Da Redação, com informações da EBC, Jornal do Brasil, D24AM, O Tempo e Agências
S.Paulo/Brasília – Pelo menos 50 mil pessoas saíram as ruas em todo o país na II Marcha Nacional contra o Genocídio do Povo Negro que aconteceu em pelo menos 10 Estados e teve repercussão em 15 países, segundo as primeiras avaliações dos seus organizadores. O protesto teve seu ponto forte em cidades como Salvador, S. Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Vitória, Belo Horizonte, Porto Alegre e Manaus, com passeatas que alteraram a rotina dessas cidades.
Em S. Paulo, cerca de mil pessoas compareceram ao vão do MASP, na Avenida Paulista para participar da manifestação, segundo estimativa da própria Polícia Militar. A passeata desceu pela Rua da Consolação em direção ao Theatro Municipal, no centro, onde em 1.978, foi fundado o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNU), uma das entidades mais antigas do movimento negro brasileiro em atividade.
Brasília
Em Brasília, a manifestação ocorreu na Praça Zumbi dos Palmares, no Conic, e reuniu cerca de 400 pessoas de acordo com estimativa da Polícia Militar do Distrito Federal. A manifestação na capital federal reuniu representantes de movimentos sociais, grupos religiosos, artistas e pessoas que enfrentam o racismo diariamente e percorreu as ruas no entorno da Rodoviária de Brasília, um dos pontos mais movimentados da cidade, de onde saem ônibus para as demais regiões administrativas do Distrito Federal e entorno.
"O objetivo da Marcha é dar visibilidade à questão. Quem está marchando aqui são as pessoas da periferia, dos assentamentos. Queremos dar vez para aqueles que estão à margem, que não falam", disse uma das organizadoras, Layla Marisandra, do Fórum da Juventude Negra. "No DF, não é diferente dos outros Estados. Aqui temos um cordão invisível que divide as asas [Sul e Norte] do entorno e das [cidades] satélites. Tem uma população que só vem ao centro para trabalhar".
Violência policial
Em S. Paulo, os manifestantes gritaram palavras de ordem contra a violência policial que atinge prioritariamente negros e pobres no Brasil. “A morte negra hoje, no Brasil, já atingiu números de guerra civil. A cada 25 minutos morre um negro neste país”, afirmou a coordenadora nacional do Movimento Quilombo, Raça e Classe, Tamires Rizzo.
Segundo o Mapa da Violência 2014, morreram, proporcionalmente, 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em 2012, em situações como homicídios, acidentes de trânsito ou suicídio. Entre 2002 e 2012, esses números mais que dobraram, segundo o estudo elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, com apoio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria Nacional de Juventude e da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Cantor de rap e estudante de geografia, Tiago Onidaru disse que vê de perto as consequências da violência. “A gente perde vários irmãos na comunidade. Se não é um amigo nosso, é amigo de um amigo”, contou o jovem de 27 anos, que também reclamou da representação do negro nos meios de comunicação. “É uma ausência de representação, e quando tem é para ridicularizar", disse o rapper.
Na manifestação, em Brasília, as histórias de violência e preconceito eram muitas. A técnica de enfermagem Lourdes Pereira, de 49 anos, teve o sobrinho Flávio Rogério, de 20 anos, assassinado pela polícia, em Teresina. "Meu sobrinho morreu por um pré-julgamento da polícia. Esse julgamento é um racismo disfarçado", afirmou. Ela é moradora da Cidade Ocidental, município goiano no entorno de Brasília. Negra, Lourdes disse que "sente na pele a diferença. Quando vamos procurar emprego, por exemplo, e não somos escolhidas e a diferença não está no currículo."
