Insurgentes criam um califado islâmico em pleno século XXI
Guerra na Síria e no Iraque tornou possível que o grupo terrorista Estado Islâmico anunciasse a criação de um sistema de governo da Idade Média
BRUNO CALIXTO
30/06/2014 17h48 - Atualizado em 30/06/2014 18h00
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As fronteiras que separam o Iraque da Síria ainda estão no papel, mas na prática não existem mais. A região está atualmente sob controle de um grupo considerado como terrorista pela ONU, que se intitulava Estado Islâmico do Iraque e Síria. Neste domingo (30), os militantes deram um passo a frente. Aproveitando o Ramadã, um mês de importância religiosa no mundo muçulmano, eles mudaram o nome do grupo para apenas "Estado Islâmico" e declararam a fundação de um califado sunita.
O califado é um sistema político que surgiu no Oriente Médio, após a morte do profeta Maomé, entre os muçulmanos sunitas. O Estado é controlado pelo califa - o "sucessor" do profeta - que detém poderes políticos e religiosos. Esse sistema funcionou, em diferentes formas, até a Primeira Guerra Mundial e o fim do califado Otomano, quando as potências europeias redesenharam as fronteiras de países como Iraque e Síria.
Ao anunciar o novo califado, o grupo nomeou seu líder, Ibrahim ibn Awad, mais conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi, o "califa para os muçulmanos de todo o mundo". "Esclarecemos que, com a declaração de califado, é imperativo para todos os muçulmanos jurar lealdade ao califa Ibrahim e o apoiar", diz a organização, em nota.
O Estado Islâmico é um dos mais extremos grupos insurgentes a operar no Oriente Médio. Ele fazia parte da al-Qaeda, mas após disputa entre lideranças, foi desfiliado da rede terrorista. O grupo entrou na guerra da Síria contra o ditador Bashar al-Assad e conquistou várias cidades, entre elas Raqqa, declarada capital do califado. No Iraque, eles controlam grande parte do território dos sunitas e ocuparam Mossul, a segunda maior cidade iraquiana.
Sunita, a organização é conhecida pela imposição de uma versão extrema da sharia, a lei islâmica, nas cidades que ocupou. Em Raqqa, cidadãos refugiados descreveram um reino de terror imposto pelos insurgentes. Há relatos de punições extremas, incluindo a crucificação de cristãos e muçulmanos xiitas. Em Mossul, a ONU anunciou crime de guerra após o grupo executar centenas de cidadãos iraquianos.
O rápido crescimento e fortalecimento do Estado Islâmico preocupa os países da região e a ONU. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, voltou a denunciar violações do grupo, e disse que o conflito no Iraque já matou 1,3 mil pessoas desde a queda de Mossul. O governo do Iraque, controlado pelo xiita Nouri al-Maliki, iniciou uma ofensiva contra o Estado Islâmico em Tikrit, cidade natal de Saddam Hussein, e pediu ajuda dos Estados Unidos para enfrentar os insurgentes.
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