"Ela [a web] é mais uma tecnologia que pode ser usada para estabelecer um regime totalitário de espionagem, de contornos nunca vistos. Ou, por outro lado, se tomada por nós, se tomada por ativistas e por todos aqueles que querem uma trajectória diferente para o mundo tecnológico, pode ser algo que todos esperamos. "
Por Patrick Kingsley
[17 de março de 2011 - 18h00]
A internet é a "maior máquina de espionagem que o mundo jamais viu" e não é uma tecnologia que, necessariamente, favoreça a liberdade de expressão, afirmou o co-fundador da WikiLeaks Julian Assange, numa rara aparição pública.
Assange reconheceu que a web pode permitir uma maior transparência do governo e uma melhor cooperação entre os ativistas, mas disse que esta deu às as autoridades a melhor oportunidade de sempre de monitorizar e capturar dissidentes.
"Apesar de a internet ter, de certa forma, a capacidade de nos permitir o conhecimento, a um nível sem precedentes, do que o governo está a fazer, e de facilitar a cooperação para responsabilizar os governos repressivos e as sociedades repressivas, é também a maior máquina de espionagem que o mundo já viu ", disse aos estudantes da Universidade de Cambridge. Centenas fizeram fila durante horas para assistir à palestra.
Assange prosseguiu: "Ela [a web] não é uma tecnologia que favoreça a liberdade de expressão. Não é uma tecnologia que favoreça os direitos humanos. Não é uma tecnologia que favoreça a vida civil. É mais uma tecnologia que pode ser usada para estabelecer um regime totalitário de espionagem, de contornos nunca vistos. Ou, por outro lado, se tomada por nós, se tomada por ativistas e por todos aqueles que querem uma trajetória diferente para o mundo tecnológico, pode ser algo que todos esperamos. "
O co-fundador da WikiLeaks também sugeriu que o Facebook e o Twitter desempenharam um papel menos importante nos levantamentos no Médio Oriente do que o que foi antes argumentado pelos comentadores dos media sociais e pelos políticos.
Assange disse: "Sim, [o Twitter e o Facebook] tiveram um papel, embora nem de perto tão grande quanto a Al-Jazeera. Mas o guia elaborado pelos revolucionários egípcios... diz na primeira página: `Não usar o Facebook e o Twitter`, e diz na última página: `Não usar o Facebook e o Twitter`.”
"Há uma razão para isso. Havia realmente uma revolta no Facebook, no Cairo, há três ou quatro anos. Era muito pequena.. e o Facebook foi usado para perseguir os principais participantes. Foram espancados, presos e interrogados ".
Para Assange, os telegramas divulgados pela WikiLeaks desempenharam um papel fundamental para incentivar as sublevações no Médio Oriente e forçar o governo dos EUA a não apoiar o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak.
Assange disse que os telegramas diplomáticos sobre as atitudes dos EUA em relação ao antigo regime tunisino fortaleceram as forças revolucionárias em toda a região.
"Os telegramas da Tunísia mostraram claramente que, se se chegasse ao ponto de um conflito entre as forças armadas, por um lado, e o regime de Ben Ali, por outro lado, os EUA, provavelmente, apoiariam os militares".
E continuou: "Isso deve ter sido a causa de os países vizinhos da Tunísia pensarem: se houver intervenção militar, eles podem estar do mesmo lado que os Estados Unidos"
Assange, que fez um apelo contra a sua extradição para a Suécia por supostas acusações sexuais, disse que as divulgações da WikiLeaks também forçaram os EUA a abandonar o seu apoio tácito a Mubarak.
"A divulgação de telegramas sobre a aprovação de Mubarak aos métodos de tortura de Suleiman, impediu que Joseph Biden repetisse a sua afirmação anterior de que Mubarak não era um ditador. Não foi possível que Hillary Clinton publicamente saísse em apoio ao regime de Mubarak."
Respondendo a uma pergunta sobre Bradley Manning, o soldado dos EUA preso por supostamente divulgar informações confidenciais, Assange disse: "Nós não temos ideia se ele é uma das nossas fontes. Toda a nossa tecnologia foi preparada para assegurar que não sabemos."
