do campo e da cidade, centrais sindicais, de juventude, de mulheres, na construção de uma frente de lutas contra a direita, por mais direitos, pela superação das desigualdades e pela democracia.
Com essa jornada e em conjunto com essa frente de lutas, nos dispomos a organizar nas ruas, no 20 de novembro de 2015, uma das maiores mobilizações do “Dia Nacional da Consciência Negra” em todas as capitais dos estados brasileiros.
Executiva da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN)
13 de Maio de 2015
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