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OBSERVATÓRIO - Só indicados por Luiza Bairros puderam falar na reunião com Dilma - Da Redação da AFROPRESS - 25/07/2013

Brasília – Uma semana depois, os bastidores da reunião de lideranças negras arregimentadas pela ministra chefe da SEPPIR, Luiza Bairros, com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, começam a ser revelados e a tentativa de alguns dos presentes de camuflar o caráter “chapa branca” da reunião, caiu por terra.
Os dois únicos participantes que não passaram pelo crivo da ministra - o reitor da Unipalmares, José Vicente, e o Frei David Raimundo dos Santos, diretor executivo da Rede Educafro - contaram a Afropress que não tiveram espaço para dirigir a palavra à Presidente porque, não apenas a pauta, mas também quem teve direito a usar a palavra foi previamente definido pela SEPPIR.
“A reunião na verdade, pode-se dizer, foi uma extensão da SEPPIR, com uma agenda já delimitada, já definida pelos integrantes do CNPIR [Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial]. Não coube qualquer tipo de intervenção mais profunda de quem não era integrante do CNPIR. Ficamos sem palavras. Foram escolhidas seis pessoas para falar por votação. Não fizemos uso da palavra. A palavra oficial foi realizada por essas seis outras pessoas”, contou Vicente. O Conselho, criado por decreto, é formado por entidades e é órgão de assessoramento da ministra.
 
 
 
 
 
Protesto nacional
Falando sobre o encontro com a Presidente, Frei David disse que, na reunião da manhã que antecedeu ao encontro com Dilma, a exigência de cotas no serviço público foi rejeitada. “Na reunião preparatória, às 11 horas, a maioria dos participantes não aprovou que uma das pautas principais a ser cobrada à Presidenta fosse as cotas para negros no serviço público. A Educafro alertou que era um equivoco. Falaram que este tema iria ser apresentado dentro do eixo das ações afirmativas, o que não foi feito. A Educafro não admitiu esta atitude, quebrou o protocolo e fez a pergunta à Presidente o que gerou certa tensão”, contou Frei David.
Frei David está lançando a proposta de que se dê um prazo de 60 dias para Dilma responder as demandas da população negra. Se isso não ocorrer, ele sugere uma vigília no dia 19 de setembro [60 dias após a reunião de Brasília] na porta do Palácio do Planalto. “Os protestos mais eficientes nem sempre são os que aglutinam multidões. Um grupo pequeno de 20 pessoas podem fazer protestos mais eficientes do que uma multidão. Fazer atos concretos, com um grupo pequeno, específico e treinado em reuniões de estratégias é o que esperamos de cada entidade que está batendo nos ditos "militantes de chapa branca"”, afirma.
Arranjo chapa branca
O reitor da Unipalmares disse ter se surpreendido com o convite do Palácio “em cima da hora” e afirma não saber se a reunião já estava sendo pensada “e nem que  circunstâncias se decidiu que a data seria aquela e daquela forma”. “Dada essa circunstância, o arranjamento dessa representação desse ativismo, ficou subordinado à autonomia da SEPPIR, quero crer. E a SEPPIR, por seu turno – seja por escassez de tempo, seja pelo interesse de fazer uma reunião desse tipo – acabou relacionando as pessoas que integram o CNPIR”, acrescentou.
 
 
 
 
 
Vicente avalia que, até pelo momento vivido pelo país, após as manifestações de Junho, a Presidente Dilma Rousseff provavelmente “queria uma conversa mais de cenários". “Ela dizia o seguinte: "olha a situação do país está a merecer um novo olhar e quero ouvir a todos para saber quais as impressões, e quais os indicativos para a construção de um novo pacto social". Mais de avaliação de cenários do que para apresentar proposições para atender demandas setoriais. A reunião acabou deslocada porque, a meu ver, as pessoas que lá estavam, não estavam imbuídas desse sentimento. Acabou se realizando uma reunião para uma coisa, que acabou noutra coisa. Contraditóriamente instituída, ganhou uma conotação setorial com a presença do CNPIR e da SEPPIR”, enfatiza.
Nenhum efeito
Se tivesse havido a reunião pretendida pela presidente, segundo ele, os convidados teriam sido “lideranças com densidade, estatura, profundidade e preparo para fazer esse tipo de análise. “Tendo em conta que foi dessa forma, então acabou sendo uma reunião de reivindicações e que ao final, talvez até em razão do que se defendia, acabou não produzindo nenhum efeito significativo. Uma série de reivindicações do movimento negro que precisa ser colocada no momento propício prá isso. O razoável e o correto é que a reunião tivesse sido marcada com uma boa antecedência que pudesse arrolar outras personalidades e uma pauta de cenários para o futuro na perspectiva negra, peersonalidades com capacidade de construir cenários.
Para Vicente se a reunião fôsse só para dialogar com a SEPPIR, bastaria que a Presidente convocasse a ministra e “traçasse cenários com ela”. “Quando se falou que se pretendia conversar com o movimento negro a expectativa é de que se abrisse espaço para outras expressões. Uma coisa além da SEPPIR, fora da SEPPIR. Perdemos a oportunidade de fazer uma marcação bastante contundente deste cenário”, concluiu.
 
(Crédito das fotos: SEPPIR)

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