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O nazista norueguês e os racistas nativos


Por Altamiro Borges

O neonazista Anders Behring Breivik, que já confessou à polícia ter recebido a ajuda de “outras células” terroristas nos atentados na Noruega, pode virar um herói dos racistas brasileiros. No manifesto publicado na internet poucas horas antes da ação criminosa, o direitista cita o Brasil, fazendo duras críticas à miscigenação racial existente no país.

A miscigenação no Brasil

No texto “Declaração Européia de Independência”, com 1.500 páginas, ele condena a pretensa “revolução marxista” no Brasil, que teria resultado na mistura de povos europeus, africanos e asiáticos. Na sua visão racista, esta mistura seria culpada pelos “altos níveis de corrupção, falta de produtividade e em um conflito eterno entre várias culturas”.

O neonazista também condena a existência de “mulatos e mestiços” no Brasil, afirmando que eles são “subtribos”. Os bárbaros atentados em Oslo e na ilha de Utoeya, que causaram 76 mortes (número oficial), objetivariam evitar esta miscigenação na Noruega. “É evidente que um modelo semelhante na Europa seria devastador”, concluiu o direitista.

A força do preconceito

Apesar de a mídia relativizar a ação criminosa do extremista, tratando-o como um maluco – como insinua a Folha no seu editorial de hoje –, as suas idéias têm força em vários países. Na Noruega, o Partido do Progresso, organização de extrema direita da qual o assassino foi militante, obteve 614 mil votos (23% do total) nas eleições de 2009. Nos EUA, os racistas estão presentes no Tea Party, a extrema-direita do Partido Republicano, que prega o ódio aos imigrantes.

Mesmo no Brasil, Anders Breivik tem os seus adeptos. Há grupos fascistas históricos, como a TFP e a seita Opus Dei, e também setores mais recentes, que ficaram indignados com as políticas distributivas do governo Lula. A campanha presidencial do ano passado confirmou a existência destes segmentos preconceituosos, racistas e homofóbicos.

Serra, a mídia e o ódio

Incentivados pelo discurso direitista do tucano José Serra, eles vieram à tona. Na internet, jovens da chamada classe média pregaram o ódio racial. “Mate um nordestino”, foi uma das mensagens mais difundidas pelas redes sociais. No período da eleição, várias agressões homofóbicas ocorreram na Avenida Paulista e outras partes da capital.

O preconceito também está presente na mídia burguesa. É só lembrar as declarações racistas de Boris Casoy, âncora da TV Bandeirantes, contra os garis; ou as bravatas elitistas do ex-comentarista da RBS, filial da TV Globo, contra o consumo de carros pelos “pobres”. Nos jornalões, nas rádios e TVs, as visões direitistas são totalmente hegemônicas.

"O terrorismo de cada dia"

Como aponta Luciano Martins Costa, no comentário “A mídia e o terrorismo de cada dia”, postado no Observatório da Imprensa, as sandices do direitista norueguês infelizmente “freqüentam o ambiente midiático” no Brasil. “Não são raros os articulistas e até mesmo editorialistas que acreditam em teses de supremacia racial”.

“Na mídia do sul do Brasil proliferam apresentadores de rádio e TV, colunistas e outros jornalistas que costumam debitar as históricas carências nacionais ao que consideram como o ‘peso’ do Nordeste. Mesmo com os altos índices de desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste, registrados nos últimos anos, o mote preconceituoso ainda acompanha, explicitamente ou de maneira velada, comentários sobre corrupção, violência e deficiência educacional”.

Como atento observador da mídia nativa, Luciano se mostra preocupado com o avanço das idéias racistas no país:

“Com a conivência da imprensa – que continua cedendo espaço ao que há de mais conservador por aí – a reiteração de raciocínios tortos contribui para desvalorizar a diversidade cultural e racial e estimular o preconceito... Um ato terrorista como o que atingiu a Noruega sempre produz reações de choque, mas o noticiário e o opiniário do dia a dia dissimulam o fato de que a intolerância amadurece até o ponto da explosão por meio da repetição de conceitos anti-humanitários através da mídia”.

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