Muito barulho por nada
Por Alberto Dines em 06/09/2011 na edição 658
A grande imprensa ainda não consegue comportar-se com naturalidade em assuntos que lhe dizem respeito. Exemplo disso foi a cobertura do 4º Congresso do PT, realizado de sexta-feira a domingo (2-4/9), em Brasília.
O acompanhamento do evento foi customizado, isto é, adaptado às posições dos jornais e acrescido de um clima de tensão visivelmente forçado. A imprensa só se preocupou consigo mesma esquecida de que o conclave teve uma vasta e variada pauta.
Congresso de partido político é imperiosamente buliçoso, animado. Se a militância não se agita, o evento fracassa. O PT vive um momento complicado que a desastrada matéria de capa da edição da semana passada de Veja exacerbou (ver “Jornalismo político volta à Era da Pedra Lascada”). Natural o movimento de solidariedade ao principal denunciado pela matéria, José Dirceu. Impossível evitar que setores mais radicais não se movimentassem para armar represálias.
Mas entre os congressistas preocupados com a mídia circularam idéias pertinentes, sequer contempladas pela cobertura da mídia. Convocar o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para julgar casos de propriedade cruzada foi uma delas. Outra foi a criação de uma agência reguladora nos moldes da americana FCC, concebida pelo presidente Franklin Roosevelt, em 1934. Registraram-se propostas para a criação de conselhos de comunicação regionais (para comprovar o clima de radicalização), mas omitiram-se as justas reclamações contra o desaparecimento do Conselho de Comunicação Social.
Desgaste inútil
A cobertura dos jornalões durante o fim de semana preparava os leitores para um documento final xiita, extremado, que funcionaria como rastilho para um novo round na briga governo-mídia. Mas assim como houve ânimos exaltados, também houve pressões moderadoras, oriundas principalmente da presidência da República. Felizmente vitoriosas.
Na segunda-feira (5/9) a reação da imprensa ao documento final foi de retumbante apatia: apenas o Estado de S.Paulo, velho cruzado navarrista, manteve o clima de confronto com uma manchete rigorosamente chocha e desproporcionada: “PT defende mobilização para regular ação da mídia”. O PSDB ou o PPS também defenderiam.
A Folha de S.Paulo abafou as conclusões do congresso petista enfiando-as dentro de uma matéria política mais ampla (pág. A7) e o Globo – seguindo as normas editoriais recentemente adotadas – registrou-as de forma álgida, distante (pág. 5) Como mereciam.
Muito barulho por nada, diria Shakespeare. Desgaste inútil é o que se constata. Hora de retomar questões vitais da agenda midiática, convenientemente esquecidas: a criação do prometido órgão de autorregulamentação, reativação urgente do Conselho de Comunicação Social, fim das concessões de rádio e TV para parlamentares e entidades religiosas.
Por ora, como aperitivo.
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