Pular para o conteúdo principal

Monopólio de mídia é igual a manipulação, controle e censura. Democracia, já

Escrito por: Rosane Bertotti, secretária de Comunicação da CUT e da Operativa da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS)

06/09/2011
Os monopólios privados de mídia têm usado e abusado dos meios de comunicação para, através do mais absoluto e anti-democrático controle, da descarada manipulação e da odiosa censura, calar oponentes e pautar a agenda nacional, estadual ou municipal ao bel prazer dos seus interesses, sempre umbilicalmente ligados ao de seus anunciantes.
Por projetarem sobre os demais o seu pouco apreço pela verdade, não é de estranhar o alvaroço com que responderam à recente realização do 4º Congresso Nacional Extraordinário do Partido dos Trabalhadores e suas deliberações em relação à implementação de uma agenda estratégica para as comunicações no Brasil. Pautas que, em boa medida, sintetizam o que foi aprovado na Constituição Cidadã de 1988 em relação ao tema – mas que ainda não foram regulamentados pela sabotagem dos parlamentares conservadores – e que dialogam com o que os movimentos sociais vêm defendendo para o aprofundamento e oxigenação da democracia brasileira.
Abolindo as mais elementares regras do jornalismo, negando espaço ao contraditório, mentindo abertamente, sonegando e segregando, emissoras de rádio e televisão - que são concessões públicas - atuam como porta vozes dos senhores feudais, reduzindo informações a simples mercadorias, prostituídas no seu balcão de negócios.
Por isso criminalizam movimentos como o MST; invisibilizam ações sindicais de luta por melhores condições de vida e trabalho; promovem a “rebeldes” os mercenários da OTAN na Líbia; transformam a construção os mais de 700 quilômetros do muro do apartheid de Israel na Palestina em “obstáculo contra os terroristas”; calam sobre as torturas e assassinatos praticados pelas tropas dos EUA no Afeganistão e escondem de suas criminosas estatísticas a morte de mais de um milhão de iraquianos vitimados pelos bombardeios e pela ocupação militar estrangeira. Afinal, como ficariam os anúncios das transnacionais petroleiras e dos grandes bancos? E os interesses da indústria bélica e do Pentágono?
Talvez por causa disso os barões da mídia e peões do império tenham se incomodado tanto com a moção aprovada no Congresso do PT, uma vez que de forma altiva e ativa, plural e democrática, os delegados e delegadas assumiram posições claras em defesa da democratização da comunicação. Palavras que são vista como palavrão, uma vez que representam a negação dos monopólios de mídia, a asfixia de seus mesquinhos interesses.
Diante do silêncio sepulcral com que os monopólios privados trataram os fatos, substituindo-os por boatos, vamos relembrar alguns pontos que dialogam com o que temos pensado e debatido na CUT e na Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). São orientações que devem ser assumidas pelo conjunto da sociedade e por todo e qualquer partido que respeite a democracia.
Vou citar alguns pontos citados na tão difamada quanto desconhecida moção sobre comunicação, me abstendo de maiores considerações, uma vez que falam – e ecoam - por si:
- Fortalecer o papel regulador do Estado no setor de telecomunicações, de modo a promover e proteger a diversidade cultural brasileira, ampliar o intercâmbio cultural com todos os povos do planeta, possibilitar maior competição entre agentes de mercado, redução do preço ao usuário, aumento da qualidade e multiplicação dos investimentos privados na infraestrutura que dará suporte às demandas de um Brasil efetivamente conectado.
- Aprofundar políticas públicas que garantam o acesso das populações de baixo poder aquisitivo ou de regiões distantes das grandes cidades aos serviços de comunicações. Para tanto, o Estado deverá garantir recursos para equipamentos públicos de acesso, provimento do serviço e terminais.
- Ampliar o investimento em grandes redes radiodifusão pública e de telecomunicações, a exemplo da EBC e da Telebrás, que fujam da lógica imediatista de mercado, podendo assim voltar a sua atuação a regiões e públicos de menor potencial econômico; atender aos órgãos da administração pública, o que, além de gerar impactos econômicos positivos, potencializa os resultados dos mais diferentes serviços básicos, da educação à segurança e à saúde, e tornarem-se alternativas às redes privadas, gerando competição e pluralidade.
- Garantir que o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, em parte desenvolvido em nossos laboratórios e já adotado por diversos países, realize todo o seu potencial inovador por meio do middleware Ginga – ou seja, que ele de fato utilize recursos interativos que demandem produção local e induzam à inclusão digital.
- Afirmar a radiodifusão como um serviço público, de caráter universal, aberto e de alta relevância social.
- Consolidar um sistema público de rádio e televisão, apoiar e descriminalizar a radiodifusão comunitária e dotar os processos de outorga de radiodifusão de mecanismos de transparência e de critérios objetivos.
- Vedar a concessão e permissão de outorgas de radiodifusão a políticos e ocupantes de cargos públicos em exercício da função bem como formas de concentração empresarial, a exemplo da propriedade cruzada, que levem ao abuso de poder econômico.
- Democratizar a distribuição das verbas públicas de publicidade visando o estímulo à pluralidade de fontes de informação nas diferentes esferas da federação.
- Participar do diálogo da sociedade com os governos na elaboração das políticas de comunicações por meio da criação de conselhos de comunicação em todos os estados da federação e no Distrito Federal, fortalecimento do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional e dos processos participativos nacionais que envolvam todos os entes federados realizando a II Conferência Nacional de Comunicação.
Como a resolução é extensa, foquei em apenas alguns dos temas abordados que, no fundamental, dialogam com o espírito e o compromisso assumido democraticamente pela representação da sociedade civil, com a participação de trabalhadores, estudantes, dirigentes comunitários, lideranças negras e femininas, empresários e governos na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
Em sua conclusão, o documento aponta para a necessidade de criar um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil que venha a substituir as atuais normas sobre telecomunicações e sobre radiodifusão. Este novo marco, defenderam os petistas, deverá ter entre seus princípios: a liberdade de expressão e de imprensa e a vedação à censura; a garantia dos direitos do cidadão, da infância e da adolescência; a pluralidade de fontes de informação; o fortalecimento da cultura brasileira; o fortalecimento da indústria nacional criativa, especialmente a produção audiovisual independente. o direito de acesso às redes de comunicação; o apoio às redes públicas e comunitárias de comunicações; a participação social na elaboração de políticas de comunicação, por meio de instâncias democráticas e representativas do conjunto da sociedade; o desenvolvimento econômico regional e a desconcentração de oportunidades de negócio.
Quem é contra estas mudanças, na ânsia de manter privilégios, se esconde atrás do discurso demagógico, oportunista e falso de que a liberdade de imprensa estaria em perigo. Felizmente, estamos conscientes e mobilizados para salvá-la.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Roberto Carlos - Disco Louco Por Você 1961 - Completo) - Antonio Alves (Tony )

