Pular para o conteúdo principal

OBSERVATÓRIO - CTB repudia exclusão da questão de gênero do PNE - Fonte: CTB


No mês de abril, a comissão especial que analisa o Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados foi marcada pela discussão de gênero. Grupos religiosos pedem que a questão seja retirada do texto do plano.


A CTB emitiu uma nota em repúdio a esta postura que “tenta impor um retrocesso ao texto do PNE”, diz o documento.

Leia abaixo a íntegra da declaração:

"Por um PNE democrático, laico e inclusivo

Apesar dos avanços significativos na educação brasileira, ainda detectamos um atraso educacional, comprovado pelos dados da pesquisa Unicef de 2010 que revelam que no Brasil há 3,7 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. Dos 1,6 milhão de jovens (15 a 17 anos) que deveriam estar no ensino médio abandonaram o estudo. Portanto, consideramos que há necessidade de se construir políticas públicas que assegurem a construção do Estado laico.

Durante quase quatro anos, nos posicionamos em defesa de um PNE (Plano Nacional de Educação) democrático, que contribuísse para a superação das desigualdades no nosso país. Entre as propostas está a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública e/ou privada.

No entanto, um ponto fundamental entre as propostas é a inclusão da ideologia de gênero, que pode ser introduzida já nos primeiros anos de ensino das crianças em escolas brasileiras.

O PNE foi enviado ao Congresso Nacional, em 15 de dezembro de 2010, composto por 10 diretrizes e 20 metas para as políticas voltadas à educação no próximo decênio. Após tramitar no Senado e muita batalha, o texto retorna à Câmara dos Deputados com significativas alterações no relatório final. Após ser avaliado pela Comissão Especial, o Plano deve ir à plenária e a expectativa é que seja aprovado até o fim do mês de abril.

Contudo, como se não bastasse as alterações do Senado, a educação brasileira sofre mais um golpe desferido por setores religiosos contrários o que chamam de “ideologia de gênero”.

Grupos reunidos no Congresso, principalmente na bancada cristã formada por deputados do PSDB, PMDB e PSC, exigiram a mudança no texto do relator Ângelo Vanhoni (PT-PR), do artigo 2º inciso III, que adotava em seu texto o conceito de gênero, superando o generalismo do “masculino e feminino”.

O relator acrescentou o seguinte texto “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”. Os grupos religiosos: evangélico, neopentecostais e católicos conservadores, que se intitulam “pró-vida”, vão contra o texto e defenderam o seguinte: “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação”.

Dos 26 deputados presentes na votação da Comissão Especial, 15 votaram a favor da retirada da questão do gênero no artigo 2º, e 11 contra. Uma decisão que representa grave retrocesso ao processo educacional brasileiro.

A CTB e demais entidades educacionais ligadas à defesa da educação de qualidade para a superação das desigualdades, repudia essa postura que tenta impor um retrocesso ao texto do PNE.

Isso significará o avanço do fundamentalismo numa área estratégica, que é a educação. Uma atitude equivocada do ponto de vista pedagógico, conceitual, político, e, no mínimo, homofóbica.

Promover a igualdade de gênero é abrir o diálogo e criar espaços para se trabalhar todas as dimensões das desigualdades, problematizando a exclusão e o preconceito. Significa realmente promover a cidadania com a inclusão de todos e todas, “com vistas à superação das desigualdades sociais, étnico-raciais, de gênero e de orientação sexual bem como atendimento aos deficientes. (Conae2010)”.

A CTB conclama o movimento sindical a se mobilizar para barrar esse retrocesso. Pois a votação termina na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, mas continuará no plenário dessa casa. Será necessário alertar a sociedade para os perigos que estarão embutidos em atitudes como essas.

O PNE pode se constituir em mais um instrumento que poderá cercear aqueles que insistem em discriminar. Para tanto, é fundamental entender que a relação entre educação e gênero se constitui em elemento que contribuirá para a perspectiva da superação do machismo, com a garantia de direito para todas as pessoas e na qualidade da Educação, independente do gênero ou da orientação sexual do estudante.

Não ao retrocesso. Por um PNE democrático, laico e inclusivo!"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carta das Centrais Sindicais ao Presidente Bolsonaro

“EXMO. SR. JAIR MESSIAS BOLSONARO MD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL BRASÍLIA – DF Senhor Presidente, As Centrais Sindicais que firmam a presente vem, respeitosamente, apresentar-se à Vossa Excelência com a disposição de construir um diálogo em benefício dos trabalhadores e do povo brasileiro. Neste diálogo representamos os trabalhadores, penalizados pelo desemprego que atinge cerca de 12,4 milhões de pessoas, 11,7% da população economicamente ativa (IBGE/PNAD, novembro de 2018) e pelo aumento da informalidade e consequente precarização do trabalho. Temos assistido ao desmonte de direitos historicamente conquistados, sendo as maiores expressões desse desmonte a reforma trabalhista de 2017, os intentos de reduzir direitos à aposentadoria decente e outros benefícios previdenciários, o congelamento da política de valorização do salário mínimo e os ataques à organização sindical, as maiores expressões deste desmonte. Preocupa-nos sobremaneira o destino da pol

19 Exemplos de publicidade social que nos fazem pensar em problemas urgentes - POR: INCRÍVEL.CLUB

Criadores de propagandas de cunho social têm um grande desafio: as pessoas precisam não apenas notar a mensagem, mas também lembrar dela. Você deve admitir que, mesmo passados vários anos, não consegue tirar da cabeça algumas peças publicitárias desse tipo, que fizeram com que passasse a enxergar determinadas situações sob uma outra ótica. Se antes as propagandas sociais abordavam tmas como a poluição do meio ambiente com plástico e o aquecimento global, hoje existem campanhas sobre os perigos do sedentarismo, os riscos que o tabagismo representa aos animais em decorrência do aumento de incêndios florestais e até sobre a importância das férias para a saúde humana. São, portanto, peças que abordam problemas atuais e familiares para muita gente. Neste post, o  Incrível.club  mostra a você o que de melhor foi criado recentemente no campo das propagandas de cunho social. Fumar não é prejudicial apenas à sua saúde, mas também aos animais que vivem em áreas que sofrem com incênd

Empresas impõem regras para jornalistas

REDE SOCIAIS Por Natalia Mazotte em 24/5/2011 Reproduzido do Jornalismo nas Américas http://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ , 19/5/2011, título original: "Site de notícias brasileiro adota regras para o uso das redes sociais por jornalistas"; intertítulo do OI Seguindo a tendência de veículos internacionais , o site de notícias UOL divulgou aos seus jornalistas normas para o uso de redes sociais , de acordo com o blog Liberdade Digital. As recomendações se assemelham às já adotadas por empresas de notícias como Bloomberg , Washington Post e Reuters : os jornalistas devem evitar manifestações partidárias e políticas, antecipar reportagens ainda não publicadas ou divulgar bastidores da redação e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do site. Segundo um repórter do UOL, os jornalistas estão tuitando menos desde que as diretrizes foram divulgadas . "As pessoas estão tuitando bem menos. Alguns cogitam deletar seus p