Presidente da CUT diz que o partido tem que discutir com o governo e impor a sua pauta. "Não pode concordar com a política econômica do Levy, que não é a do PT"
por Eduardo Maretti, da RBA publicado 11/06/2015 20:50, última modificação 11/06/2015 20:51
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Freitas: "O PT tem que discutir cultura, educação, juventude, mulher, negro, trabalho, as questões do Brasil"
Salvador – Vagner Freitas chegou à capital baiana para o 5º Congresso Nacional do PT, aberto hoje (11), não como presidente da CUT, mas como um militante, segundo ele mesmo diz. "Quem fala é o militante Vagner Freitas. Um militante do PT, filiado desde que tinha 16 anos. Sou filiado ao partido político antes de ter tido carteira assinada", afirma. Mas o sindicalista não deixa de criticar a política econômica do governo – que, para ele, não é do partido, nem dos movimentos que ajudaram a reeleger a presidenta Dilma Rousseff.
Para Freitas, crítico do ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não é a agenda do PT que está vigorando no governo. "O PT tem que discutir com o governo e impor a sua pauta. Não pode concordar com a política econômica do Levy, que não é a do PT", critica.
Ele concedeu entrevista exclusiva à RBA poucos antes do início do congresso, na qual destacou sua visão da política e da economia brasileira
PT: como voltar às origens e ao mesmo tempo ser governo
"Não é uma questão de volta às origens, o partido precisa ter postura de partido de massa e de esquerda. O fato de estar no governo é ótimo. O PT buscou isso. Agora, o espaço de governo é um dos espaços que o PT ocupa, não é o único. Se o PT sair do governo vai continuar existindo. Mas além de ser o partido do governo, além disso, o PT precisa defender as posturas que a sua militância, a sua base e a sua história pedem. O primeiro motivo é que o PT não é o único partido no governo. É o maior partido no governo, mas está quase em pé de igualdade com o PMDB, e tem outros. Não é a agenda do PT que está vigorando no governo. O partido tem que discutir com o governo e impor a sua pauta. Não pode concordar com a política econômica do Levy, não é a do PT. Queremos que no Congresso o partido referende que a sua política econômica é desenvolvimentista, voltada para baixar a taxa de juros, baratear o crédito, fortalecer o mercado interno. A política do ajuste fiscal, nós derrotamos quando derrotamos o Aécio (Neves, candidato do PSDB à presidência). O partido, às vezes, fica preso às decisões do governo, mas na maioria das vezes o governo não ouve o PT para tomar decisões. Está errado, o partido tem que orientar seus militantes que estão no governo."
Eleições
"O PT não pode aparecer na vida das pessoas apenas para disputar eleições. Não fizemos um partido para isso. Ele tem que estar na vida do trabalhador brasileiro o tempo inteiro, tem que defender as propostas dos trabalhadores e defender a sociedade que os trabalhadores consideram correta para eles. Tem que ter projeto de formação política com os trabalhadores, formação econômica. O trabalhador tem que lembrar do PT como um parceiro que o defende e o forma profissionalmente inclusive. O PT tem que discutir cultura, educação, juventude, mulher, negro, trabalho, as questões do Brasil. A agenda conservadora está alardeada no Brasil, por conta do Cunha."
Desindustrialização e ajuste fiscal
"Quando falo em investimento e mercado interno e uma política de juros voltada à produção estou falando disso. Como a indústria brasileira vai se desenvolver com o dólar no preço que está e uma política econômica que não fomenta o crescimento? Não tem como. Essa política econômica faz com que o PT fique sem discurso para suas bases sociais, nem só os trabalhadores. Há empresários, do setor produtivo, e intelectuais progressistas que também veem no PT um eco para defender suas ideias. Fica parecendo que o partido entra na vala comum dos partidos. E agora, pior ainda, nós somos julgados por ser governo, mas a política, a agenda colocada pelo governo não é a agenda do PT. O PT tem que dizer isso."
"Olhe o que o Elio Gaspari escreveu na Folha de S. Paulo (dia 10, quarta-feira, o colunista escreveu sobre o 5° congresso do partido): “(O PT hoje) junta um cacique, uma dúzia de tendências e três grandes grupos: a turma dos eventos, que poderão ser apreciados no show da cerimônia de instalação do encontro; a turma que se aninhou no aparelho do Estado e pessoas que procuram pensar o que esse partido é ou o que poderá ser”). Isso é um absurdo. O PT tem que fazer o enfrentamento disso. Precisa deixar claro qual é a proposta que tem para a sociedade brasileira e defendê-la, independente se isso vai ser uma proposta que vai ser a maioria do governo ou não. Tem que, dentro do governo, defender essa proposta junto aos demais partidos."
Alianças de governo
"Eu não acho que o PT seria governo sozinho, não entro nessa de achar que não tinha que ter aliança com o PMDB. Falar depois que já passou é fácil. Mas o governo não pode determinar a agenda do PT, o PT é que tem de determinar a agenda do governo."
Dilma, ajuste e retomada do crescimento
"O que é necessário para o país voltar a crescer não é o ajuste, mas fazer políticas públicas que deem condição para que a sociedade se engaje no projeto e junto levar ao crescimento. O governo tem que buscar o crescimento apoiado por aqueles que acreditam nesse governo, pra quem esse governo tem que governar. A agenda do ajuste é a agenda daqueles que querem derrotar esse governo. Se ela fizer o ajuste do jeito que eles querem, vão arrumar algum defeito para dizer que ela é incompetente.
Eu não critico a presidenta. Ela precisa ter o respaldo nosso, da sociedade. Mas o partido já teve 30% do apelo popular, agora está com 10%. E o governo da presidenta tem a mais baixa popularidade dos últimos anos. Só vamos voltar ao reconhecimento do PT pela sociedade com apoio popular quando ele defender suas bandeiras e disser claramente à sociedade o que ele pensa. Mesmo que seja derrotado, porque um governo vitorioso com propostas que não são do PT não ajuda o PT."
Emprego
"Tem que fazer equalização de contas em todo momento na sua casa. Você não pode gastar mais do que ganha. Agora, a forma de fazer a equalização das contas não é, por exemplo, tirando direito dos trabalhadores. Acima de tudo, o PT tem que ter compromisso com o emprego. O grande ganho que o PT trouxe para a classe operária é o pleno emprego. Quando tem pleno emprego, a classe operária tem condição de enfrentar a burguesia de igual para igual. Quando tem desemprego, a classe operária fica em desigualdade. O projeto do PT só vai adiante se for respaldado pela classe operária."
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