OBSERVATÓRIO - Fim da SEPPIR: Movimentos sociais fazem manifesto contra o fim do orgão - Áfricas 9 de setembro de 2015
Reforma ministerial e SEPPIR: movimentos sociais enviam manifesto à presidente Dilma
O documento assinado por 158 entidades também tenta evitar o fim de todas as secretarias especiais
Agência Áfricas de Notícias – por Claudia Alexandre
Uma carta pedindo que seja mantido o status de ministério da SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial foi enviado à presidente Dilma na semana passada. Com 158 assinaturas representando os movimentos social, sindical, feminista, juvenil e negro, o documento que também foi protocolado na Casa Civil, Ministério do Planejamento, Câmara dos Deputados e Senado Federal pede ainda, que a reforma ministerial anunciada pelo governo não atinja nenhuma secretaria especial, incluindo a da Mulher. O documento tem assinaturas de personalidades como a cantora e deputada Estadual Leci Brandão; os rappers Dexter e GOG; e dos professores Hélio Santos e Valter Silvério.
O protocolo foi realizado no dia 31 de agosto e de acordo com Edson França, representante da UNEGRO, já existem boatos de um impacto positivo sobre esta mobilização. “Vamos verificar a possibilidade de uma agenda com o ministro do Planejamento Nelson Barbosa, ainda que ele não esteja recebendo ninguém para esta pauta”, disse França.
A expectativa é porque ainda não há definição sobre a inevitável reforma ministerial, que tem outras prioridades. Hoje existem 39 ministérios: 13 são do PT e 7, do PMDB, mas outros sete partidos também estão na Esplanada. Além da redução ministerial, ainda estão sendo estudados cortes internos, onde existe uma média de 22 mil cargos comissionados, sendo que seis mil sem concurso público, ou seja, por indicação de políticos. A previsão é diminuir pelo menos mil destes cargos.
No caso da SEPPIR, criada para cuidar exclusivamente dos interesses da população negra junto ao governo federal, os representantes consideram “equívoco e um retrocesso político uma reforma ministerial que avança sobre os espaços de diálogo com os movimentos sociais”. Na prática eles acreditam que qualquer mudança administrativa, que distancie da condução administrativa do país, os segmentos mais vulneráveis como o das mulheres, da população negra, população indígena, jovens e dos LGBTs por exemplo, representará um prejuízo, no pouco que já se pode avançar.
O que se sabe, é que a reforma ministerial pretende transformar em departamento todas as secretarias que hoje possuem status de ministério dentro do governo federal. Estes órgãos seriam concentrados numa Coordenadoria de Direitos Humanos. Uma decisão que contraria as principais lideranças.
Veja na íntegra a carta que repudia as mudanças nas secretarias especiais do governo federal:
NENHUM DIREITO A MENOS, DEMOCRACIA SE FAZ COM DIÁLOGO E PARTICIPAÇÃO
O Brasil começou a dar seu salto para o futuro com a implementação de uma série de políticas públicas em prol da igualdade, todas elas no contexto mundial das lutas populares e democráticas. Em especial com a realização de diversas Conferências mundiais contra o racismo (Durban em 2001), pela emancipação das mulheres (Pequim,1995), pelos direitos da juventude e pela diversidade sexual, consubstanciados na Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969.
Ratificadas pelo Congresso Nacional, o nosso país se comprometeu a eliminar daí em diante a chaga da desigualdade. Essa opção política nos levou a incluir ações, projetos e políticas públicas que estão no caminho certo para colocar o Brasil num salto civilizatório sem precedentes, cuja novidade é que o Estado tem papel fundamental, e não somente os governos.
Desde a Constituição Cidadã de 1988, que liberdade e igualdade não são valores abstratos, mas parte de um projeto de sociedade, onde a democracia se constrói com diálogo e participação social, em um processo de contínua invenção e reinvenção de direitos.