  Depois de muitos pedidos estou disponibilizando para todos vocês o Disco completo mais raro de Roberto Carlos de 1961 com excelente áudio e com duas faixas bônus "Cazone Per Te" e L' ultima Cosa " versão em Stereo de 1968 . Sobre esse Disco : Dois anos depois do lançamento do compacto simples "João e Maria/Fora do Tom" em 1959, Roberto Carlos estreava "Louco por Você", primeiro LP do cantor. O disco expressa a fase inicial da carreira de Roberto, fã da bossa nova e da música romântica. Boa parte das canções do álbum tem composição de Carlos Imperial. Sem sucesso comercial , dizem que vendeu apenas 512 copias ,Louco por Você" acabou renegado por Roberto até hoje e se tornou o segundo LP mais caro no Brasil. Lista das músicas 01- Não é Por Mim-Autores: (Carlos Imperial-Fernando Cesar) 02- Olhando Estrelas (Look For a Star)-(Look for a star) De Mark Antony(vs. Paulo Rogério) Bolero 03- Só Você-Autores: Edson Ribeiro e Renato Corte Real...

Madame Satã, o transformista visto como herói da contracultura e vilão pelo governo Bolsonaro - Daniel Salomão Roque De São Paulo para a BBC News Brasil 26 junho 2021

  bibliOTECA NACIONAL Legenda da foto, Manchete sobre a participação de João Francisco numa fuga penitenciária em 1955. O transformista nutria grande admiração por Carmen Miranda e procurava imitá-la sempre que possível Ao abaixar a cabeça, João Francisco dos Santos, então com 28 anos, viu duas poças se avolumarem no chão de seu quarto — de um lado, as gotas de sangue pingando através de um rasgo em sua sobrancelha direita; do outro, as lágrimas que lhe escorriam pelos cantos dos olhos. Não demorou muito para que ambos os fluidos se misturassem numa poça maior. "A minha pessoa estava feliz demais naquela noite. Eu devia ter desconfiado", recordaria quatro décadas depois, em depoimento ao escritor Sylvan Paezzo (1938-2000). "Já tinha apanhado tanto da danada da vida, que pensei ter chegado a minha boa hora. Aquela demagogia de que não há mal que sempre dure e que depois da tempestade vem a bonança." Corria o ano de 1928, e João Francisco acreditava ter realizado o so...

A melhor lista dos 10 melhores filmes de todos os tempos? - POR: PRAGMATISMO POLÍTICO

Quais são os 10 melhores filmes de todos os tempos? Pergunte a qualquer pessoa, e dificilmente as escolhas serão as mesmas. Mas, se diferentes listas começam a repetir os mesmos itens, talvez isso signifique algo. A seguir, confira uma lista dos 'top10' com os filmes mais citados por críticos Melhores filmes (Imagem: Pragmatismo Político) Escolha um conhecido qualquer e pergunte: quais são os 10 melhores   filmes   de todos os tempos? Anote as respostas num papel, e faça a mesma pergunta para outra pessoa. Dificilmente as escolhas serão as mesmas. Mas, se diferentes listas começam a repetir os mesmos itens, talvez isso signifique algo. Esse é o raciocínio seguido pelo  Metacritic , site que reúne a opinião de críticos de cinema. O site computa e faz média das notas dadas por especialistas, fornecendo uma ideia geral se aquele filme é bem aceito, ou não, pela imprensa. De acordo com o site, a lista média dos críticos é bem eclética, com longas com mais de 70 ...