OBSERVATÓRIO - A omissão de Marina Silva: povos de matriz africana não entram no plano de governo - mudamais.com
O Brasil é um país laico, mas isso não significa, no entanto, que grupos religiosos devam ser ignorados pelo poder público. Pelo contrário: há 12 anos, o nosso país tem trabalhado pelos direitos dos grupos minoritários, como é o caso das religiões de matriz africana, que sofrem com o preconceito da sociedade. "Nós queremos um Estado que não reze, mas que nos permita rezar! E que permita aos ateus não rezar", afirmou a representante dos povos de matriz africana, Célia Gonçalves Sousa, durante Ato pela Promoção da Igualdade Racial, com a presença de Dilma Rousseff, em Nova Lima (MG).
Casos recentes, como o do aluno carioca que foi proibido de usar suas guias (colares) dentro da escola onde estudava e o terreiro incendiado na Baixada Fluminense, são exemplos claros da intolerância religiosa da qual os adeptos da Umbanda e do Candomblé ainda são vítimas no Brasil.
De acordo com um estudo da PUC Rio, publicado em março deste ano, foram registrados, somente no estado, 430 episódios de intolerância, entre pichações nos muros das casas, espancamento e até atendimento médico negado pelos pacientes serem apontados como "macumbeiros". Além disso, nos últimos nove anos, 22 sacerdotes de matriz afro-brasileira foram assassinados, 15 deles só no estado do Amazonas.
Os problemas relacionados à intolerância religiosa no Brasil são graves e merecem atenção, mas parece que a candidata Marina Silva (PSB) não encara o tema como prioridade. Em entrevista à BBC Brasil, sua coordenadora de Promoção da Igualdade Racial admitiu que errou por não incluir políticas específicas para essas religiões no programa de governo da candidata, tema que é alvo fundamental da militância negra brasileira.
O erro poderia figurar apenas como mais um dos vários que já foram identificados no programa de governo da candidata, não fosse por um porém: ao ser perguntada se haveria alterações para corrigir o problema (como já houve com outros temas), Valneide Nascimento respondeu que não. Para a coordenadora, por ser de religião protestante, assim como Marina, a inclusão acabou não sendo feita por falta de conhecimento mais aprofundado da causa.
O curioso é que o discurso sobre a construção do plano LGBT para o mesmo documento foi completamente inverso: Marina disse que o assunto teria passado "por um amplo processo democrático de discussão social em seminários programáticos até chegar em sua forma final", com a apresentação de demandas de entidades da causa - isso antes dele ter sofrido modificações de posicionamento para um rumo radicalmente oposto. Por que com relação ao tema das religiões não houve também um processo democrático com os interessados?
Na contramão do desinteresse de Marina, o projeto petista defende os interesses das religiões de matrizes africanas e, na prática, muito já foi feito ao longo dos últimos anos, como a sanção da Lei que determina o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. Para Denise Pacheco, da Coordenação Nacional das Entidades Negras "todo esse trabalho do governo federal nos últimos anos nos favorece, nos legitima". Também de acordo com a Yalorixá Nagô, Nonata Corrêa, "o Brasil mudou e precisa mudar mais. Mudou na visibilidade do povo negro, no conceito das casas das tradições do terreiro". Para ela, o próximo passo agora é "mudar a concepção da grande Casa Grande brasileira, de combate ao racismo". Para dar esse importante passo, ela vota na Dilma.
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