O Poder Executivo, em especial nos últimos doze anos, tem buscado transformar-se para dar conta das demandas dos povos historicamente excluídos dos espaços de status, prestígio e poder. Deste modo, o atual desenho institucional do Governo Federal, revela o compromisso do Mandato Democrático e Popular com a agenda política dos Movimentos Sociais.
No entanto, conforme chegou ao conhecimento público, o Governo Federal, sob pressão da grande mídia e da onda conservadora que tem ocupado o debate político nacional, pretende fazer uma reforma administrativa, que projetada sem diálogo e participação com as forças progressistas vivas de nosso país, pode se constituir em uma ameaça as conquistas no campo das ações sociais, principalmente, as voltadas para grupos socialmente vulneráveis – como mulheres, promoção da igualdade racial, LGBT e juventude.
No coração da luta democrática em nosso país, as mulheres já pulsavam, rompendo preconceitos e tabus na luta pela Anistia e na demanda por direitos iguais. Na década de 80 do século passado, criou-se as Delegacias de Mulheres e no ano de 1985 conquistamos o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, fincando raízes para impulsionar ações que resultariam em exemplos para todo o mundo, de instrumentos de defesa dos direitos humanos das mulheres.
Na recém-nascida construção de um governo comprometido com os setores mais sofridos de nossa população, momento histórico em que o país desperta com intensidade para a necessidade das políticas públicas específicas para as mulheres, manifestamos nossa decisão de defender a manutenção desta política. Mobilizamo-nos pela reforma política democrática, pela garantia da prosperidade econômica com a valorização do trabalho, por autonomia e mais poder para as mulheres, negros e jovens e pela conquista de uma mídia democrática e não discriminatória.
Senhora Presidenta Dilma, “nada pra vocês sem vocês”. Não existe bom governo feito de boas intenções, mas aqueles que se constituem promovendo o diálogo e participação social, e nos quais os interlocutores governamentais possui peso institucional, poder de decisão e capacidade para promover a transversalidade das políticas de promoção de igualdade.
A expansão das políticas de ação afirmativa, a retirada do país do mapa da fome, o enfrentamento eficaz da miséria, o reconhecimento das uniões homoafetivas, o crescimento da presença de mulheres e negros no ensino superior e a frente de micro e pequenas empresas, demonstram que o Brasil está no caminho certo de superação da chaga das desigualdades – étnico-raciais, geracionais, sexuais e de gênero.
Senhora Presidenta Dilma, todos nós saímos e sairemos às ruas em defesa da legitimidade do seu Governo, ungido pelo voto de 54 milhões de brasileiros, em defesa da democracia e da vida. Mas entendemos como inaceitável a desmontagem de estruturas administrativas, de controle social e de diálogo entre governo e sociedade, que vem pautando a luta contra toda forma de preconceito e desigualdade, e as duras penas tem conseguido alterar a realidade de milhares de brasileiros e brasileiras, com a redução da pobreza, das diferenças regionais e culturais. Portanto, agora é o momento de continuar, aprimorar a gestão pública para consolidação das iniciativas criadas e de pavimentação da trilha da cidadania.
Por isso, as entidades dos movimentos sociais, cidadãos e cidadãs, intelectuais, artistas e militantes assinam o Manifesto abaixo, contra a alteração do desenho institucional nas Secretarias de Políticas paras as Mulheres, da Promoção da Igualdade Racial, de Direitos Humanos e de Juventude e em defesa do fortalecimento institucional desses órgãos, pois queremos que o Brasil dê um salto para o futuro, eliminado de vez a chaga dos preconceitos, do racismo, do sexismo e das desigualdades sociais e regionais.
