Lembra do Romi-Isetta? E da Gurgel? Listamos 8 microcarros nacionais - Por Alexandre Carneiro 07/06/20 _ POR: uol
Se você acha o Volkswagen up! e o Fiat Mobi muito pequenos, saiba que veículos bem menores já foram fabricados no Brasil, por empresas locais
Pois o listão de hoje é sobre os microcarros feitos no Brasil. Eles esbanjavam criatividade e inovavam ao priorizar a praticidade de locomoção nos grandes centros urbanos. Então, confira a relação do AutoPapo com 8 desses curiosos veículos!
1. Romi Isetta
Um dos precursores da produção nacional de veículos é um microcarro! Lançado em setembro de 1956, só não é o pioneiro do país porque o Grupo Executivo da Indústria Automotiva (Geia), criado durante o governo de Juscelino Kubitscheck, concluiu que o modelo não era um automóvel. Motivo: tinha apenas uma porta, em posição frontal, e não dispunha de compartimento para bagagem.
O Romi-Isetta media apenas 2,29 m de comprimento e pesava 350 kg. Inicialmente, o motor de dois cilindros e dois tempos tinha 236 cm³ e gerava 9,5 cv de potência. Em 1959, veio uma unidade um pouco maior, de 298 cm³: com um só cilindro, mas já com quatro tempos, desenvolvia 13 cv.
O projeto não é brasileiro. Foi criado pela italiana Iso, que passou a comercializá-lo em 1953. Porém, a nacionalização ocorreu por iniciativa de uma empresa brasileira: as Indústrias Romi, que produziam ferramentas no interior de São Paulo, adquiriram os direitos de manufatura. Tinha apenas um banco, mas, segundo o fabricante, havia espaço para dois adultos e uma criança.
Aproximadamente 3.000 exemplares da Romi-Isetta foram produzidos no Brasil até 1961. Depois disso, as Indústrias Romi retiraram-se do mercado automotivo, mas permaneceram produzindo maquinário fabril.
2. Gurgel XEF
O XEF marca a entrada da Gurgel, que até então produzia somente jipes e utilitários, no mundo dos microcarros. O modelo estreou em 1983. Era pequeno, mas não popular: tinha interior bem-acabado alguns itens de luxo para os padrões da década de 80, entre os quais vidros elétricos e rodas de liga leve.
O comprimento de apenas 3,12 m do XEF não permitia a inclusão de um assento traseiro. Mas o modelo transportava três pessoas em dois bancos: o do passageiro era mais largo que o do motorista, para permitir a acomodação do ocupante adicional.
O projeto incluía chassi tubular, carroceria em fibra de vidro e motor traseiro Volkswagen, com 1.600 cm. Os 56 cv de potência sobravam para os cerca de 800 kg de peso do veículo.
A trajetória do XEF foi curta. Já em 1986, a Gurgel deixou de comercializá-lo. Consta que aproximadamente 200 unidades foram fabricadas ao longo desse período. Por isso, hoje, o modelo é uma verdadeira raridade no mercado.
3. Gurgel BR-800
O segundo e, talvez, mais famoso microcarro da marca brasileira foi lançado em 1988. O BR-800 era fruto do projeto Cena (acrônimo de Carro Econômico Nacional), idealizado pessoalmente por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel com o propósito de motorizar o país. A ideia era lançar um automóvel simples, acessível e de manutenção barata.
O nome fazia, simultaneamente, menção ao Brasil e à cilindrada de seu pequeno motor de 800 cm³, com dois cilindros e 32 cv de potência. Este, inclusive, era usinado pela própria Gurgel.
Assim como o antecessor XEF, o BR-800 tinha chassi tubular e carroceria em composto de fibra de vidro. O comprimento, de 3,19 m, era semelhante, mas havia espaço para quatro ocupantes, graças à presença de um banco traseiro.
Lançado em 1988, o BR-800 teve um desempenho comercial relativamente bom até 1990. Naquele ano, o governo passou a praticar uma alíquota de IPI mais baixa para veículos com motor de até 1 litro. A Fiat, então, logo lançou o Mille por um valor parelho ao do pequeno Gurgel. Em 1991, o microcarro saiu de linha, mas deixou um sucessor.
4. Gurgel Motomachine
Uma das ideias da Gurgel consistiu em misturar um carro com uma motocicleta. Nasceu então o Motomachine, uma das criações mais exóticas da empresa. Além das dimensões diminutas, o modelo chamava atenção pelas portas de acrílico.
Com um comprimento de apenas 2,85 m, o Motomachine, em tese, transportava quatro pessoas, incluindo o motorista. Mas o banco traseiro era suficiente, no máximo, para duas crianças.
O motor era o mesmo do BR-800, mas já entregava um pouquinho mais de potência: 34 cv. Eram suficientes para os pouco mais de 600 kg do modelo. O padrão de construção também seguia o dos demais microcarros da Gurgel.
No fim das contas, pouquíssimas unidades do Motomachine foram fabricadas: ao que se sabe, foram menos de 200 exemplares. Todos foram vendidos entre 1990 e 1992, preferencialmente para acionistas da Gurgel. Grande parte do projeto acabou sendo utilizado no Supermini, último produto comercializado pela empresa.
