Ao iG, brasileira responsável por matérias em português do site fala sobre canal aberto ao público, que elegerá temas de interesse
Após o polêmico vazamento iniciado em novembro de mais de 250 mil documentos diplomáticos americanos, o WikiLeaks passa por um momento delicado com as audiências de segunda e desta terça-feira de extradição de seu fundador, o australiano Julian Assange, do Reino Unido para a Suécia - onde é acusado de crimes sexuais. Apesar disso, a equipe do site promete continuar seus trabalhos com a divulgação de dados do banco suíço Julius Baer e com o projeto de estabelecer uma estratégia de divulgação específica para o Brasil.
Em vez de publicar informações pré-selecionadas, a ideia é estabelecer um canal aberto no qual o leitor elegerá quais são seus temas de interesse. "Vamos abrir para o público e ver o que desejam saber", contou ao iG Natalia Viana, jornalista brasileira responsável pelas matérias em português sobre as revelações do site fundado por Assange.
Foto: Arquivo pessoal
Natalia Viana foi escolhida por Assange para traduzir e divulgar os documentos do Cablegate no Brasil
"A informação não é totalmente de cima pra baixo. Durante dois meses os brasileiros viram questões levantadas e determinados focos (em relação ao Cablegate, os documentos diplomáticos dos EUA), e agora farão pedidos específicos sobre determinados documentos." A mediação será feita pela própria Natalia, por meio de um blog que mantém em parceria com o site da revista Carta Capital.
Amiga e fã de Assange - que define como jovem espirituoso e revoltado com as injustiças do mundo-, ela conta que, apesar da ansiedade e do medo em relação ao que acontecerá, o WikiLeaks tem "muitos projetos encaminhados". "Sei que foi uma perda muito séria quando bloquearam doações com cartão de crédito (ao site), mas não tenho visto excesso de preocupação. O WikiLeaks ganhou uma enorme projeção, e isso é o que vale. As tentativas de miná-lo são claras, mas as pessoas o apoiam", disse.
A jornalista brasileira conheceu Assange no ano passado, quando o WikiLeaks a procurou para ajudar na divulgação dos telegramas diplomáticos no País. Além de produzir matérias para o wiki do projeto, ela trabalha como freelancer para o site Opera Mundi e estuda a criação de uma agência de notícias, veiculadas por meio da política de cessão de direitos Creative Commons.
Sem titubear, ela diz que o WikiLeaks "veio para ficar". "Hoje não há mais determinadas cátedras do saber. Tudo é mais fluido, plural e instantâneo", disse. Depois da iniciativa de Assange e de sites rivais como o OpenLeaks, ela lembrou que veículos como a rede árabe Al-Jazeera e o jornal americano New York Times também buscam estabelecer uma espécie de WikiLeaks dentro de seus serviços.
"Mesmo se nenhum veículo quisesse publicar o conteúdo do WikiLeaks, há respaldo pela qualidade das informações", afirmou. Para divulgar os documentos diplomáticos, o WikiLeaks fez parcerias com o americano The New York Times, o britânico Guardian, o espanhol El País, o francês Le Monde e a revista alemã Der Spiegel.
Julgamento
Assange - com quem a jornalista conversa todos os dias - e os advogados do australiano estavam extremamente tensos na véspera das audiências de extradição que tiveram início na segunda-feira em Londres, relatou a brasileira. "A situação não é apenas chata e extenuante, mas também deprime quem está ao redor", afirmou Natalia.
Ao falar sobre as motivações por trás das acusações contra o australiano, ela diz que não tem como comprovar a afirmação de Assange - que vê perseguição política em retaliação ao Cablegate -, mas acha exagerada a situação em que foi colocado (sob toque de recolher e monitorado por uma tornozeleira eletrônica). "Ele ainda não foi formalmente acusado", protestou.
Natalia acredita que, se Assange for extraditado, a Justiça sueca pode alegar risco de fuga para justificar sua permanência na prisão até que o processo de acusação seja finalizado. "As acusações de crimes sexuais são feitas a portas fechadas e não vamos saber o que está acontecendo. Será mais difícil ter certeza de que o processo será idôneo", observou.
Perseguição
Ao ter sido golpeado pelo boicote financeiro de empresas como Visa, MasterCard e PayPal, Assange chegou a chamar tais companhias de "tentáculos da elite americana corrupta". Natalia, no entanto, disse que a comparação é fruto da irreverência do mentor do WikiLeaks.
"O Assange tem excelentes frases de efeito e é inteligente. Sou mais chata e vejo que tanto empresas que bloquearam o site quanto jornais como o New York Times estão sofrendo fortes pressões de parlamentares e dos Departamentos de Justiça e Estado americanos", explicou.
Diferentemente de Assange, conhecido por ser paranoico e ter mania de perseguição, a jornalista brasileira diz se sentir segura. "Não fico nem um pouco preocupada. Acredito que o Brasil é um país livre, sem ingerência americana - espero que a CIA não esteja nos ouvindo agora", disse. "Mas, com um grupo no Pentágono e outro do Departamento de Justiça para tentar incriminar o WikiLeaks, Julian é claramente perseguido."
Comentários
Postar um comentário