Assinam:
- Abaça Ogum de Ronda / SE
- AFROUNEB – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros / UNEB – Santo Antonio
- Agentes de Pastoral Negros – APN´S
- Alteritas: diferença, arte e educação / MG
- Articulação de Mulheres de Asé IYagba / RN
- Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo – APSMNSP
- Associação Afro Cultural de Matriz Africana São Jerônimo /BA
- Associação Afro religiosa e Cultural Ilê Iyaba Omi – ACIYOMI /PA
- Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN
- Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombola do Maranhão – ACONERUQ
- Associação Cultural Afro-brasileira de Oxaguiã / PA
- Associação de Defesa Ambiental COROPOS / RJ
- Associação de Educadores da USP – AEUSP
- Associação de Mulheres Negras Aqualtune / RJ
- Associação de Mulheres Negras Chica da Silva / MG
- Associação de Mulheres ODUM-AMO / SP
- Associação Nacional das Baianas de Acarajé / BA
- Associação dos Pesquisadores Negros da Bahia
- Associação Pró Moradia e Educação dos Empregados e Aposentados dos Correios – AME
- Associação de Sambistas e Comunidades de Terreiro de Samba do Estado de São Paulo – ASTECSP
- Batuque Afro Brasileiro de Nelson da Silva / MG
- Bocada Forte Hip Hop / SP
- Centro de Cultura Negra do Maranhão – CCN
- Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT / SP
- Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afrobrasileira – CENARAB
- Centro dos Estudantes de Santos e Região Metropolitana da Baixada Santista – CES
- Centro de Estudos e Referência da Cultura Afro-Brasileira – CERNEGRO / AC
- Cia de Teatro é Tudo Cena / RJ
- CIR – Comissão de Igualdade Racial da OAB/RJ
- Clube de Mães de Ilha de Mare – BA
- Coletivo de Empreendedoras Negras Makena / SP
- Coletivo de Entidades Negras – CEN
- Coletivo de Estudante Negro do Mackenzie – AFROMACK / SP
- Coletivo Feminista Baré do Amazonas
- Coletivo Hip Hop Feminino Maria Amazonas
- Coletivo Mulheres Encrespa de MG
- Coletivo Nacional de Juventude Negra – ENEGRECER
- Coletivo Quilombação / SP
- Comissão de Jornalistas Pela Igualdade Racial – COJIRA/SP
- Comissão Nacional dos Pontos de Cultura – GT Gênero
- Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver
- Confederação Nacional das Associações de Moradores – CONAM
- Confederação Nacional Quilombola – CONFAQ
- Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE
- Conselho Estadual de Mulheres de Goiás – CONEM
- Cooperativa de Mulheres Flor do Mangue de Salvador / BA
- Coordenação Estadual de Quilombos Zacimba Gaba / ES
- Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ
- Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN
- E’léékò: Gênero e Cidadania / RJ
- Federação Árabe Palestina do Brasil – FEPAL
- Federação das Associações Comunitárias e Entidades do Estado de São Paulo – FACESP
- Federação das Favelas do Estado do Rio de Janeiro – FAFERJ
- Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doença Falciforme – FENAFAL
- Diretoria Racial da Federação Nacional dos Trabalhadores de Metrôs e Metrô Ferroviário – FENAMETRO
- Fórum de Entidades Negras do Maranhão
- Fórum de Juventude Negra do Amazonas
- Fórum de Matriz Africana do Município de Cariacica / ES
- Fórum Mineiro de Entidades Negras – FOMENE
- Fórum Nacional de Juventude Negra – FONAJU
- Fórum Nacional de Mulheres Negras – FNMN
- Fórum Permanente Afrodescendente do Amazonas – FOPAAM
- Fórum Sergipano das Religiões de Matriz Africana
- GERA – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação de Professores da UFPA
- Grêmio Recreativo Escola de Samba Ipixuna do Amazonas
- Grupo de Cultura Afro AFOXÁ / PI
- Grupo Cultural Adimó / PI
- Grupo de Estudos Afro-Amazônico (NEAB) UFPA
- Grupo de Estudos Afro-Brasileiros e Educação – GEABE/FATEC / RJ
- Grupo de Estudos e Pesquisas em políticas públicas, história e educação das relações raciais e de gênero da UNB
- Grupo Mais Mulheres no Poder / MG
- Ile Axé Elegbara Barakitundegy Bamine
- Ilê Axé Olorum Funmi / SC
- Ile Jena Delewa – BA
- Ile Ofá Odé – BA
- Ilu Oba De Min Educação, Cultura e Arte Negra /SP
- Instituto AMMA Psique e Negritude / SP
- Instituto Brasileiro da Diversidade – IBD
