Apesar da grande repercussão da campanha #somostodosmacacos, em apoio ao jogador brasileiro Daniel Alves, alvo de racismo em um jogo no último domingo, muitas pessoas também estão usando a internet para criticar a iniciativa. Com a hashtag #nãosomosmacacos, brasileiros acusam a ação de ser preconceituosa e contribuir negativamente com a luta contra o racismo.
- Esta campanha #somostodosmacacos não representa a mim e nem a minha família. Uma campanha que me representaria é #somostodospretos. O melhor a se fazer com o Neymar entre outros, como o Alexandre Pires também, é de fato ter uma consciência de identidade racial legítima, porque isso é usar dos meios de comunicação para querer dizer que estão nos representando, quando não estão de forma alguma, e estão sendo utilizados como massa de manobra desconstruindo a real luta contra o racismo, apenas isso - afirmou Luciane Barros, que postou em seu perfil no Facebook uma foto ao lado dos filhos.
A livreira e estudante de Comunicação Social, Karina Vieira, de 29 anos, também achou a conotação da frase racista. Além disso, ela questionou a postura do jogador Neymar, que lançou a campanha nas redes sociais.
- Achei de um falta de respeito por nós que lutamos todos os dias contra o racismo. Não podemos reiterar e afirmar estereótipos como esses. O Neymar até pouco tempo não se reconhecia enquanto preto e agora dá uma bola fora como essa? Espero que ele esteja fazendo uma reflexão enquanto cidadão e sujeito com um lugar de fala que forma opiniões. As pessoas estão levando na brincadeira um assunto que mata, por que racismo mata! Colocar hashtag na internet afirmando preconceitos é prejudicial a toda uma luta. Quem sofre ao ser chamado de macaca, somos nós que damos a nossa cara pra bater todos os dias, são as nossas crianças que não se veem representadas e quando não estão invisíveis são chamadas por ofensas. A frase é preconceituosa porque reafirma conceitos de exclusão, de humilhação e ofensa - explicou a jovem.
A educadora Ana Paula Lisboa, 26 anos, que trabalha com jovens nas periferias cariocas, considerou a ação ineficaz.
- Ninguém quer ser um animal, independente de qual for. E não dá pra achar que postar uma foto com uma banana vá ser eficiente para discutir o racismo. E tem muita gente achando que isso é fazer a sua parte. A discussão tem que rolar todos os dias, não só quando um jovem morre ou quando uma banana é jogada no campo.
Para o presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, Marcelo Dias, a campanha foi "extremamente infeliz". Ele ainda deu um "puxão de orelha" em Neymar.
- Eu não macaco, eu sou humano! Sou descendente de africano, minha etnia é negra. O Neymar já declarou uma vez que nao é negro. Ele precisa conversar urgentemente com a comunidade negra para não dizer essas coisas idiotas. Ele tem uma voz global! Somos mortos e discriminados todos os dias. É um caldo de cultura muito perigoso que está sendo alimentado no país.Essa campanha deseduca, é uma campanha retrógrada, que não ajuda o combate ao racismo no Brasil e no mundo - declarou Dias, que apontou ainda um desacordo entre a ação e as diretrizes contra o racismo programadas pela Fifa e pelo Governo Federal para a Copa do Mundo.
Campanha foi criada por agência de publicidade
No Twitter e no Facebook, a hashtag #nãosomosmacacos tem ganhado força nesta tarde. De acordo com o portal “Meio e Mensagem”, especializado em Comunicação, a campanha foi idealizada por uma agência de Publicidade e Propaganda de São Paulo, a Loducca.
"Em parceria com o jogador e com a equipe dele, fizemos essa ação por uma necessidade. Há algumas semanas, o Neymar e o Daniel Alves foram afetados por manifestações racistas. Na volta do jogo, torcedores imitaram macacos para o Neymar quando ele saiu do ônibus. E ele entendeu que havia a necessidade de se criar uma campanha para essa causa", declarou Guga Ketzer, sócio e vice-presidente de criação da empresa para a publicação.
Ainda segundo Ketzer, as celebridades que aderiram à campanha o fizeram de forma espontânea. Ele explicou ainda que a ideia da propaganda era dar uma resposta de um jeito brasileiro, “agindo de forma natural, mastigando o problema e tirando um sarro".
A marca Huck, do apresentador Luciano Huck, que também aderiu à campanha, lançou uma camiseta com o slogan da ação. A peça já está à venda no site, por R$69.
No último domingo, durante o jogo entre Barcelona e Villarreal, Daniel Alves teve uma banana atirada na sua direção. Numa atitude surpreendente, o baiano pegou a fruta e a comeu antes de cobrar um escanteio e continuar jogando. Ele agradeceu ao apoio recebido, através de seu perfil no Instagram. O Villarreal já identificou o torcedor que atirou a fruta no campo. Ele será banido dos estádio para sempre.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/brasil/campanha-de-apoio-daniel-alves-recebe-criticas-nao-somos-macacos-12324289.html#ixzz30EhQJInL
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