Por Douglas Belchior
Em São Paulo, a partir da iniciativa da Uneafro-Brasil e do Círculo Palmarino, organizações da sociedade civil formularam o “Manifesto de apoio à juventude negra, pobre e das periferias da cidade de São Paulo, pelo direito à circulação e a expressão de sua arte e cultura”.
Além do manifesto, promovemos no sábado 18/01 “Rolé contra o racismo” no elitizado Shopping JK Iguatemi. Ao perceber a aproximação da multidão de cerca de 400 pessoas, os seguranças baixaram as portas do Shopping que não voltou funcionar.
Em fila, os manifestantes baixaram as bandeiras e pediram para entrar. Ao impedir a entrada das pessoas, o Shopping incorreu, na opinião dos grupos presentes, no crime de constrangimento ilegal, discriminação racial e racismo. O Boletim de ocorrência foi registrado no 96 DP no bairro do Brooklin. A principal intensão é derrubar as liminares que garantem aos Shoppings promover a prática do apartheid.
MANIFESTO DE
APOIO À JUVENTUDE NEGRA, POBRE E DAS PERIFERIAS DA CIDADE DE SÃO PAULO!
PELO DIREITO À CIRCULAÇÃO E A EXPRESSÃO DE SUA ARTE E CULTURA.
São Paulo 18 de Janeiro de 2013
“É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo o cidadão brasileiro, independente da etnia ou cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiososo e culturais” (Art. 2o. do Estatuto da Igualdade Racial)
O Racismo brasileiro já foi amplamente denunciado por movimentos e intelectuais. Em dezembro de 2013 a ONU, através de uma comissão especial em visita ao Brasil, mais uma vez declarou: “Os afro-brasileiros não serão integralmente considerados cidadãos plenos sem uma justa distribuição do poder econômico, político e cultural”, reforçando a ideia do racismo como estruturante das desigualdades em nosso país.
A barbárie social expõe sua face racista em especial através dos números dos homicídios, em especial aquele promovido pelas forças de repressão do Estado. A realidade das prisões brasileiras, agora simbolizada pela revelação dos acontecimentos no presídio de Pedrinhas no Maranhão ou a carnificina promovida por policiais em Campinas reforça o que sempre denunciamos: o caráter racista do Estado e de seus dirigentes.
A barbárie social expõe sua face racista em especial através dos números dos homicídios, em especial aquele promovido pelas forças de repressão do Estado. A realidade das prisões brasileiras, agora simbolizada pela revelação dos acontecimentos no presídio de Pedrinhas no Maranhão ou a carnificina promovida por policiais em Campinas reforça o que sempre denunciamos: o caráter racista do Estado e de seus dirigentes.
Esse racismo se traveste cotidianamente a medida da necessidade do opressor. Nesse momento vivemos em São Paulo e em outros grandes centros mais uma das faces do racismo estrutural brasileiro: A reação dos Shoppings, da Polícia e da Justiça em relação a presença de “jovens funkeiros” nestes estabelecimentos.
Com a liminar que garantiu o direito ao JK Iguatemi e a outros diversos Shoppings de impedir a entrada de jovens negros, pobres e funkeiros, percebe-se a reafirmação da missão da policia, da justiça e do Estado: a proteção à iniciativa privada e aos seus valores civilizatórios tendo, como sempre, um alvo bem definido: negros e pobres. Trata-se, sobretudo de um precedente legal perigoso a medida que promove e formaliza uma prática análoga ao apartheid.
Cruzar os braços diante de fatos tão graves significaria reforçar a naturalização da violência contra negros e pobres no Brasil. Afinal, os barrados nas portas dos shoppings são os mesmos proibidos de frequentar universidades; são os mesmos que perfazem maioria entre analfabetos, miseráveis, desprovidos de serviços básicos como saúde, educação, moradia; são os mesmos ridicularizados e estigmatizados pela grande mídia e, sobretudo, são os mesmos que cotidianamente são parados, esculachados, presos, torturados e mortos pela polícia nas periferias do Brasil.
Os rolezinhos em shoppings que se espalham por todo país revela uma das faces da crise urbana, carente de espaços de convivência, acesso a arte, cultura e lazer, condições entregues pelo Estado aos cuidados e usufruto da iniciativa privada de cidades como São Paulo, estruturadas com base na concentração do solo e na especulação imobiliária, que provocam a exclusão, desterritorialização e expulsão da população negra e periférica, para regiões carentes de equipamentos e serviços sociais e culturais. Os Governos tem fundamental responsabilidade e devem responder a essa demanda de maneira imediata.
Criminalizado como um dia fora a capoeira, o samba e o RAP, o Funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética. E se está servindo também para fazer aflorar o racismo enraizado na alma das elites hipócritas – muito mais vinculadas aos valores da luxúria e ostentação que o Funk, declaramos: somos todos funkeiros!
Criminalizado como um dia fora a capoeira, o samba e o RAP, o Funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética. E se está servindo também para fazer aflorar o racismo enraizado na alma das elites hipócritas – muito mais vinculadas aos valores da luxúria e ostentação que o Funk, declaramos: somos todos funkeiros!