- Instituto Cultural Afro Mutalembê – Amazonas
- Instituto Centro Educacional e Cultura Nina Souza – CENS / AP
- Instituto Ganga Zumba
- Instituto Luiz Gama / SP
- Instituto Mocambo /AP
- Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e Desenvolvimento Social de Belém
- Instituto Padre Batista / SP
- Instituto Palmares de Promoção da Igualdade / BA
- Instituto Pérola Negra do Rio de Janeiro
- Instituto Pretos Novos / RJ
- Irmandade Santa Bárbara / SE
- Kwè Cejá Gbé / RJ
- Liga Brasileira de Lésbicas
- Liga Nacional Panela de Expressão – ES
- Liga Oficial dos Blocos Afros e Escolas de Samba de Sergipe
- Marcha Mundial de Mulheres
- Movimento Internacional da Paz – MINPA
- Movimento de Luta por Terra – MLT
- Movimento Negro Unificado – MNU
- Movimento Sem Terra – MST
- Nação Hip Hop Brasil
- N`Ativa / AC
- Núcleo de Debates de Diversidades e Identidades de MG
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do CEFET – RJ
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do Colégio Pedro II
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da FURB
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da FURG
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da IFPA
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros NEAF – UFT
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UDESC
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UEL
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UEMG
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros UFMA
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFOP
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPI
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFRPE
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFSB
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFTO
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPR
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UNB
- Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UNICENTRO
- Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-Brasileiros e Indígenas: NEABI – UFPB
- Núcleo de Estudos Sobre Educação, Gênero, Raça e Alteridade (NEGRA) da UNEMAT
- Núcleo Vida e Cuidado (NUVIC): estudos sobre violência
- Observatório da Mulher
- Observatório da Políticas de Democratização de Acesso e Permanência na Educação Superior da UFRRJ
- Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata / RJ
- Organização de Economia Solidária – OPES
- Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP
- Quilombação – Coletivo de Ativistas Antirracistas / SP
- Rede Nacional Afro LGBT
- Rede Amazônia Negra – RAN
- Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana – REATA
- Rede Aruanda Mundi
- Rede de Jovens do Nordeste – RJNE
- Rede Mulher e Mídia
- Rede Nacional Lai Lai Apejo – Saúde da População Negra e AIDS
- Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – RENAFRO
- Rede Nacional das Religiões de Matriz Africana – Núcleo Sergipe
- Rede Sapatá – Promoção de Saúde e Controle Social de Políticas Públicas para Lésbicas e Bissexuais Negras
- Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT – SNCR/CUT
- Secretaria Nacional de Igualdade Racial da CTB
- Secretaria Nacional de Mulheres da CTB
- Setorial de Combate ao Racismo da Central de Movimentos Populares – CMP
- Sindicato dos Trabalhadores dos Correios da Grande São Paulo, Sorocaba e Região – SINTECT/SP
- União Brasileira de Estudantes Secundaristas – UBES
- União Brasileira de Mulheres – UBM
- União das Comunidades Tradicionais Afro-amazônicas – UNIMAZ
- União das Escolas de Asmba Paulistana – UESP
- União de Mulheres de São Paulo
- União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Santos – UMES Santos
- União Nacional dos Estudantes – UNE
- União de Negros Pela Igualdade – UNEGRO
- Visão Mundial
- Yle Ase Obe Fara BARAHUMERJIONAN / SE
Personalidades
- Dexter (Marcos Fernandes de Omena) – Rapper
- GOG (Genival Oliveira Gonçalves) – Rapper e poeta
- Hélio Santos – Professor universitário ((Visconde de Cairu – Salvador)
- Leci Brandão – Deputada Estadual e cantora
- Valter Silvério – Professor universitário (UFSCAR)
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