Os economistas, quando pressionados pelos politicos, usam uma expressão criada por James Carville, assessor de campanha do ex-presidente norte-americano Bill Clinton: It´s the economy, stupid (É a economia, estúpido). Ela foi usada num debate, na televisão, com o ex-presidente George W. Bush e hoje bem que poderia ser usada também na atual discussão sobre o futuro das empresas jornalísticas.
por Carlos Castilho para o Observatório da Imprensa
Um dos grandes problemas enfrentados por todos os que participam desse debate é a dificuldade em separar negócios e jornalismo. A cultura da indústria da comunicação foi associada de tal maneira à economia e às finanças que tornou-se difícil perceber uma mudança que está alterando a nossa visão de mundo.
A valorização da informação como matéria-prima desenvolveu um novo modelo econômico que rompe com a hegemonia absoluta do mercado como definidor de preços e da propriedade privada como ferramenta básica para ingressar neste mercado. Nós estamos acostumados a raciocinar apenas em função de matérias-primas físicas, aquelas que a gente pode agarrar.
Essas matérias-primas, como o petróleo, grãos e minerais são diferentes da informação, em vários itens essenciais. Quando eu como uma maçã, ninguém mais pode comer esta mesma maçã. O preço é calculado pela quantidade de maçãs em oferta e pelo custo de produção das que vão substituir as que foram comidas.
Já no caso da informação, eu posso consumi-la sem que outra pessoa dela fique privada. O fato de ler um jornal não significa que outras pessoas não possam também lê-lo. Esta característica diferencia fundamentalmente a informação porque ela não se esgota como o petróleo ou os grãos.
Porque ela não se esgota, os mecanismos de fixação de preços convencionais já não funcionam tão bem em casos como o do jornalismo, quando os sistemas de distribuição se tornam muito baratos. A oferta cresce e o preço cai para quase zero. Pode haver escassez de informação, mas aí não é a matéria-prima que está faltando e sim os sistemas de publicação.
Outra diferença fundamental é o fato da informação ser tanto um insumo como um resultado. Qualquer informação que nós recebemos é processada e passada adiante. Quanto mais informação consumirmos, mais informação será transmitida. Neste processo, cada informação recebe um valor agregado fruto de nossa experiência e conhecimento, o que a torna mais completa.
É o que os economistas chamam de “efeito sobre os ombros do gigante”, uma metáfora atribuída a Isaac Newton para mostrar como o conhecimento de uma pessoa sempre é construido sobre o conhecimento de outras. Sem esta cadeia de produção de conhecimentos não há inovação, e isso ocorre desde o surgimento do Homo Sapiens.
O “efeito sobre os ombros do gigante” nos leva a outra constatação crucial: toda a economia baseada na propriedade de direitos autorais passa a ser questionada, já que a cobrança de direitos freia a economia por encarecer a produção de inovações. E é aí que voltamos à questão da indústria jornalistica.
Os grandes jornais atuais foram criados a partir da ideia de que eles eram donos do conhecimento produzido por jornalistas pelo fato de serem proprietários das máquinas e serviços que publicam e transportam as edições impressas que contêm noticias.
Quando a inovação tecnológica criou os computadores e a internet, a publicação e distribuição de informações sofre uma mudança radical, que potencializou a importância da informação e da comunicação na sociedade contemporânea. A primeira consequência foi a crise do modelo de negócios na indústria jornalistica.
Assim, a busca de um novo modelo deve levar em conta as características da informação, que antes estavam dissimuladas pelo valor financeiro das máquinas e serviço de produção de notícias pelo reduzido número de empresas atuando neste setor econômico. Quem tentar ignorar este fato, só vai colher frustrações porque estará trabalhando com base em pressupostos fora da realidade.
