As manifestações
realizadas na semana passada em São Paulo e em outras capitais atraem a atenção
da mídia nacional e internacional.
Associado a um momento extremamente propício, as
manifestações tomam as ruas embalada pelo clima da Copa das Confederações no
Brasil e toda a preparação para a realização da Copa do Mundo no território
brasileiro.
O clima gerado pelas recentes mobilizações sociais
que estão ocorrendo na Europa, em decorrência da crise financeira mundial e as
recentes revoltas em diversos países no Oriente Médio, que resultaram em
verdadeiras revoluções, com a queda de regimes ditatoriais, também inspiram
movimentos como estes.
Falando especificamente do Brasil, o Movimento Passe
Livre, surpreende ao propor a tomada das ruas protestando contra o aumento de
R$ 0,20 na passagem de ônibus.
Os analistas sociais tentam entender como é que
milhares de pessoas tomam as ruas por causa de R$ 0,20, acusando às lideranças
do movimento de manipulação da massa e de contratarem “punks” para engrossarem e desenvolverem ações violentas no meio do
turbilhão de pessoas.
Desconsideram que o valor da passagem de ônibus em
São Paulo é uma das mais caras do país.
É algo inevitável que oportunistas aproveitem-se de
grandes aglomerações para instalarem o caos, assim como é público e notório que
extremistas de direita e de esquerda se infiltrem no meio da massa para
incitarem e promoverem a confusão generalizada.
Mais isto, não pode ser encarado como regra, mais
sim como exceção, pois ao repetirmos este discurso inconscientemente estamos
condenando todos os movimentos de massa.
As pesquisas apontam que a população de São Paulo é
favorável às manifestações ocorridas na semana passada, no entanto, estas mesmas
pessoas são terminantemente contrárias a qualquer tipo de violência, seja a
violência policial, que atinge a todos, inclusive aos jornalistas que estão
cobrindo os fatos, ou a violência cometida pelo movimento reivindicatório, que
na maioria das vezes ocorre numa reação de defesa diante da força
desproporcional utilizada pela polícia.
O povo brasileiro, tido como pacífico, ainda não se
acostumou com manifestações como estas.
Podemos contar nos dedos de uma das mãos a
realização de movimentações espontâneas em que o povo saiu às ruas para
reivindicar.
O Movimento “Fora Collor” é um bom exemplo disto.
Em quase todas as ocasiões, há alguma entidade por
detrás das ações, como partidos políticos, centrais sindicais, ONGs etc.
Isto também colabora para que haja uma grande
confusão em relação à leitura política que se faz das atuais manifestações, que
traz como a mais expressiva entidade o desconhecido Movimento Passe Livre.
Não há liberdade de imprensa no Brasil, o monopólio
está nas mãos dos grandes empresários e de alguns políticos conservadores que
não têm nenhum compromisso com maioria da população, impondo o modelo de
sociedade que lhes interessam.
Diante desta situação, as redes sociais se tornam
importantes instrumentos de mobilização social.
Num
pais onde grande parte da população é discriminada, ocupando os espaços
periféricos da sociedade, vivendo um inaceitável racismo ambiental, diante do
privilégio de poucos e a falta de oportunidades de muitos, é perfeitamente
natural que as ruas se tornem a “maior arquibancada do Brasil”, como diz o “hit” da banda “O Rappa”.
*Marcos Benedito é membro do conselho diretivo do
Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial (INSPIR) e moderador do
blog REDEAFRO.
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