Exigimos:
- Anulação imediata das liminares que garantem o direito de segregação aos Shoppings;
- Pedidos públicos de desculpas pela ação racista por parte dos Shoppings e dos responsáveis pelas liminares no âmbito da Justiça;
- Imediato debate público com governos de todas as esferas sobre a pauta da ampliação dos espaços e condições de acesso a arte, cultura e lazer que possam contribuir para a inclusão, a emancipação e garantia de direitos das juventudes, principalmente da juventude negra, pobre e de periferia.
- Fim do Genocídio da Juventude Negra
- Desmilitarização das Polícias e amplo debate sobre um novo modelo de segurança Pública para o Brasil.
Assinam
- CIRCULO PALMARINO
- UNEAFRO BRASIL – União de Núcleos de Educação Popular para Negr@s e Classe Trabalhadora
- MNU – Movimento Negro Unificado
- CONEN-Coordenação Nacional De Entidades Negras
- Núcleo De Consciência Negra Na USP
- Instituto Luiz Gama
- Quilombo Raça e Classe
- UNEGRO – União de Negros Pela Igualdade
- APN’s – Agentes de Pastoral Negros do Brasil
- Coletivo Negro USP
- Bocada Forte Hip Hop
- Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras do Estado de São Paulo
- Ceabra – SP
- CENARAB – Centro Nacional de Religiosidade e Resistência Afro-Brasileiro
- Coletivo Nacional de Juventude pela Igualdade Racial
- Coletivo Quilombação
- Coletivo Katu
- Fórum de Mulheres Negras do Estado de São Paulo
- Fórum Estadual de Juventude Negra do Espírito Santo – FEJUNES
- INSPIR – Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial
- Instituto Búzios
- IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
- Jornal Negritude
- Kwê Seja Dan – Sinha Mejito Kika De Gbessen
- Oriashé – Sociedade Brasileira De Cultura E Arte Negra
- QUILOMBHOJE Literatura
- Coletivo de Entidades Negras/CEN
- Agência Popular de Fomento a Cultura Solano Trindade
- AMPARAR – Associação de Amigos e Familiares de Presos(as)
- ANEL
- Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT
- Associação De Favelas De São José Dos Campos
- Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau
- Banco Comunitário União Sampaios
- Bloco Saci Do Bixiga
- Campanha “Eu Pareço Suspeito?”
- Campanha “Por Que O Senhor Atirou Em Mim?”
- CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
- CEMOP-Centro Evaldo Macedo de Mobilização Popular
- Centro Acadêmico de Histária - USP
- Centro Acadêmico Guimarães Rosa
- Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
- CMP – Central dos Movimentos De Moradia
- Cojira-SP – Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial
- Coletivo Arrua
- Coletivo de Poetas e Poetizas Marginais De Altamira (Xingu E Transamazônia)
- Coletivo Quilombo – EPS
- Comitê de Igualdade Racial e Combate ao Racismo dos Metalurgicos do ABC
- Comunidade Cultural Quilombaque de Perus
- CONAJIR (Coletivo Nacional de Juventude pela igualdade Racial)
- Consulta Popular
- DCE-UFSCar
- DCE-USP
- ECLA – Espaço Cultural Latino Americano
- Escola de Governo
- Esquerda Popular Socialista – São Paulo
- Federação de Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
- FLACSO – Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais
- Frente Perspectiva Mackenzie
- Gt Nacional do Movimento Mudança
- Imagem da Vida
- INESC – Instituto De Estudos Sócioeconomicos
- Instituto Palmares de Promoção da Igualdade
- Instituto Práxis
- INTERSINDICAL-BA
- IPJ – Instituto Paulista De Juventude
- JSOL
- Juntos
- Juventude do PT
- Juventude LibRe – Liberdade e Revolução
- Levante Popular da Juventude
- Mães De Maio
- Mandato Deputada Estadual Leci Brandão
- Mandato Deputado Estadual Adriano Diogo
- Mandato Deputado Federal Ivan Valente
- Marcha Mundial De Mulheres
- MLB - Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
- MMM-RJ
- Movimento de Olho na Justiça – MOJUS
- Movimento Mulheres em Luta
- Movimento Paratod@S
- Movimento Primavera
- Movimento Unidade na Luta – JPT
- MST
- Na Margem (Núcleo de Pesquisas Urbanas da UFSCar)
- Neab-UFSCar (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de São Carlos)
- Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania de Marília
- Núcleo de Estudos do Capital – PT/SP
- Plataforma dos Movimentos Sociais Pela Reforma Política
- Rede 2 De Outubro
- REDE ECUMÊNICA DA JUVENTUDE
- Rede Emancipa
- Refundação Comunista
- Secretaria Municipal De Juventude Do PT São Paulo
- Secretaria Nacional De Juventude Do PT
- Sindicato dos Advogados de São Paulo
- SINTAEMA – Sindicato Dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo
- Tribunal Popular e Comitê pela Desmilitarização da Polícia e da Política
- UJS – União Da Juventude Socialista
- UNIÃO DOS MOVIMENTOS DE MORADIA – UMMSP
- União Nacional dos Movimentos De Moradia
- União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências
- WAPI Brasil
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