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Inimigos do HP em Araçatuba

Hélio Consolaro*

Apenas descobrimos que nossos amigos pensam diferente quando surge um conflito. Com a contratação da banda Inimigos da HP, Zé Renato Gimenes, emérito músico de Araçatuba, manifestou sua opinião por escrito na Folha da Região, dizendo que a Secretaria Municipal de Cultura não contrata artistas locais.


Engraçado! Tenho sido tachado de corporativista pelos artistas de fora, porque só dou espaço para os artistas de Araçatuba. Por causa disso, me chamam de secretário de uma cultura provinciana. Essa questão local/global merece um artigo especial.


A visão de política cultural do plano de governo do prefeito Cido Sério (PT) não é promover apenas eventos, precisamos formar público, fomentar a cultura local. Assim também entendeu o Conselho Municipal de Políticas Culturais, por isso foi aprovado o Fundo Municipal de Apoio à Cultura e a Lei de incentivo fiscal.


Nesta linha, toda vez que o Zé Renato me traz algum projeto de oficina com mestres da música, tenho lhe dado apoio. Dessa forma também, temos o Balé Municipal; apoiamos o Projeto Guri com toda nossa força. Promovemos oficinas de teatro durante o ano, etc. 


Pela primeira vez, a Secretaria Municipal de Cultura, nesta gestão, promove um grande evento, massivo, trazendo um grupo de fama nacional: Inimigos da HP, pagode; porque grande faixa da população só tem esse tipo de show na Expô, pagando para entrar. Então, resolvemos promover o show no aniversário da cidade a pedido do senhor prefeito, sem cobrança de ingresso.


Na av. dos Araçás, 1.º/12/2011, havia 10 mil pessoas assistindo aos Inimigos da HP. No dia 2 de dezembro, feriado, no teatro Paulo Alcides, o Sesc apresentou uma belíssima peça de teatro sobre a vida de Lamartine Babo, emocionante, que em São Paulo está há dois meses com ingressos esgotados. Esperando um grande público,  o Sesc promoveu duas sessões, às 19h e às 21h. As duas só tiveram 100 pessoas cada. Metade da casa estava vazia em ambas. Cadê o nosso público da cultura erudita? Essa é uma discussão que precisa ser aprofundada.


Se formos dividir os gastos com contratação do grupo Inimigos da HP pelo número de espectadores na av. dos Araçás, podemos descobrir que a peça teatral no Paulo Alcides Jorge, contratada pelo Sesc, ficou muito mais cara por espectador. As aparências enganam. 


Quando Zé Renato diz que o evento dos Inimigos da HP não devia ser promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, era papel da Secretaria de Turismo, fazendo “um turismo de mau gosto”, revelou a sua visão preconceituosa e excludente de cultura. Não importa se é uma secretaria ou outra, só existe um cofre: o da Prefeitura. A Cultura tem mais estrutura e prática na montagem de eventos.



Inimigos da HP em Araçatuba, 1.º/12/2011


Pagode é cultura, música sertaneja também. Tais estilos podem não ser os do secretário de Cultura Hélio Consolaro, mas eu não tenho o direito de impor o meu gosto para toda a população, eu preciso ser republicano ao tratar toda a sociedade.  A monarquia ficou lá atrás e o Marquês de Pombal também.


Se nossa sociedade é estratificada socialmente, também temos de respeitar a diversidade cultural. Ninguém tem o direito de rebaixar um segmento social porque possui uma cultura diferente.  Todos os segmentos culturais precisam ser beneficiados, inclusos pelo poder público.        


Assim, amigo Zé Renato, sei que escreveu a cartinha num momento de impetuosidade. Nem fiquei melindrado com ela, apenas quis aproveitar o momento para discutir o conceito de cultura entre nós. Existe sim a cultura acadêmica, apresentada nos templos da erudição, e ela precisa ser valorizada, mas não podemos desprezar a cultura de outros segmentos, chamando-a de “mau gosto”.


 Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP    

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