Por riorevolta
Curioso o discurso – repetido à exaustão – em prol da tão propagada “liberdade de imprensa”: afinal, o que é e a quem serve essa imprensa no Brasil contemporâneo?
O que podemos chamar, sem sombra de dúvidas, de uma “imprensa livre”? Livre do que? Livre para que? Livre para quem?
A edição da “Revista” Veja de 21.04.2010 é mais um claro exemplo disso: afinal, a imprensa é “livre”, “neutra” e “imparcial” para informar?
A única coisa comprovadamente neutra da qual já tomei conhecimento é sabão. Fora isso, nada nem ninguém é neutro. Mídia, escritores, políticos, jornalistas, técnicos de futebol. Nada. Onde quer que existam seres humanos envolvidos, não há nem pode haver neutralidade. A razão é muito simples: cada ser humano tem suas experiências, expectativas, desejos, repulsas, valores, sua visão de mundo; não há nada que esse ser humano possa fazer – muito menos, pensar e escrever – que não sofra, de uma forma ou de outra, influências de sua personalidade, de seus gostos e desgostos. Não existe neutralidade: tudo que é escrito tem uma visão de mundo, expressa e oculta interesses. Inclusive isso que estou escrevendo aqui. Não se trata de escolher ser neutro ou imparcial; isso não existe. É um discurso que a mídia adota para legitimar-se; para dar a aparência de “verdade” ao que não passa de opinião.
Pois bem, uma vez adotada essa percepção, dar-se-á um fantástico passo no sentido de não se deixar ludibriar por qualquer tipo de “imprensa” – desde o “Inverta” dos comunistas (“comunistas”?) até o “Mídia sem Máscara” do Sr. Olavo de Carvalho – passando, é claro, pela “Veja” de José Serra.
Se conseguirmos substituir em nossa concepção a palavra “imprensa” por “discurso”, faremos então um trabalho ainda melhor à nossa mente – pois “imprensa” não passa de um discurso que, ao invés de falado, está impresso. E por via desse fantástico recurso criado pelo alemão Gutenberg no século XV, pode atingir uma audiência de massas. Então, teremos como resultado que, ao ler, ver e ouvir qualquer veículo midiático, devemos estar conscientes de que se trata de uma mensagem concebida dentro – e a favor – de uma visão de mundo.
Pois é exatamente assim que devemos olhar para a “Veja” – não só em sua “edição José Serra”, mas cotidianamente -; não se trata de uma revista, mas sim de um discurso, um panfleto. Tão panfletária quanto o mais famoso dos panfletos, o “Manifesto do Partido Comunista”; apenas, serve à uma outra causa.
A meiga foto da capa; a sutileza(?) do “Brasil pós-Lula”; a comovente frase – “me preparei a vida toda para ser presidente”; o conteúdo da reportagem (que poderá ser conferido no link abaixo). Compare com a edição “dedicada” à Dilma, algumas semanas antes.
“Imprensa livre?” Sim, a imprensa está livre: para escrever o que quiser, quando e como quiser; para manipular – através de palavras ou símbolos – como quiser; livre para ser tendenciosa; livre para dar por encerrados governos e eras – enquanto eles ainda estão aí; livre para decidir quais são os “candidatos importantes” nas eleições – afinal, os candidatos e seus projetos que estão na mídia lá aparecem porque são os candidatos eleitoralmente mais expressivos ou são os candidatos e projetos eleitoralmente mais expressivos porque aparecem na mídia?
“Imprensa livre”? Sim, a imprensa está livre – e a consciência está presa.
Jamais devemos permitir que outros pensem por nós. Mas essa é uma tentação muito cômoda, da qual é especialmente difícil fugir, pois pensar dá trabalho e causa sofrimento.
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