Em entrevista à Carta Maior, o historiador Lincoln Secco fala sobre seu novo livro, "A história do PT". "O PT cumpriu grande parte do seu programa mínimo: melhoria do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, reconhecimento das centrais sindicais, criação de um mercado interno de massas, política exterior soberana etc. Mas ele abandonou o programa máximo: um socialismo vagamente definido. Todavia, é preciso lembrar que nas condições brasileiras o programa mínimo já é muito, o que dificulta a tarefa da esquerda petista e de partidos de extrema esquerda", diz op autor.
Gilberto Maringoni
Nesta entrevista à Carta Maior, o historiador Lincoln Secco, 43, autor, entre outros de Caio Prado Júnior: O Sentido da Revolução (Boitempo, 2009) e de 25 de abril de 1974 - A Revolução dos Cravos (Compahia Editora Nacional, 2005) conta o que o levou a escrever História do PT.
Leia também: O PT, entre a militância e o poder
Carta Maior - Quando e por que o senhor decidiu escrever o livro?
Lincoln Secco - Eu decidi escrever a obra quando Lula terminou o segundo mandato. Achei que somente agora seria possível uma história abrangente do PT, pois só o teste do poder permite avaliar a trajetória de um partido. Penso que um ciclo da história petista se encerrou. Agora era o momento. Antes não dava e, no futuro, isso será tarefa de teses acadêmicas e obras coletivas.
Carta Maior - Por que optou em não entrevistar os principais dirigentes?
Lincoln Secco - Eu conversei com alguns dirigentes, assessores, quadros intermediários e muitos ex-militantes. Dois motivos me guiaram. Em primeiro lugar, eu queria fazer uma história social do PT, a partir das bases e não estudar a evolução eleitoral, do discurso, das resoluções ou as mudanças ideológicas dos dirigentes. Não me interessava a história das ideias. Em segundo lugar, quis ficar distante de uma história oficial, comprometida com o PT. Eu até sonhava em seguir uma ideia basista: escrever a história do PT sem citar nenhum nome. Mas aí, quando comecei a redigir, escrevi no caderno, sem querer, o nome do Lula. Percebi que seria impossível ignorar os dirigentes.
Carta Maior - Quanto tempo levou sua elaboração?
Lincoln Secco - A redação demorou só seis meses. Aproveitei algumas coisas já escritas, anotações antigas. Eu guardei sempre recortes de jornais desde os anos 1980 e anotava em cadernos frases de dirigentes petistas e “falações” de reuniões. Mas o principal é que eu tinha muita documentação em casa ou com amigos próximos. A consulta de teses foi mais fácil ainda porque muitas estão na internet. Contou a meu favor também o fato de que eu conhecia a trajetória petista. Fui também testemunha ocular, ainda que na condição de bagrinho. Só que um bagrinho numa época em que a diferença entre dirigentes e dirigidos não era tão grande.
Carta Maior – O senhor acha que o PT cumpriu as principais metas que se propunha quando foi criado?
Lincoln Secco - Remetendo aos socialistas do inicio do século XX, eu diria que o PT cumpriu grande parte do seu programa mínimo: melhoria do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, reconhecimento das centrais sindicais, criação de um mercado interno de massas, política exterior soberana etc. Mas ele abandonou o programa máximo: um socialismo vagamente definido. Nominalmente, ele continua nas resoluções congressuais, mas não dialoga mais com a prática partidária. Todavia, é preciso lembrar que nas condições brasileiras o programa mínimo já é muito, o que dificulta a tarefa da esquerda petista e de partidos de extrema esquerda.
Carta Maior – O senhor militou no PT. Segue filiado até hoje?
Lincoln Secco - Militei no PCB entre 1984 e 1986 e, desde então, no PT. Nunca tive cargo remunerado no partido ou em gabinetes. Continuo filiado e faço parte do conselho de redação de Teoria e Debate . Não sou mais militante. Considero-me hoje um eleitor crítico.
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Carta Maior - Quando e por que o senhor decidiu escrever o livro?
Lincoln Secco - Eu decidi escrever a obra quando Lula terminou o segundo mandato. Achei que somente agora seria possível uma história abrangente do PT, pois só o teste do poder permite avaliar a trajetória de um partido. Penso que um ciclo da história petista se encerrou. Agora era o momento. Antes não dava e, no futuro, isso será tarefa de teses acadêmicas e obras coletivas.
Carta Maior - Por que optou em não entrevistar os principais dirigentes?
Lincoln Secco - Eu conversei com alguns dirigentes, assessores, quadros intermediários e muitos ex-militantes. Dois motivos me guiaram. Em primeiro lugar, eu queria fazer uma história social do PT, a partir das bases e não estudar a evolução eleitoral, do discurso, das resoluções ou as mudanças ideológicas dos dirigentes. Não me interessava a história das ideias. Em segundo lugar, quis ficar distante de uma história oficial, comprometida com o PT. Eu até sonhava em seguir uma ideia basista: escrever a história do PT sem citar nenhum nome. Mas aí, quando comecei a redigir, escrevi no caderno, sem querer, o nome do Lula. Percebi que seria impossível ignorar os dirigentes.
Carta Maior - Quanto tempo levou sua elaboração?
Lincoln Secco - A redação demorou só seis meses. Aproveitei algumas coisas já escritas, anotações antigas. Eu guardei sempre recortes de jornais desde os anos 1980 e anotava em cadernos frases de dirigentes petistas e “falações” de reuniões. Mas o principal é que eu tinha muita documentação em casa ou com amigos próximos. A consulta de teses foi mais fácil ainda porque muitas estão na internet. Contou a meu favor também o fato de que eu conhecia a trajetória petista. Fui também testemunha ocular, ainda que na condição de bagrinho. Só que um bagrinho numa época em que a diferença entre dirigentes e dirigidos não era tão grande.
Carta Maior – O senhor acha que o PT cumpriu as principais metas que se propunha quando foi criado?
Lincoln Secco - Remetendo aos socialistas do inicio do século XX, eu diria que o PT cumpriu grande parte do seu programa mínimo: melhoria do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, reconhecimento das centrais sindicais, criação de um mercado interno de massas, política exterior soberana etc. Mas ele abandonou o programa máximo: um socialismo vagamente definido. Nominalmente, ele continua nas resoluções congressuais, mas não dialoga mais com a prática partidária. Todavia, é preciso lembrar que nas condições brasileiras o programa mínimo já é muito, o que dificulta a tarefa da esquerda petista e de partidos de extrema esquerda.
Carta Maior – O senhor militou no PT. Segue filiado até hoje?
Lincoln Secco - Militei no PCB entre 1984 e 1986 e, desde então, no PT. Nunca tive cargo remunerado no partido ou em gabinetes. Continuo filiado e faço parte do conselho de redação de Teoria e Debate . Não sou mais militante. Considero-me hoje um eleitor crítico.
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