O co-fundador da WikiLeaks expressou simpatia por Manning. "Ele está numa situação terrível. E se não está ligado a nós, [então] está lá como inocente... e se ele for de alguma forma ligado às nossas publicações, então é claro que temos alguma responsabilidade. Dito isto, não há qualquer alegação de que ele tenha sido preso por ter alguma coisa a ver connosco. A alegação é que ele foi preso por ter falado à revista Wired, nos Estados Unidos. "
Assange também criticou o New York Times, dizendo que este jornal suprimiu artigos sobre a atividade militar secreta americana no Afeganistão.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net.Foto de Espen Moe/Flick
Assange reconheceu que a web pode permitir uma maior transparência do governo e uma melhor cooperação entre os ativistas, mas disse que esta deu às as autoridades a melhor oportunidade de sempre de monitorizar e capturar dissidentes.
"Apesar de a internet ter, de certa forma, a capacidade de nos permitir o conhecimento, a um nível sem precedentes, do que o governo está a fazer, e de facilitar a cooperação para responsabilizar os governos repressivos e as sociedades repressivas, é também a maior máquina de espionagem que o mundo já viu ", disse aos estudantes da Universidade de Cambridge. Centenas fizeram fila durante horas para assistir à palestra.
Assange prosseguiu: "Ela [a web] não é uma tecnologia que favoreça a liberdade de expressão. Não é uma tecnologia que favoreça os direitos humanos. Não é uma tecnologia que favoreça a vida civil. É mais uma tecnologia que pode ser usada para estabelecer um regime totalitário de espionagem, de contornos nunca vistos. Ou, por outro lado, se tomada por nós, se tomada por ativistas e por todos aqueles que querem uma trajetória diferente para o mundo tecnológico, pode ser algo que todos esperamos. "
O co-fundador da WikiLeaks também sugeriu que o Facebook e o Twitter desempenharam um papel menos importante nos levantamentos no Médio Oriente do que o que foi antes argumentado pelos comentadores dos media sociais e pelos políticos.
Assange disse: "Sim, [o Twitter e o Facebook] tiveram um papel, embora nem de perto tão grande quanto a Al-Jazeera. Mas o guia elaborado pelos revolucionários egípcios... diz na primeira página: `Não usar o Facebook e o Twitter`, e diz na última página: `Não usar o Facebook e o Twitter`.”
"Há uma razão para isso. Havia realmente uma revolta no Facebook, no Cairo, há três ou quatro anos. Era muito pequena.. e o Facebook foi usado para perseguir os principais participantes. Foram espancados, presos e interrogados ".
Para Assange, os telegramas divulgados pela WikiLeaks desempenharam um papel fundamental para incentivar as sublevações no Médio Oriente e forçar o governo dos EUA a não apoiar o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak.
Assange disse que os telegramas diplomáticos sobre as atitudes dos EUA em relação ao antigo regime tunisino fortaleceram as forças revolucionárias em toda a região.
"Os telegramas da Tunísia mostraram claramente que, se se chegasse ao ponto de um conflito entre as forças armadas, por um lado, e o regime de Ben Ali, por outro lado, os EUA, provavelmente, apoiariam os militares".
E continuou: "Isso deve ter sido a causa de os países vizinhos da Tunísia pensarem: se houver intervenção militar, eles podem estar do mesmo lado que os Estados Unidos"
Assange, que fez um apelo contra a sua extradição para a Suécia por supostas acusações sexuais, disse que as divulgações da WikiLeaks também forçaram os EUA a abandonar o seu apoio tácito a Mubarak.
"A divulgação de telegramas sobre a aprovação de Mubarak aos métodos de tortura de Suleiman, impediu que Joseph Biden repetisse a sua afirmação anterior de que Mubarak não era um ditador. Não foi possível que Hillary Clinton publicamente saísse em apoio ao regime de Mubarak."
Respondendo a uma pergunta sobre Bradley Manning, o soldado dos EUA preso por supostamente divulgar informações confidenciais, Assange disse: "Nós não temos ideia se ele é uma das nossas fontes. Toda a nossa tecnologia foi preparada para assegurar que não sabemos."
O co-fundador da WikiLeaks expressou simpatia por Manning. "Ele está numa situação terrível. E se não está ligado a nós, [então] está lá como inocente... e se ele for de alguma forma ligado às nossas publicações, então é claro que temos alguma responsabilidade. Dito isto, não há qualquer alegação de que ele tenha sido preso por ter alguma coisa a ver connosco. A alegação é que ele foi preso por ter falado à revista Wired, nos Estados Unidos. "
Assange também criticou o New York Times, dizendo que este jornal suprimiu artigos sobre a atividade militar secreta americana no Afeganistão.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net.Foto de Espen Moe/Flick
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