O rapper Divino Monteiro, o Dino Black, traduz o sentimento em versos. "Meus irmãos só marcam presença lá se for para lavar banheiros ou lavar o chão. Me doi em pensar em tanta exploração. Tem preto otário achando que acabou a escravidão. Pode crer que não", diz na música "Onde Estamos". "Quando o negro entra, é o primeiro suspeito. Isso acontece comigo: basta eu entrar em um ônibus que todos me olham, basta entrar em uma loja que acham que eu vou roubar alguma coisa", diz o rapper, que é morador da Candangolândia, região administrativa do Distrito Federal.
Manaus
Em Manaus, a Marcha aconteceu no bairro Cidade Nova, zona norte, e contou com a participação de nove instituições que lutam pelos direitos dos negros, além de grupos de Hip-hop, capoeira, grafite e outras manifestações artísticas. Apesar do pouco número de manifestantes (cerca de 500 segundo as avaliações), os organizadores acreditam ser um avanço no Amazonas, Estado que não tem tradição na luta do movimento.
Segundo Luiz Gonzaga Fernando Costa, do Instituto Ganga Zumba, o Amazonas é um Estado onde ocorrem com frequência crimes de racismo contra negros apesar da maioria da população ter origem indígena. "Precisamos expor esses casos de violência e nosso movimento é para agregar e não segregar”, disse Costa.
Um dos motes da marcha foi “Reaja, ou seja morto” e para Rosiete Barros, membro da Rede de Educação Cidadã, em muitos casos a violência contra os negros parte de quem deveria proteger. “Há uma forte incidência de abuso policial para com os jovens negros. Mas isso começa desde a escola, pois as instituições não ensinam a história da cultura negra e ainda há uma barreira contra as religiões de matriz africana”, disse Rosiete.
Um dos membros da Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Amazonas (Fucabeam), Cristiane Floriza, ressaltou que a intolerância religiosa com as religiões africanas parte de muitos professores e chega a ser motivo de crimes contra sacerdotes. Para ela, o preconceito é fruto do desconhecimento, por isso, essa cultura deveria ser apresentada na escola, mas muitos professores se opõem por causa de suas crenças pessoais.
“Só neste ano, três homens sacerdotes da umbanda foram assassinados no Amazonas. Não podemos colocar uma indumentária ou colocar um pano na cabeça que já somos tachados de satanistas”, destacou Cristiane.
Na avaliação de Jéssica Santos, representante do Fórum da Juventude Negra do Amazonas (Fojune), os jovens negros da periferia de Manaus são os que mais sofrem com a violência por parte dos policiais. Ela afirma que há intimidação nas próprias delegacias, onde a Lei 7716/1989, que pune os crimes de racismo é ignorada.
Um dos membros da Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Amazonas (Fucabeam), Cristiane Floriza, ressaltou que a intolerância religiosa com as religiões africanas parte de muitos professores e chega a ser motivo de crimes contra sacerdotes. Para ela, o preconceito é fruto do desconhecimento, por isso, essa cultura deveria ser apresentada na escola, mas muitos professores se opõem por causa de suas crenças pessoais.
“Só neste ano, três homens sacerdotes da umbanda foram assassinados no Amazonas. Não podemos colocar uma indumentária ou colocar um pano na cabeça que já somos tachados de satanistas”, destacou Cristiane.
Na avaliação de Jéssica Santos, representante do Fórum da Juventude Negra do Amazonas (Fojune), os jovens negros da periferia de Manaus são os que mais sofrem com a violência por parte dos policiais. Ela afirma que há intimidação nas próprias delegacias, onde a Lei 7716/1989, que pune os crimes de racismo é ignorada.
Belo Horizonte
Em Belo Horionte, cerca de 200 manifestantes se reuniram na rua Aarão Reis, ao lado da Praça da Estação, a partir das 15h. O trânsito chegou a ser interrompido nas proximidades da Rua S. Paulo e Avenida Amazonas, na região central da capital mineira.
Portando cartazes e gritando palavras de ordem, os manifestantes denunciaram o fato de que mesmo após 126 anos da Abolição, os negros brasileiros continuam lutando por cidadania plena.
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