Isso vale para as indústrias jornalísticas que estão tentando salvar os seus investimentos e que da noite para o dia perderam quase todo o valor, mas também para os novos empreendedores na área jornalistica. O dilema agora é entender a natureza da informação e como ela é capturada, processada e distribuída pelas pessoas. A era da industrialização da informação está acabando sem deixar saudades.
*Carlos Castilho é jornalista, já trabalhou nos principais veículos de comunicação do país. É mestre e doutorando em Mídia e Conhecimento pelo EGC/UFSC.
A valorização da informação como matéria-prima desenvolveu um novo modelo econômico que rompe com a hegemonia absoluta do mercado como definidor de preços e da propriedade privada como ferramenta básica para ingressar neste mercado. Nós estamos acostumados a raciocinar apenas em função de matérias-primas físicas, aquelas que a gente pode agarrar.
Essas matérias-primas, como o petróleo, grãos e minerais são diferentes da informação, em vários itens essenciais. Quando eu como uma maçã, ninguém mais pode comer esta mesma maçã. O preço é calculado pela quantidade de maçãs em oferta e pelo custo de produção das que vão substituir as que foram comidas.
Já no caso da informação, eu posso consumi-la sem que outra pessoa dela fique privada. O fato de ler um jornal não significa que outras pessoas não possam também lê-lo. Esta característica diferencia fundamentalmente a informação porque ela não se esgota como o petróleo ou os grãos.
Porque ela não se esgota, os mecanismos de fixação de preços convencionais já não funcionam tão bem em casos como o do jornalismo, quando os sistemas de distribuição se tornam muito baratos. A oferta cresce e o preço cai para quase zero. Pode haver escassez de informação, mas aí não é a matéria-prima que está faltando e sim os sistemas de publicação.
Outra diferença fundamental é o fato da informação ser tanto um insumo como um resultado. Qualquer informação que nós recebemos é processada e passada adiante. Quanto mais informação consumirmos, mais informação será transmitida. Neste processo, cada informação recebe um valor agregado fruto de nossa experiência e conhecimento, o que a torna mais completa.
É o que os economistas chamam de “efeito sobre os ombros do gigante”, uma metáfora atribuída a Isaac Newton para mostrar como o conhecimento de uma pessoa sempre é construido sobre o conhecimento de outras. Sem esta cadeia de produção de conhecimentos não há inovação, e isso ocorre desde o surgimento do Homo Sapiens.
O “efeito sobre os ombros do gigante” nos leva a outra constatação crucial: toda a economia baseada na propriedade de direitos autorais passa a ser questionada, já que a cobrança de direitos freia a economia por encarecer a produção de inovações. E é aí que voltamos à questão da indústria jornalistica.
Os grandes jornais atuais foram criados a partir da ideia de que eles eram donos do conhecimento produzido por jornalistas pelo fato de serem proprietários das máquinas e serviços que publicam e transportam as edições impressas que contêm noticias.
Quando a inovação tecnológica criou os computadores e a internet, a publicação e distribuição de informações sofre uma mudança radical, que potencializou a importância da informação e da comunicação na sociedade contemporânea. A primeira consequência foi a crise do modelo de negócios na indústria jornalistica.
Assim, a busca de um novo modelo deve levar em conta as características da informação, que antes estavam dissimuladas pelo valor financeiro das máquinas e serviço de produção de notícias pelo reduzido número de empresas atuando neste setor econômico. Quem tentar ignorar este fato, só vai colher frustrações porque estará trabalhando com base em pressupostos fora da realidade.
Isso vale para as indústrias jornalísticas que estão tentando salvar os seus investimentos e que da noite para o dia perderam quase todo o valor, mas também para os novos empreendedores na área jornalistica. O dilema agora é entender a natureza da informação e como ela é capturada, processada e distribuída pelas pessoas. A era da industrialização da informação está acabando sem deixar saudades.
*Carlos Castilho é jornalista, já trabalhou nos principais veículos de comunicação do país. É mestre e doutorando em Mídia e Conhecimento pelo EGC/UFSC.
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