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De Narciso, Erínias, Harpias (ou: Freud explica?)

Resposta ao post 'Narcisos'.

Nunca vi tanta gritaria como a que ocorre por conta da escolha dos premiados com o Troféu Cultural Odette Costa.

Tudo foi errado, ninguém merecia o prêmio, ninguém tinha competência para escolher os premiados.

Erínias gralham aos quatro ventos, rogando que Éolo leve adiante a indignação da “verdadeira” classe cultural. Afinal, eles (e somente eles) mereceriam o prêmio e/ou seriam capazes de escolher os “verdadeiros” merecedores do prêmio.

No seu preclaro entendimento, os membros do CMPCA não têm competência nem representatividade para fazer tal escolha, uma vez que nenhum de seus favoritos teria sido contemplado nesta edição do Prêmio Cultural.

Estaria o CMPCA viciado, padecendo de narcisismo agudo e cegueira completa.

No entanto, qualquer um dos narcisos, erínias e harpias a gralhar deu-se ao trabalho, ao longo dos últimos 2 anos, de acompanhar os trabalhos do CMPCA.

Narcisos foram feitos para admirar apenas a si mesmos, preferencialmente em espelhos (e quanto mais perfeitos os espelhos, para aprimorar o reflexo, melhor). Se o CMPCA não os espelha, nada vale…

Erínias vivem a vociferar contra tudo e contra todos. Representam o lado mais virulento do ser humano. Raiva, inveja, prepotência, visão embotada… Gralham as erínias pelos caminhos obscuros que conduzem à morada de Hades.

As Harpias – misto de ave e mulher – não diferem muito. Mudam quase que somente de lugar… vagam pelo mundo vociferando aqui e ali, semeando e alimentando dissensão, discórdia, ciúme.

Alimentam-se das desavenças, dos atritos, da ira que provocam.

Como a águia que devora cotidianamente o fígado de Prometeu acorrentado, buscam culpados para aquilo que são incapazes de fazer. A cada dia, buscam um fígado alheio para alimentar-se e, depois de devorá-lo, imaginam que no dia seguinte novamente o terão à disposição, para no acepipe.

Enraivecem-se continuamente, com a mesma sofreguidão com que buscam a culpa no ombro alheio.

Nada nem ninguém haverá de melhor que eles próprios.

Tal qual Narciso, a apaixonar-se pelo próprio reflexo e afogar-se ao tentar alcançar a si mesmo (transformando-se em flor), buscam impor sua imagem e semelhança ao que não tem cabresto e nem usa antolhos.

A bola da vez é o CMPCA e as escolhas (democraticamente feitas) dos nomes premiados com o troféu que leva o nome da colunista social.

Inadmissível, na grotesca visão de alguns, que alguém que apenas pense a Cultura de forma global receba tal distinção. Não tem livro publicado, não tem quadro em casa de madame, não tem prêmio em festival, não tem vídeo rodando na casa de uns poucos, não escreveu poemas, tampouco toca violão por aí.

Apenas pensa! Imagina! Projeta! Tenta construir uma base diferente para que os artistas tenham condições de viver sua arte.

O que faz tal aberração sentada no CMPCA?

Como se atreve a encará-los de igual para igual?

O que produz que possa ser chamado de Cultura?

Diabruras de ogro, certamente… Lobo banido das estepes mais gélidas de um mundo esquecido, onde Cultura era um todo não fracionado e interagia com tudo, de todas as formas, sob todos os talentos. E lobos são ferozes!

Lobos vivem em matilhas, mas morrem solitariamente. Lobos encaram ursos, cobras, malamutes e o que mais se lhes atravessar a frente.

Lobos são sorrateiros, atacam em bando, caçam preparando ciladas.

Lobos são a origem de todos os cães. Mas os cães devem ser submissos, abanar o rabo e, quando muito, ladrar enquanto a caravana pomposa dos ególatras desfilar seu talento imensurável pelas ruas da cidade.

Lobos e Ursos são animais a serem banidos do mundo dos homens, pois corrompem almas e pensamentos.

São livres, talvez sejam até mesmo poderosos! Talvez sejam capazes de promover mudanças inconvenientes, que alterem um estado de coisas que Narcisos, Erínias e Harpias não querem ver mudado.

Corvos! Talvez fosse preferível que, ao invés de lobos e ursos, apenas corvos esvoaçassem sobre as 40 cadeiras do CMPCA e sobre elas pousassem para conchavar premiações.

Dizem que os corvos (pobres aves tão injustamente associadas aos péssimos agouros…) são tão podres quanto as Erínias e as Harpias e tão ególatras quanto os Narcisos.

Eu disse 40 cadeiras? Certamente dirão que tais cadeiras estão ocupadas por cúmplices de Ali Baba, que assaltam a “honra” da Cultura, por querê-la democrática e fora da mesmice.

Mesmo que isso signifique premiar, por mais de uma vez, nomes que se destacam no cenário cultural da cidade.

Isso – premiação em mais de uma ocasião – é inadmissível, enquanto eles próprios não forem os premiados. Eles e aqueles que compõem seus séquitos. E, claro, os vassalos gralham em uníssono com seus senhores.

É preciso apenas ser conselheiro para ser desmerecido, desrespeitado, enxovalhado, questionado em talento, responsabilidade e integridade de atitudes.

Erínias e Harpias encarregam-se de gralhar aos ventos, mas será que Éolo ouvirá?

Mitos à parte, é sintomático quando um determinado grupo mostra-se tão insatisfeito.

De duas, uma: ou o grupo queria os prêmios que foram conquistados por outros; ou um outro grupo está tão errado que merece ser escorraçado.

De que lado está a verdade, só Cronos dirá.

E há que se lembrar que Cronos devorava seus filhos… Narcisos, Erínias e Harpias talvez devessem se preocupar mais com ele do que com lobos, ursos e pássaros que, tal qual os Cavaleiros da Távola Redonda, buscam, lutam e defendem um Graal: a Cultura da cidade.

Só não há um Arthur, um Merlim, uma Viviane ou uma Morgana para encantar os desencantos herdados depois de tanto tempo de descaso…

Em tempo: como toda mitologia (grega, romana, nórdica e celta) compõe a base da teoria da Psicologia, criada por Sigmund Freud, será que ele seria capaz de explicar tal reação?…

O Observatório Social da Imprensa de Araçatuba decidiu publicar este texto, por entender que o mesmo contribui para uma boa reflexão coletiva.

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