OBSERVATÓRIO - Grupo da ONU reconhece racismo como problema estrutural da sociedade brasileira - Por Geledes - 12/09/2014
O Grupo de
Trabalho das Nações Unidas (ONU) sobre Afrodescendentes apontou na última
semana, ao encerrar visita de dez dias ao Brasil, um grande contraste entre a
precariedade da situação dos negros e o elevado crescimento econômico do país.
A comitiva das Nações Unidas esteve em cinco cidades, reuniu-se com autoridades
e representantes da sociedade civil, visitou favelas e quilombos.
Em comunicado à
imprensa, os especialistas da ONU destacaram que, entre negros e brancos,
existem desigualdades de acesso à educação, à Justiça, à segurança e a serviços
públicos.
O grupo identificou também racismo “nas estruturas de poder, nos
meios de comunicação e no setor privado”.
Segundo os representantes da ONU,
apesar de serem metade da população brasileira, os negros estão
“subrepresentados e invisíveis”.
“Os
afro-brasileiros não serão integralmente considerados cidadãos plenos sem uma
justa distribuição do poder econômico, político e cultural”, disseram a
francesa Mireille Fanon-Mendes-France e argelina Maya Sahli, integrantes do
grupo de trabalho ONU.
Elas apresentaram à imprensa conclusões preliminares,
que vão compor um relatório com recomendações ao governo brasileiro
Mireille e Maya
reconheceram o esforço do governo brasileiro para enfrentar o problema, citando
a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2010, depois de dez
anos de tramitação, e a decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF) em
relação às cotas nas universidades.
Outra ação elogiada foi o projeto de lei
que reserva vagas para negros no serviço público.
Para as
especialistas, no entanto, o caminho para o fim do racismo e da discriminação
pela cor de pele no Brasil é longo. “Não é que o governo não esteja fazendo o
suficiente. Ele faz o que é possível. A correlação de forças é que ruim”,
afirmou Mireille.
No projeto de lei
apresentado ao Congresso Nacional, o governo propõe que 20% das vagas dos
concursos públicos sejam reservadas para pretos e pardos. O projeto recebeu
emendas de deputados que sugeriram a reserva para 50% das vagas, com objetivo
de se aproximar do total de negros na população brasileira (50,7%) e para o
preenchimento de cargos em comissão.
O grupo da ONU,
que está no Brasil a convite do governo federal, passou por Brasília, Recife,
Salvador e São Paulo.
A viagem terminou no Rio e o relatório conclusivo será
apresentado no ano que vem.
Procurada
pela Agência Brasil, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir) não se pronunciou.
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