5. Gurgel Supermini
O último automóvel que a Gurgel fabricou no país simboliza o auge da experiência empresa com microcarros. Em relação ao BR-800, o Supermini trazia evoluções consistentes no acabamento. Nele, os vidros laterais desciam verticalmente (no antecessor, eram corrediços), e o porta-malas contava com tampa de acesso. Sem falar no design mais elaborado e agradável.
No motor bicilíndrico de 800cm³, alterações no projeto do cabeçote fizeram a potência chegar a 36 cv. E o interior ficou ligeiramente mais espaçoso devido a um acréscimo de 10 cm no entre-eixos, embora o comprimento tenha sido mantido em 3,19 m. Ainda era capaz, porém, de acomodar só quatro ocupantes. A carroceria seguia à base de composto de fibra de vidro.
Do ponto de vida comercial, o Supermini era um Davi lutando contra vários Golias. Quando foi lançado, em 1992, já tinha que disputar mercado com carros 1.0 nacionais e também importados. Em 1994, enfrentando sérias dificuldades financeiras, a Gurgel fechou as portas e entrou para a história.
6. Dacon 828
As linhas da carroceria, bastante originais e características, elaboradas pelo designer Anísio Campos, além do tamanho diminuto, com apenas 2,65 m de comprimento, são as marcas registradas do Dacon 828. É tão ousado que nem parece ter sido criado quase 40 anos atrás, mais especificamente em 1982.
As soluções de projeto do Dacon 828 eram tão interessantes quanto a aparência geral. Podia transportar três pessoas em um único banco, inteiriço. Sem assento traseiro, foi possível fazer um recorte na base das portas, para evitar que elas raspassem em guias de calçadas. A carroceria de fibra de vidro era suportada por um chassi Volkswagen encurtado.
Mecanicamente, entretanto, o 828 bebia de uma fonte segura. Era equipado com motor Volkswagen 1.600 a ar, posicionado na traseira. O lado bom é que os 65 cv de potência asseguravam bom desempenho ao carrinho, cuja massa corporal não chegava a 700 kg. A Dacon chegou a oferecer, literalmente, esse mesmo motor cortado ao meio, com dois cilindros e 800 cm³.
A produção foi até 1986. No início dos anos 2000, quase houve uma ressurreição, com o Obvio! 828, uma atualização do projeto. Ao contrário do original, porém, o modelo mais novo não chegou ao mercado.
7. Pag Nick
A partir de 1987, a Dacon passou a dedicar-se ao mercado de personalização de veículos. Mas a empresa ainda conceberia um outro minicarro: o Nick. O modelo chegou ao mercado em 1988 já com a marca da subdivisão Pag (iniciais de Projets d’AvantGarde Ltda), agora responsável pelos automóveis do grupo.
O Pag Nick utilizava a Saveiro como base. Faróis, para-brisa e portas vinham da picape, mas o restante era criação de Anísio Campos. Entre-eixos e balanço traseiro eram bastante encurtados, de modo que o comprimento atingia apenas 3,04 m.
O desempenho, contudo, era de carro grande. O motor Volkswagen AP-600, de 90 cv, empurrava com vontade os menos de 900 kg do microcarro. Algumas unidades chegaram a ser equipadas com motores 1.8 e 2.0, que o tornavam um verdadeiro pocket-rocket.
A trajetória do Nick foi intensa, mas curta. Em 1986, o modelo deixou o mercado, com menos de 150 unidades fabricadas. Era o fim do microcarro mais esportivo já feito no Brasil.
8. Emis Art
Geralmente lembrada pela produção de bugres, a carioca Emis chegou a aventurar-se com um microcarro. Batizado de Art, ele foi projetado pela Orto Design, que vendeu os direitos de fabricação em 1985. O carrinho chegou ao mercado em 1986 e logo ficou famoso, graças à participação na telenovela Cambalacho, produzida pela Rede Globo.
Como todo fora de série, o Emis Art utiliza peças de vários outros carros. Portas e para-brisa vinham do Chevrolet Chevette, enquanto o vidro traseiro era proveniente da perua da gama, a Marajó. O motor era o Volkswagen 1.600, praticamente um coringa para os fabricantes brasileiros. Mas o chassi, do tipo tubular, era próprio.
Com apenas 3,10 m de comprimento, o Art era um carro para duas pessoas, embora dispusesse de um pequeno banco traseiro. O lado bom é que, se não chegava a ser esportivo, tampouco deixava a desejar em performance. Afinal, os 52 cv de potência precisavam mover somente 730 kg.
A carreira do Art foi tão pequena quanto suas dimensões externas: deixou o mercado já em 1987, após a Emis ter fabricado 153 exemplares. No ano seguinte, a empresa carioca encerrou as atividades. Os projetos, então foram adquiridos pela gaúcha Emisul. O microcarro chegou a ganhar uma série de atualizações e a ser relançado com o nome de Minor. Foram montadas 23 unidades em menos de um ano.
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